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Unimed anuncia cortes e mudanças internas devido ao gasto milionário com covid-19

Plano de saúde anunciou redução de repasse para médicos cooperados, que variam entre 15 e 25%, em virtude da alta despesa durante a pandemia e da grande demanda de exames e procedimentos

Lais Magesky

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Uma carta e um vídeo, produzidos pela Unimed Vitória, foram enviados aos cooperados na segunda-feira (20) informando sobre cortes em vários contratos de médicos cooperados, que variam de 15% a 25%. Os reajustes, anunciados para ocorrer até dezembro deste ano, seriam em virtude do momento delicado enfrentado desde o início da pandemia da covid-19, e em razão da alta na demanda de exames e procedimentos.

À reportagem, o diretor-presidente da Unimed Vitória, Fernando Ronchi esclareceu que a medida é temporária e que isso não vai afetar o atendimento prestado pela cooperativa.

Questionado se há possibilidade de os cooperados escolherem sair da Unimed por conta da redução do repasse, Ronchi descartou.

"Essa possibilidade não existe. É o plano de saúde em que todos os médicos do Espírito Santo gostariam de estar e ter. Somos sócios da nossa empresa, trabalhamos com sistemas de sobras, não tem salário. Tem mês que pagamos mais. Em 2020 distribuímos mais de R$ 90 milhões de sobras", disse. 

Carta aos cooperados 

O anúncio, que teve como porta-voz o próprio diretor-presidente Fernando Ronchi, diz que o maior desafio do plano de saúde, neste momento, é o custo assistencial, que deverá então ser encarado como prioridade.

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A carta acabou gerando um certo burburinho entre os cooperados, que compartilharam o arquivo por aplicativos de mensagens com receio das medidas que foram citadas. São elas:

- Todos os contratos existentes com a Rede Prestadora Credenciada de serviços assistenciais estão sendo revistos até alcançarem no mínimo 25% de redução nos seus valores atuais.

- Os contratos com fornecedores gerais serão renegociados, por meio de revisão de escopo, prazos e custos, com o objetivo de redução de até 15% nos seus valores atuais.

- Implementação imediata de um rigoroso processo de revisão da auditoria médica em todo o seu escopo de atuação para garantir atendimento com racionalização do custo assistencial.

- As Unidades de Recursos Próprios da Unimed Vitória serão priorizadas, por meio da Central de Regulação da cooperativa, de forma a contribuir para a redução dos custos com a Rede Prestadora Credenciada.

- Na busca pelo equilíbrio administrativo-financeiro, é necessária ainda a revisão da política de pagamento da produção médica (consultas, honorários clínicos, cirúrgicos, SADTs, honorários da Diretoria e Conselhos). Como o fundamento legal aplicado nas cooperativas de trabalho para a remuneração de seus cooperados baseia-se na remuneração variável, e também por conta dos resultados alcançados de janeiro a maio de 2022 e de todo o cenário econômico projetado, haverá uma redução de 15% no pagamento da produção médica. Essa medida, a princípio, valerá de junho a dezembro de 2022.

Presidente esclarece comunicado

Em entrevista ao Folha Vitória, o diretor-presidente da Unimed Vitória, Fernando Ronchi, explicou do que se trata esse momento. Segundo ele, todos os planos de saúde têm passado por desafios desde o início da pandemia da covid-19, que começou em maio de 2020. Entre os motivos, ele citou três:

"Em maio de 2021 a Agência Nacional de Saúde, fez reajuste negativo de -8,19% para os planos de saúde. Isso gerou perda de R$ 40 milhões para a nossa cooperativa. Em maio de 2022, a ANS deu reajuste positivo de 15%. Ele não é imediato, é a medida que planos vão vencendo. Isso demora 12 meses para frente. Então, se a gente for fazer a conta dos últimos dois anos, tivemos reajuste negativo de -8,19% e agora, de maio deste ano até maio de ano que vem, 15%. Levando isso em consideração e fazendo a conta, foi um reajuste de 3,3% ao ano", explicou.

"Outro ponto importante. Temos a maior inflação dos últimos 19 anos. No ano passado, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) ficou na casa dos 30%, tivemos inflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) superior a 10% e na área médica-hospitalar, que é indicador de custo medico, de setembro de 2020 a 2021, foi variação de 27%, ou seja, taxa alta de custo médico hospitalar. Os insumos, da área de saúde, nesse período da pandemia, subiram muito. Insumos aumentaram dez vezes, por exemplo. Medicamentos, equipamentos, até de proteção individual. Muitos são importados, dolarizados, isso impactou todo o setor de saúde do mundo", continuou o diretor-presidente.

"Foi um efeito cascata do impacto da covid no sistema, que foi e está sendo significativo. Para se ter ideia, de abril de 2020 a maio de 2022, o custo covid está em R$ 270 milhões para a Unimed Vitória: um custo que não estava previsto para ninguém em nenhum orçamento, nenhum plano de saúde, ninguém previu isso no mundo. O maior impacto dos últimos 100 anos", finalizou.

Alta demanda dos usuários e riscos de descooperação

Fernando Ronchi ainda relatou que, a partir de 2021, o usuário passou a utilizar o plano de saúde muito mais do que usou em 2020 — e que isso fez crescer o número de consultas, cirurgias, terapias e tratamentos oncológicos, por exemplo.

"Muitas pessoas deixaram de fazer exames preventivos, e agora estão procurando os serviços de saúde para colocar os tratamentos em dia. Isso tem impactado todos os serviços", completou. Segundo Ronchi, ainda foram investidos R$ 30 milhões em equipamentos na Unimed.

Momento temporário

A carta diz que, a princípio, a medida valerá de junho a dezembro de 2022. O diretor-presidente reforça que é algo temporário, provisório e que vai passar. "Somos uma empresa muito forte e ninguém vai querer descooperar, muito pelo contrário. Temos os melhores recursos próprios do nosso Estado", disse.

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Ronchi relata que as partes têm conversado, discutido e dialogado sobre este momento, e afirma que é de entendimento de todos o que ocorre agora na cooperativa de saúde. "O problema não é a Unimed Vitória, e sim do sistema de saúde do Brasil a fora, do mundo inteiro", completou o diretor-presidente.

Na carta, o gestor cita que o maior desafio do momento são os gastos com o custo assistencial. Ronchi explica: custo assistencial são as cirurgias, consultas, exames complementares, terapias, fisioterapias, tratamentos oncológicos, internações.

"O custo está muito bem controlado. O custo da demanda reprimida pela assistência é que tem elevado os custos, tanto da covid, quanto de outras situações. Temos ainda demanda de pacientes que tiveram covid e estão tratando de sequelas. A gente nem sabe de quanto tempo eles vão precisar de tratamento, mas garantimos isso sem nenhuma restrição", finalizou o diretor-presidente da Unimed Vitória.

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