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Quase 78 mil alunos deixaram de estudar no ES durante a pandemia

Estudo realizado pela Unicef com dados de 2020 aponta que o Brasil corre o risco de regredir mais de duas décadas no acesso de meninas e meninos à educação

Foto: Reprodução / Pexels

Um estudo divulgado recentemente pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou que a desigualdade e a exclusão, agravadas pela pandemia da covid-19, fez com que um total de 77.967 estudantes, com idades entre 6 e 17 anos, parassem de estudar no Espírito Santo em 2020. 

Os dados referentes aos alunos capixabas representam 11,1% de um total de mais de 700 mil. De acordo com o documento, as escolas fechadas excluíram quem já estava distante de seu direito de aprender. 

"Aqueles que estavam matriculados, mas tinham menos condições de se manter aprendendo em casa – seja por falta de acesso à internet, pelo agravamento da situação de pobreza e outros fatores – acabaram tendo seu direito à educação negado", cita parte do texto.

A Unicef relata que o Brasil vinha avançando, lentamente, na garantia do acesso das crianças e adolescentes à Educação. De 2016 até 2019, o percentual de meninas e meninos de 4 a 17 anos na escola seguia em crescimento no País. No entanto, em 2019, eram quase 1,1 milhão de crianças e adolescentes em idade escolar obrigatória fora da escola no Brasil. A maioria deles, crianças de 4 e 5 anos e adolescentes de 15 a 17 anos.

No Espírito Santo, a população escolar daquele ano, entre 4 e 17 anos, era de  778.838. Deste número, o quantitativo que não frequentava a escola era de 20.926, representando uma taxa de 2,7%, número 8,4% menor que o ano seguinte, afetado pela pandemia.

A nível nacional, em novembro do ano passado, mais de 5 milhões da população de 6 a 17 anos não tinham acesso à educação no Brasil. Sendo mais de 40% de crianças de 6 a 10 anos. Para a Unicef, os números são alarmantes e trazem um alerta: "o País corre o risco de regredir mais de duas décadas no acesso de meninas e meninos à educação. É urgente reabrir as escolas em segurança e tomar todas as medidas necessárias para garantir o direito de aprender".

A coordenadora do escritório da Unicef do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, Immaculada Lopez Prieto, explica que no Brasil e, em especial o estado capixaba, de 2016 até 2019 era possível observar uma tendência na redução da exclusão escolar. Segundo ela, no ES, em 2019, tinham 20.926 mil alunos de 14 a 16 anos fora da escola. 

Porém, a pandemia de covid-19 trouxe a problemática que, ao olhar os dados da PNAD covid 2020, é possível identificar que não só as crianças estão sem matrícula, mas crianças que mesmo matriculadas não tiveram acesso as atividades escolares. 

"Esse número passa a ser um total de quase 78 mil alunos entre 6 a 17 anos sem acesso a educação durante a pandemia" alertou Immaculada.

Principais motivos para evasão escolar 

Para além dos motivos que a pandemia do novo coronavírus trouxe, Immaculada destaca que outras razões, já conhecidas, contribuem para que cada vez mais as crianças e adolescentes fiquem foram das salas de aulas.  

"A necessidade de começar a trabalhar, no caso das meninas, uma situação de gravidez na adolescência ou ainda no caso das crianças mais novas, a falta de uma vaga. Uma não decisão da família de não matricular as crianças mais novas", pontuou ela. 

Para ela, a crise sanitária somada à crise econômica contribui ainda mais para o problema da evasão. "A crise econômica impactou as famílias, levando principalmente adolescentes a priorizarem a atividade de trabalho, afetando a vida escolar" completou. 

Segundo Immaculada, há no Brasil quase 5 milhões de crianças e adolescentes sem acesso a educação. E que esse número pode levar o país a regredir em duas décadas o avanço na educação.

"Esses números nos devolvem uma situação de 20 anos atrás. Então se a gente vinha avançando no enfrentamento da exclusão escolar, a pandemia nos coloca nesse desafio gigante para a gente não retroceder". 

Immaculada defende que o ambiente escolar precisar ser o primeiro reaberto e o último a ser fechado nos momento de picos pandêmicos. Principalmente, segundo ela,  porque o Brasil foi um dos primeiros países que mais prolongou o fechamento e, demorou em apresentar alternativas de conectividade para as aulas em sistema online. 

O problema, de acordo com ela, afeta ainda mais crianças negras e indígenas, da área rural e, principalmente, as crianças mais pobres. "É importante perceber quem são as crianças que estão fora do acesso a educação na pandemia e que não foram todas atingidas da mesma forma", finalizou. 

Unicef recomenda comprometimento com a Educação

Dentre as recomendações listadas no documento pela Unicef, estão a mobilização para a reabertura das escolas, de forma segura; a busca ativa de crianças e adolescentes que estão fora das unidades de ensino; e a garantia do acesso à internet para todos os estudantes. 

A entidade afirma que os dirigentes escolares, docentes e técnicos das secretarias municipais e estaduais responsáveis pelo acompanhamento das escolas precisam ser apoiados para realizar de forma eficaz o acompanhamento e monitoramento das trajetórias dos estudantes e também pelas iniciativas de redução do abandono.

Deve-se levar em consideração o compromisso com a inclusão escolar, seja pelo acolhimento de matrículas ao longo do ano letivo, seja na organização curricular para receber estudantes que iniciam ou retornam às atividades escolares em diferentes momentos.

O documento cita, ainda, que é fundamental que haja um esforço conjunto, unindo profissionais da educação, saúde, assistência social, com apoio de organizações da sociedade civil, empresas, instituições religiosas e toda a sociedade para que haja uma busca ativa pelas crianças e adolescentes que estão fora da escola.





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