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Os novos líderes de opinião em tempos de Influência Digital

O projeto Conexão Folha Vitória visa parcerias com instituições de ensino e disponibiliza espaços para troca de experiências entre acadêmicos e profissionais da área jornalística. Nessa 1ª série de reportagens os alunos de comunicação da Faesa abordam temas que impactam o jornalismo atual.

Reportagem: Isabella Arruda - aluna 3º período

De acordo com o dicionário, influenciar é a "capacidade de ocasionar um resultado sobre algo ou alguém". Com a evolução observada nos meios de comunicação, até mesmo pelo advento das novas tecnologias de informação, plataformas diversas de interação servem como canais voltados ao público, capazes de gerar consequências nele, seja direcionando opiniões ou mesmo impulsionando o consumo.

A partir da ótica da produção de conteúdo para o meio virtual, surgem os influenciadores digitais. "Alguns anos atrás uma apresentadora que aparecia utilizando um creme corporal era capaz de influenciar pessoas a ponto de esgotar os estoques das lojas, hoje o mesmo efeito se dá quando um influenciador digital posta o mesmo creme no Instagram com o seguinte comentário: “amei”. 

Então, influenciadores digitais, são pessoas, personagens ou grupos que têm impacto nas redes sociais, seja para nichos específicos ou não. Esta influência se dá por identificação. Hoje cada um se deixa influenciar por quem se identifica, não há uma fórmula máxima", define a responsável pelo planejamento e operação da plataforma Spark, Patrícia Soares.

De acordo com o estudo das Teorias da Comunicação esta ótica faz absoluto sentido. Ao tratar de influência de forma técnica é possível explicar o fenômeno da comunicação por meio dos vários contextos sociais em que se inserem os indivíduos, sendo que para cada nicho específico haveria um mediador, ou líder de opinião, capaz de "filtrar" as mensagens emanadas pelos meios e de transmiti-las ao público.

Este público então, a depender do grupo social a que pertence, poderá ser ou não influenciado pelo líder correspondente, que, atualmente, pode exercer esta liderança nas redes sociais. "O fluxo de comunicação que acontece nas redes sociais entre os influenciadores e os seus seguidores pode ser comparado à Teoria Empírica de Campo, por meio da qual o modelo de comunicação se dá em duas etapas a partir de um líder de opinião, sendo que a diferença para o influenciador digital é que o ele surge como uma pessoa comum capaz de influenciar pela postagem de conteúdos considerados relevantes", comenta Marilene Mattos, doutora e professora de Jornalismo da Faesa Centro Universitário.

Novas plataformas

Do crescimento da popularidade de blogueiros, youtubers e produtores de conteúdo em geral, as empresas começaram a enxergar neles uma nova possibilidade de atingir o mercado consumidor. A partir daí surgiram também novos instrumentos que são capazes de aproximar os influenciadores digitais, dos vários ramos de atuação, às empresas interessadas nos serviços por eles prestados. Dentre estas plataformas, foi então criada a Spark, que já conta com mais de 400 cadastrados no Espírito Santo.

A ferramenta se utiliza de métricas que levam em consideração a proporção do engajamento dos perfis dos influenciadores, quantificando os valores ideais para cobrança por serviços de divulgação em suas redes sociais. "Nós da Spark Vitória temos uma frase que nos define, “somos a ponte que liga os melhores influenciadores às grandes marcas” e esta é nossa missão, pois através de nossa plataforma podemos identificar os melhores influenciadores para cada target e temos acesso a dados demográficos que nos auxiliam na construção assertiva do casting", complementa Patrícia Soares.

Uma distinção importante a se fazer é a de que um grande número de seguidores nem sempre se traduz em engajamento real, o que acarreta na preocupação de anunciantes que contratam influenciadores. "Com a onda crescente de fake followers, que são os falsos seguidores, fazedores de likes e coisas desse tipo, de forma alguma a quantidade de seguidor se traduz em engajamento e interação. Inclusive, quanto menor o número de seguidores, maior é o engajamento dos canais. Existem pesquisas e estudos que já comprovam isso. Por isso que hoje se trabalha tanto com micro-influenciadores em vez de influenciadores de massa", esclarece o especialista em marketing digital, Fernando Mendes.

