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Bebê capixaba é operado ainda no útero da mãe em São Paulo após descoberta de má formação

No dia 25 de março nascia Maria Liz, na maternidade do Vitória Apart Hospital. A neném ficou uma semana na UTI neonatal, recebendo tratamento especializado

Giovana e a filha Maria Liz Foto: Divulgação

Um bebê capixaba que apresentava má formação foi operado no útero da mãe em um hospital de São Paulo. A cirurgia aconteceu no dia 10 de fevereiro e no dia 25 de março Maria Liz nasceu em um hospital de Vitória. 

A fisioterapeuta Giovana Gonçalves Dias, de 36 anos, contou que quando na 25ª semana de gestação descobriu que seu bebê apresentava má formação chamada espinha bífida, que é uma abertura na base da coluna do feto que pode levar a paraplegia, incontinências e deficiência mental.

A neném ficou uma semana na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, recebendo tratamento especializado, pois era prematura e sua cicatriz na coluna devido à cirurgia ainda não estava totalmente fechada, o que é comum.

Giovana acompanha o desenvolvimento da menina. “Ela está ótima. Nasceu com todos os movimentos e reflexos perfeitos e a cicatriz da cirurgia na coluna está evoluindo bem”, disse.

A coordenadora médica da UTI pediátrica do Vitória Apart Hospital, Karina Cuzzuol, recorda que, por necessitarem de cuidados especiais, muitos dos bebês operados ainda no útero ficam internados ao nascer. Ela conta que quatro crianças que passaram por cirurgia intra-útero (três com o mesmo problema de Maria Liz e outra com hidrocefalia) já nasceram e ficaram internadas na unidade e todas evoluíram muito bem. A mais velha delas tem atualmente cerca de 8 anos.

“É muito importante que as grávidas tenham informação acerca dos tratamentos disponíveis para malformações congênitas ou outras complicações durante a gestação. As intervenções ainda no útero fazem com que as doenças sejam extintas ou que se manifestem de forma bem mais branda”, alerta a médica.  

A cirurgia de Maria Liz no útero de Giovana foi realizada pela ginecologista e obstetra e professora e pesquisadora da USP Denise Araújo Lapa Pedreira. A médica é criadora de técnica que corrige a malformação espinha bífida. A modalidade se enquadra na fetoscopia e as intervenções são feitas sem cortes profundos, apenas com a introdução de câmera de fibra ótica e instrumentos cirúrgicos no abdômen ou no útero materno, com perfurações de no máximo 5 milímetros.  

O método é mais seguro e menos invasivo do que a cirurgia convencional, a chamada “cirurgia a céu aberto”, que exige corte do útero. Isso tem feito com que médicos do exterior venham a São Paulo para aprendê-lo.

Segundo Denise, os bebês com espinha bífida quando tratados ainda no ventre da mãe têm o dobro de chances de andar no futuro e 50% menos probabilidade de ter que utilizar válvula para correção de hidrocefalia. A médica disse que por meio da fetoscopia é cada vez maior o número de enfermidades nos fetos que são tratadas ainda no útero. A espinha bífida (ou mielomeningocele) é a mais comum, seguida da síndrome de transfusão feto-fetal, que atinge de 15% a 20% de gêmeos que crescem em placenta única.

Gêmeos idênticos podem trocar sangue entre si devido a conexões da placenta e a cirurgia fetoscópica tem o objetivo de interromper essas conexões.

“É muito importante que grávidas de gêmeos de uma só placenta façam ultrassom com especialista em medicina fetal, que poderá detectar o problema e encaminhar para tratamento cirúrgico”, alerta. De acordo com a médica e pesquisadora, nos casos onde a intervenção não é feita o risco de morte dos dois bebês é de 90%, enquanto que quando ela é realizada as chances de que pelo menos um feto sobreviva é de 90%.

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