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Falta de medicamentos pode afetar retomada de cirurgias eletivas no Espírito Santo

O alerta foi feito pelo presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado, que disse ainda que há pacientes na fila para a realização de um procedimento desde antes da pandemia

Foto: Reprodução/Pexels

Depois de mais de um mês suspensas, em função do agravamento da pandemia da covid-19 no Espírito Santo, as cirurgias eletivas consideradas não essenciais serão retomadas na primeira quinzena de maio no estado. O retorno dos procedimentos foi anunciado pelo secretário estadual de saúde, Nésio Fernandes, na segunda-feira (03).

Segundo o secretário, o Estado já está organizando, junto com os municípios, a retomada das cirurgias. "Nós já estamos chamando os pacientes para realizarem cirurgias eletivas não essenciais. Lembrando que não foram todas as cirurgias eletivas canceladas. Foram as não essenciais, aquelas que poderiam esperar até 90 dias para a sua realização: serviço de oftalmologia, serviço de cirurgia geral. Já estamos, então, organizando o acesso com os municípios, via regulação do Estado, para que a população seja operada, tanto nos hospitais próprios quanto nos filantrópicos, que participam do Sistema Único de Saúde", frisou Fernandes.

As cirurgias eletivas foram suspensas por duas vezes no Espírito Santo. A primeira foi em 2020 e durou seis meses. No dia 18 de março foi anunciada mais uma proibição. A suspensão desses procedimentos, a princípio, terminaria no dia 20 de abril, mas foi prorrogada até o último dia 30.

No entanto, um problema recorrente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) que tratam exclusivamente de pacientes infectados com o novo coronavírus pode afetar o reinício das cirurgias eletivas no estado.

O presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado do Espírito Santo (FEHOFES), Fabrício Gaeed, alerta para a falta de medicamentos necessários para algumas etapas dessas cirurgias. Segundo ele, a escassez no mercado de alguns medicamentos necessários para a intubação de pacientes com a covid-19, como sedativos e bloqueadores musculares, pode dificultar o retorno das cirurgias.

"Nós ainda temos alguma dificuldade desses itens em estoque. Os hospitais estão conseguindo adquirir em mercado interno e também fazendo importação. Acreditamos que nos próximos 20 dias essa situação esteja mais controlada, mas, infelizmente, ainda impacta no retorno desses procedimentos", afirmou.

Longa espera

Gaeed ressalta ainda que, nas santas casas e hospitais filantrópicos do Espírito Santo, já existem pacientes aguardando esses procedimentos desde antes da pandemia, ou seja, há mais de um ano. Ele, no entanto, não precisou o tamanho da fila nessas unidades.

"Obviamente a prioridade agora serão aqueles pacientes que ficaram acumulados, que já estavam com os seus preparativos cirúrgicos prontos e vão ser trabalhados como prioridade. Logo após, nós vamos dar seguimento aos outros pacientes, aqueles que vão entrar no sistema, para operar em seguida, seguindo a fila de espera", explicou.

Uma dessas pessoas que aguardam uma cirurgia há mais de um ano é a empregada doméstica Genilda Vieira dos Santos, de 46 anos. Moradora de Vila Garrido, em Vila Velha, ela conta que, diariamente, precisa tomar uma série de remédios contra dores causadas por um problema no útero, que começaram em agosto de 2019. Por causa do problema, ela diz que mal consegue sair de casa.

"É o tempo inteiro com dor. Sem contar que a gente fica muito nervoso, irritado, porque a gente vai no hospital e não consegue o que quer. Isso é uma dor que não passa com remédio. Só com cirurgia. É muito tempo de sofrimento", lamenta.

A filha de dona Genilda, a dona de casa Mônica dos Santos Souza, segue na luta para conseguir uma cirurgia de retirada do útero da mãe. Ela conta que a cirurgia foi solicitada em janeiro de 2020, por médicos da Santa Casa de Vitória, mas até hoje o procedimento não foi realizado.

"Estamos aqui com os papéis. Eu já estou cansada de levar ela naquele hospital e só darem remédio, mandarem vir para casa e não resolverem nada", protestou.

Com a disseminação da covid-19, mãe e filha viram as chances de conseguir a cirurgia diminuírem cada vez mais. Entretanto, com a retomada dos procedimentos no estado, dona Genilda aguarda ansiosamente pela realização da cirurgia. 

Enquanto isso, a filha dela afirma que não consegue nem agendar consultas para o acompanhamento da mãe. Diante dessa situação, a sensação que a família tem é de completo abandono. "Eu já não sei mais o que fazer. A quem procurar ajuda", lamentou Mônica.

Por meio de nota, a Santa Casa de Vitória informou que a paciente não está desassistida e que foi atendida em outras ocasiões durante a pandemia. O hospital disse também que os agendamentos para novas consultas já foram retomados e devem ser feitos por telefone na central de marcações.

* Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV.

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