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Aula presencial e online no ES: como garantir a qualidade da educação na pandemia?

Passado mais de um ano da pandemia da covid-19 e com o ensino remoto, pais e professores ainda tentam se adaptar às novas rotinas; com a autorização de aulas presenciais na próxima semana, outras mudanças virão

Foto: Reprodução/Facebook

Depois de muitas aulas virtuais, as gêmeas Bruna e Bianca Falchetto, de 7 anos, conseguiram finalmente rever os amigos. Elas moram em Venda Nova do Imigrante, na Região Serrana do Estado, onde as aulas presenciais voltaram no dia 26 de abril. Apesar do empenho dos pais, elas precisaram se acostumar com mais uma mudança na rotina; o reforço escolar. 

Uma realidade que pode afetar muitos estudantes com a retomada das aulas presenciais em todo o Estado a partir da próxima semana.

As irmãs, que completaram a educação infantil, e estão na fase de alfabetização em plena pandemia, entraram para o 2º ano do ensino fundamental neste ano. E, assim como grande parte das crianças e adolescentes, tiveram dificuldade em acompanhar as aulas online e assimilar todo o aprendizado.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Manuela com os filhos Gabriel, Bruna e Bianca
"O ensino remoto trouxe novos conhecimentos para eles, porém em matéria de aprendizado foi bastante prejudicial, pois mesmo com todo cuidado e comprometimento da escola é difícil para as crianças assimilarem tantas informações e novidades para essa faixa etária. Minhas filhas não tiveram grandes avanços, acredito que o presencial para elas teria feito muita diferença. Por um curto período eles assistiam as aulas particulares, mas não se concentravam como quando estão na presença de um professor", avalia a bancária Manuela Caliman Falchetto, mãe do Gabriel e das gêmeas Bruna e Bianca, alunos dos 6º e 2º anos, da Cooperativa Regional de Educação e Cultura (Coopeducar), de Venda Nova do Imigrante.

De acordo com o diretor da Coopeducar, José Adelson Viçosi, quando foi liberado o retorno das aulas presenciais em Venda Nova, a escola deu a opção dos pais escolherem se queriam as aulas presenciais ou continuar no remoto. No entanto, a maioria optou em voltar com os filhos para as salas de aula.

"De mais de 200 alunos, apenas sete ficaram no ensino remoto. Trabalhamos até o dia 18 de março de forma presencial. Cumprimos a quarentena proposta pelo Governo e retornamos novamente no dia 26 de abril com as aulas presenciais. As crianças e os adolescentes precisam vir para a escola, havia um cansaço muito grande e um stress que só a convivência escolar pode quebrar", ressaltou Adelson.
Foto: Reprodução/Facebook
Alunos da Coopeducar, de Venda Nova do Imigrante, já em aula presencial

Foi um ano, completado em março, desde que as aulas presenciais foram suspensas e as escolas fechadas para conter a pandemia do coronavírus. O que parecia ser algo temporário - algumas escolas chegaram a voltar com as aulas presenciais neste período - se estendeu por um ano letivo inteiro e os recordes de casos e mortes trazem incertezas sobre como será em 2021.

VOLTA ÀS AULAS

Expectativas e dúvidas rondam pais, professores e alunos em todo o país. Como repor todo o conteúdo que não foi assimilado nas aulas remotas? E a conexão com a escola, ela se perdeu? São muitos os questionamentos, alguns, até podem ser respondidos no retorno ao ambiente escolar. Outros, vão exigir um pouco mais de atenção, paciência e acolhimento.

"Perda de privacidade, necessidade de adaptação tecnológica muito rápida, sobrecarga de funções e inversões de papéis. É preciso enxergar essas sequelas que estão diante dos nossos olhos. Sequelas físicas e sociais. A gente precisa estar preparado e discutir, planejar, estar pronto para, no dia em que for possível, retomar as atividades presenciais", ressalta a psicopedagoga e professora mestre em Educacao Letícia Regina Souza, da Faculdade Estácio de Sá.

Se o suporte da mudança foi a internet, o episódio não se restringiu a uma revolução digital. Houve uma transformação comportamental dos professores para não perder a conexão com os alunos e manter o aprendizado, assim como também foi necessária a adaptação dos pais. 

A professora aposentada, Edna Gonçalves, mãe do João Paulo, aluno o 8º ano da Cooperativa Educacional (Coopem) de Muqui, região do Sul Estado, sentiu a queda no aprendizado do filho durante o ensino remoto. 

