CORONAVÍRUS

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Medicamentos de segunda linha podem ser utilizados para garantir atendimento em UTI's no ES

Baixos estoques dos remédios de primeira linha têm preocupado profissionais de saúde que atuam na linha de frente no combate ao novo coronavírus

Foto: TV Vitória

Diante da falta de medicamentos utilizados para a intubação de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) exclusivas para o tratamento da covid-19, médicos cogitam retomar o uso de remédios que já não são mais utilizados, para garantir o atendimento durante a pandemia. Os baixos estoques dos materiais têm preocupado profissionais de saúde que atuam na linha de frente no combate ao novo coronavírus.

"Há recurso de retornar com drogas que não são as melhores, mas que podem manter o paciente da mesma forma. Têm um efeito colateral um pouco maior sim. Eles ainda vendem no mercado, mas obviamente os melhores estão sendo consumidos pela covid-19, pela quantidade de pacientes que vem se agravando", destacou o presidente da Sociedade de Anestesiologia do Espírito Santo, Wellington Pioto.

Segundo Pioto, para as pessoas que fazem parte do grupo mais vulnerável ao novo coronavírus e correm maior risco de desenvolver a forma mais grave da covid-19, ficar sem os remédios pode ser pior.

"Entre você não ter aquele que é um pouco melhor e ter um efeito adverso um pouco maior do que aquele que já existe, mas manter o bem direito maior, que é a vida do paciente, o que vale mais é a vida", frisou.

O médico intensivista Antônio Viana, que atua na linha de frente do combate à pandemia no estado, afirma que os medicamentos considerados de segunda linha também não agem com a mesma eficiência que os medicamentos do chamado kit intubação.

"Muitas vezes a gente acaba abrindo mão de utilizar uma droga que seria mais nova, mais atual, para usar uma droga um pouco mais antiga, que a gente sabe que antigamente também fazia efeito, mas, com a evolução da medicina e a evolução dos medicamentos, essas medicações foram ficando um pouco para trás", ressaltou.

Medicamentos em falta

Um dos medicamentos utilizados nas UTI's e que está em falta na rede pública de saúde do Espírito Santo é o Propofol, utilizado pelos médicos para indução do coma. Os demais que fazem parte do kit intubação também acabaram ou estão com estoque reduzido.

"Essas medicações são extremamente necessárias para intubação orotraqueal. Nós temos aqui sedativos, relaxantes musculares, que são os bloqueadores neuromusculares, e medicamentos para restabelecer a hemodinâmica, ou seja, manter a frequência cardíaca normal e manter a pressão normal. Isso torna-se imprescindível, não só para intubação orotraqueal, como também para a manutenção do paciente numa UTI", salientou Wellington Pioto.

O alerta partiu do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, que realizou, entre os dias 19 e 22 deste mês, um levantamento da quantidade disponível de medicamentos do kit intubação. O resultado preocupa, ainda mais durante a pandemia do novo coronavírus.

"A gente tem tido uma preocupação muito grande em relação a isso. A gente já tem, muitas vezes, que economizar, digamos assim. Às vezes a gente não usa uma dose um pouco maior, que nós poderíamos usar, e consegue equilibrar isso com algumas outras drogas. A gente consegue utilizar uma outra medicação para poder tentar diminuir a dose desse sedativo. Uma dose que a gente poderia usar, se tivesse um estoque maior, a gente acaba usando uma dose um pouco menor e associa essa medicação a uma outra, para que a gente possa ter um tempo postergado de uso dessa medicação", afirmou Viana.

Durante uma reunião virtual com senadores, na última quinta-feira (25), o governador Renato Casagrande afirmou que os estados têm tido dificuldade para adquirir medicamentos usados nas UTIs exclusivas para covid-19 e solicitou apoio do governo federal nas compras.

"Estamos encaminhando, por meio do fórum de governadores, um pedido ao ministro da Saúde para que possa coordenar a compra de medicamentos e de insumos para serem usados nas UTI's. A demanda de relaxante muscular e outros medicamentos, no mundo todo, é muito grande e nós estamos com dificuldade de fazer a compra desses medicamentos. Então a coordenação é do governo federal, na compra desses medicamentos. É fundamental que o Congresso nos ajude nesse trabalho", afirmou o governador na ocasião.

Questionada, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) garantiu que haverá remédios que fazem parte do kit intubação durante todo o mês de julho nos hospitais da rede pública. A Sesa pede ainda que os médicos continuem seguindo o protocolo contra a covid-19.

"Que todo mundo utilize o protocolo. A secretaria tem em estoque material suficiente para o mês de julho. É claro que a gente pode substituir medicamentos de primeira linha para de segunda linha, mas eles sempre serão seguros e indicados para aquilo que o de primeira linha era. Então a gente pede que todo mundo continue utilizando o material conforme o protocolo e aguardando para essa semana próxima uma regularização por parte do Ministério da Saúde", frisou o subsecretário de Vigilância em Saúde do Estado, Luiz Carlos Reblin.

Por meio de nota, o Ministério da Saúde afirmou que a aquisição e distribuição desses medicamentos são de responsabilidade dos municípios ou dos próprios hospitais. Entretanto, informou que realizará reuniões para auxiliar a rede de assistência hospitalar do SUS a regularizar o abastecimento.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV 

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