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Com falta de insumos para exame de covid-19 no ES, 3 mil amostras são encaminhadas para o Paraná

Em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira, subsecretário Luiz Carlos Reblin disse que a expectativa do governo é que os resultados desses testes cheguem ao Espírito Santo no início da próxima semana

Foto: Divulgação

A falta de reagentes dos testes de biologia molecular tem provocado atraso nas análises realizadas pelo Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen-ES) para diagnóstico da covid-19. Cerca de 3,1 mil amostras aguardavam processamento até o final desta quinta-feira (28).

Essas amostras serão analisadas por um laboratório do Paraná. Elas deveriam ter sido enviadas no início da semana, mas só foram levadas nesta quinta. O atraso fez com a que a demanda reprimida aumentasse. Na última segunda-feira (25), 2,6 mil amostras estavam na fila para análise.

"Temos a dificuldade da oferta de um dos componentes do processo de testagem, que é o kit de extração, o que levou há pouco mais de três semanas a um atraso na entrega dos exames do Lacen. O que nós fizemos foi priorizar os exames do Hospital Jayme Santos Neves, do Dório Silva, do Hospital Central, de grandes hospitais de referência, para que esses exames dos pacientes graves não tivessem atrasos", afirmou o secretário de Saúde do Estado, Nésio Fernandes.

Segundo o subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, os resultados desses testes que foram encaminhados ao Paraná devem chegar no início da próxima semana.

"Numa articulação da Secretaria Estadual do Espírito Santo, através do Ministério da Saúde, esse material foi encaminhado nesta semana para o Paraná e estamos aguardando a informação do Paraná para a liberação desses resultados. Acreditamos que no início da semana que vem nós tenhamos essa informação por parte do laboratório do Paraná. Então, depois da normalização desse insumo, retornamos, no Lacen, ao procedimento para aqueles casos emergenciais, como pacientes internados e óbitos, para um prazo bem curto, e para as outras situações, um prazo de 24 a 36 horas para liberação", afirmou Reblin durante uma coletiva de imprensa, nesta sexta-feira.

No último dia 21, a reportagem da TV Vitória/Record TV mostrou que 3 mil amostras aguardavam processamento no Lacen. Apesar do esforço, esse número acabou superado. "É triste para nós. É angustiante ficar ali aguardando, porque o médico pode tratar a patologia certa do paciente, e ele fica ali impedido e a família angustiada por causa da demora desse resultado do exame", afirmou Roselene Correia Resende, cujo marido está internado com suspeita de covid-19 e aguarda o resultado dos exames há nove dias.

Quem também tem sofrido com a demora na realização dos testes é a estudante Ana Clara Borges, de 21 anos, que está com suspeita de infecção pelo novo coronavírus. Agora recuperada, ela conta que três semanas já se passaram desde que ela, que tem baixa imunidade, começou a sentir os sintomas da doença. "Comecei a apresentar tosse seca, muita dor no tórax, cansaço. Às vezes eu sentia falta de ar, então eu tive que passar a fazer nebulização todos os dias".

Após buscar atendimento no PA da Praia do Suá, em Vitória, Ana Clara fez o teste para saber se havia sido infectada pelo novo coronavírus, no último dia 10. No entanto, conta que ainda não recebeu o resultado.

"Esse atraso traz uma grande preocupação, porque pode ser que ele dê negativo. Mas se ele der positivo, eu precisaria o mais rápido possível, para iniciar o tratamento. Porque quanto mais a gente fica esperando esse resultado, mais a gente se agrava. E aí fica complicado, porque quando você já apresenta os sintomas graves e você vai para um hospital, às vezes não tem lugar para todo mundo", destacou a estudante.

Problemas na ocupação de leitos

A dúvida sobre o resultado dos exames não causa angústia somente para pacientes e familiares. A enfermeira e epidemiologista Ethel Maciel afirma que a demora na divulgação dos resultados faz com que leitos exclusivos para covid-19 permaneçam ocupados por pacientes suspeitos.

"Se eu tenho um paciente que chega, ele não tem o teste realizado, eu peço o teste, ele ocupa um leito, e ele pode, dependendo da estrutura do hospital, ocupar o leito dele e impedir que outros ocupem. Porque como ele é um suspeito, ainda não tenho certeza. Eu não posso colocar alguém confirmado com ele e eu não posso colocar alguém que também é suspeito, porque eu também não sei o resultado. Então uma pessoa ocupa um leito, mas pode fechar mais de um leito", ressaltou.

Já o também infectologista Crispim Cerutti vai além. Ele afirma que a demora na testagem do grupo prioritário, ou seja, pacientes graves e maiores de 45 anos com comorbidades, provoca dificuldade no planejamento de ações de enfrentamento à pandemia.

"Se existe represamento, quer dizer, as pessoas estão chegando com suspeita, colhem o exame, mas não há um retorno do resultado em tempo adequado, você não consegue ter uma visão clara de como a curva está se comportando. E não dá para estimar as necessidades de logística de assistência à saúde", frisou.

Atualmente, o Lacen recebe entre 630 e 750 amostras todos os dias. Havendo os reagentes necessários, poderia processar até mil exames. Sem eles, os mais de 160 mil testes disponíveis para aplicação não podem ser analisados. "É preocupante. Todos nós precisamos dessa rapidez", afirmou Ana Clara.

A produção da TV Vitória pergunto à Secretaria de Estado da Saúde se há reagentes disponíveis no Lacen, mas não houve resposta até o fechamento da reportagem. 

Para Ethel Maciel, no Painel Covid-19 o número de infectados confirmados está longe da realidade. "Nós estamos acelerando. Então, o que está acontecendo de fato — e que o painel público não reflete isso — é que nós estamos com uma taxa de contaminação alta. Nós estamos com muitas pessoas sendo infectadas e muitas pessoas internadas neste momento e evoluindo para uma gravidade, precisando de UTI. Isso não vai acabar em junho ou julho. Nós vamos ter que conviver com essa pandemia um pouco mais do que nós pensávamos no início", destacou a infectologista.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV 



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