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

"Estar presente e participando de todo o processo que envolve o formato presencial, como o apoio pedagógico, as interações sociais e o contato com profissionais da educação, faz sim, toda a diferença. Sentimos isso aqui em casa, tanto que precisamos recorrer a ajuda de um professor particular para que nosso filho acompanhasse todo o conteúdo", conta Edna

A diretora pedagógica da Coopem, Michelli  Schiavo, reforça que mesmo com todo empenho nas aulas remotas, nada é capaz de substituir as aulas presenciais. 

"As ferramentas tecnológicas são importantíssimas neste momento e estamos em contato constante e participativo, porém, a educação acontece por meio das relações, da interação. Elas podem até ser um braço que auxilia o professor, mas jamais tirar o papel fundamental do educador".

HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS

Além dos conhecimentos necessários para lidar com a tecnologia, a pandemia trouxe também a necessidade de se olhar para habilidades socioemocionais, cujo ensino está previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que estabelece o que deve ser ofertado em todas as escolas do país. São habilidades como persistência, assertividade, empatia, autoconfiança e tolerância a frustração.

Dar atenção e desenvolver as habilidades socioemocionais dos alunos fazem parte das ações desenvolvidas na Escola Americana de Vitória (EAV), tanto remotamente como nas aulas presenciais. De acordo com a psicóloga da unidade, Beatriz Lavor, essa atenção é ainda mais importante no momento que o mundo enfrenta.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Rodrigo e Martina, alunos da EAV

O empresário Rodrigo Abelha, pai do Rodrigo, de 4 anos, e Martina, de 2 anos, os dois alunos da EAV, afirma sentir essa atenção diferenciada da escola durante esse período de aulas remotas, mas reforça que ela ainda não supera o contato presencial.

"Na minha opinião, o contato presencial é chave para a sociabilidade, convivência, imposição de limites, entre vários outros fatores que fazem parte do processo de educação. Entendemos que a volta total à escola deve ser feita de forma controlada, organizada e seguindo todos os cuidados para evitar a contaminação do coronavírus", pondera o empresário. 

 São muitas as incertezas na educação, o que é fato é que a volta às aulas presenciais, em um cenário atípico, exigirá uma adaptação das escolas. As mudanças não têm relação apenas com a contenção da pandemia e segurança com a saúde, mas também devem considerar o acolhimento e o desempenho dos alunos.

Confira o vídeo com orientação quanto a volta às aulas:

CONSEQUÊNCIAS 

Para a Unesco, o fechamento das escolas acarreta altos custos sociais e econômicos para as pessoas nas diferentes comunidades. O impacto, porém, é particularmente grave para os meninos e as meninas mais vulneráveis. Entre os aspectos mais impactantes estão: a interrupção da aprendizagem; má nutrição (muitas crianças e jovens dependem das refeições gratuitas fornecidas pelas escolas); confusão e estresse para professores; aumento das taxas de abandono escolar e principalmente, 

Para a lsicopedagoga e professora mestre em Educação da Faculdade Estacio de Sá Leticia Regina Souza grande desafio da retomada as atividades de ensino presenciais neste momento inicial, será a garantia do cumprimento das medidas qualificadas em favor da vida.

"Destaco que os processos de aprendizagens eles acontecem cada qual em seu tempo, logo aprendemos com a pandemia a importância das relações para o desenvolvimento humano. Desta maneira, gradativamente estaremos junto a todos que participam direta ou indiretamente da comunidade escolar, traçando a melhor maneira de fazer a educação acontecer."

PRODUTIVIDADE DOS ALUNOS

Para que os pais, responsáveis e alunos ajudem na rotina de estudos produtiva e que não seja desgastante, especialistas dão dicas:

- Local e horário fixos: o nosso cérebro trabalha por associações. Ao estabelecer o mesmo horário e um local fixo de estudo, o nosso cérebro trabalhará em nosso favor, aumentando a concentração.

- Estabelecer metas de curto e longo prazos: ao criar a sua rotina de estudos, o aluno deve estabelecer metas, se planejando a longo prazo e priorizando as tarefas com prazos mais curtos.

- Prestar atenção ao horário de estudo: É importante que a rotina de estudo aconteça em horários não muito após a volta para casa. Dessa forma, o conteúdo ainda estará "fresco" na memória, o que aumentará a produtividade.

- Qualidade e não quantidade: o que importa é a qualidade do estudo, seja ele por 30 minutos ou mais.

- Evitar distrações: Aparelhos celulares, tablets ou outros dispositivos eletrônicos podem atrapalhar durante este momento. O ideal é evitar o uso destes dispositivos. A não ser que se utilize o dispositivo como uma ferramenta de aprendizagem. 

- Fazer pausas controladas: Fazer pequenas pausas durante o momento de estudo pode ser benéfico para aqueles que passam muitas horas estudando, ou ainda aqueles que possuem dificuldade de concentração. 

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