Aqui no Estado os influenciadores de maior destaque, seja por quantidade de seguidores ou mesmo pela interação que promovem, são: Nanda Portella (315 mil seguidores), Jess Dantas (202 mil seguidores), Hallison Campos (32,8 mil seguidores), Ana Clara Benevides (80,8 mil seguidores), Danilo Leonel (50 mil seguidores), Luisa Meirelles (79,2 mil seguidores), Aline Dias (do blog AlineApproves, com 27,7 mil seguidores), Aline Zanardo (do blog Rockthistown, com 34 mil seguidores), Roberta Leite (38,3 mil seguidores), entre outros.

No Brasil, nomes como Whindersson Nunes, apontado como maior influenciador do país pela Folha de São Paulo, com mais de 28 milhões de inscritos no Youtube, Felipe Neto, que conta com mais de 20 milhões de inscritos, Kéfera Buchmann, que é hoje a mulher youtuber mais seguida (com mais de 11 milhões de inscritos) e Gabriela Pugliesi (com quase quatro milhões de seguidores no Instagram), conhecida por ser influenciadora fitness e de alimentação saudável, figuram entre os principais digital influencers.

O jornalista pode ser um influenciador?

No tocante à função específica do Jornalista, que muitas vezes acaba sendo reconhecido como um formador de opinião pelo público, ganhando notoriedade e fama, resta a dúvida sobre a possibilidade de associação do seu papel à influência nas redes. Afinal, muitos são os exemplos de jornalistas que são também vistos como verdadeiras celebridades.

Apresentadores como Pedro Bial, Fátima Bernardes, José Luis Datena e Amaro Neto, além de tantos outros, já ganharam identificação com o público que ultrapassa as barreiras da tela da televisão. "O Jornalista é um influenciador e um formador de opinião, mas prioritariamente é um 'informador'. É alguém que informa com objetividade, clareza, com apuração dos fatos, seja para o impresso, seja para o jornal online ou para a TV ou para qualquer veículo. O jornalista tem como premissa trabalhar com a veracidade antes de passar à frente. A diferença do Jornalista, nesse caso, é que ele se cerca de informação para influenciar seu leitor ou seu seguidor", esclarece Evelize Calmon, jornalista e blogueira que produz conteúdo gastronômico aliando dicas de "onde comer" ao conteúdo informativo.

Quando questionada sobre como distinguir sua atuação enquanto jornalista do seu trabalho com o blog, Evelize acrescenta que "meu trabalho jornalístico no momento é feito pelo rádio, em uma coluna chamada Comer e Contar, que é uma extensão do meu hobbie, que é o blog. Mas seguindo as premissas do Jornalismo, busco informar tudo o que eu acho importante, só que com um pouco mais de opinião, por ser algo pessoal, pelo qual não sou remunerada. Eu não comercializo este conteúdo, vou a lugares e pago para visitá-los. Se sou convidada, comento apenas se eu gostar do prato, se eu não gostar, não falo nada. Não estou ali para ser crítica gastronômica, levo um serviço para as pessoas".

Já para a doutora em Jornalismo, Marilene Mattos, nem todos os comunicadores exercem influência sobre o público. "Alguns jornalistas são influenciadores. São pessoas que têm vários seguidores nas redes sociais. Eles são importantes atores sociais, porque construíram o que chamamos de capital social. Temos como exemplo os jornalistas que têm blogs publicados por importantes portais de notícias de empresas de comunicação. Para as empresas é relevante ter estes blogs em seus sites ou portais pela credibilidade do comunicador e envolvimento dos seguidores".

Hoje existem inclusive casos de profissionais do Jornalismo que deixam suas carreiras para seguirem como influenciadores no meio digital. "A maioria dos jornalistas, em especial os que têm maior visibilidade com telejornais e os apresentadores, geralmente têm mais seguidores que os próprios canais ou programas que eles apresentam. Influencer é na verdade o nome 'gourmetizado' do formador de opinião, porque não há muita diferença na sua função, o que mudou na verdade foi o veículo. Quando seus canais se tornam maiores, alguns largam mesmo a carreira para viver do meio digital, como foi o caso do Evaristo Costa", finaliza o jornalista Fernando Mendes.


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