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ES tem mais de 9 mil casos de hepatites virais em dez anos

Os sintomas mais notórios são dor abdominal, mal-estar, náuseas, vômitos e icterícia

Contra a Hepatite A há vacina disponível / Foto: Reprodução

Neste ano 819 casos de hepatites virais foram registrados no Espírito Santo, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Segundo os dados divulgados pela Sesa, em dez anos, ou seja, de 2007 a 2017, o estado teve 9.047 casos de hepatites virais confirmados. Deste total, 896 casos foram causados pelo vírus da hepatite A, 5.322 casos pelo vírus da hepatite B e 2.829 casos pelo vírus da hepatite C.

De acordo com a secretaria, enquanto o número de casos de hepatite A no Estado diminuiu, neste período, em 98,69%, o de hepatite B teve uma redução menos acentuada, de 21,65%, e o de hepatite C registrou aumento de 77,57%.

Ainda segundo a Sesa, os testes rápidos das hepatites B e C podem ser realizados durante todo o ano nas unidades básicas de saúde e também nos serviços de atendimento especializados em DST, Aids e Hepatites. Em 2017, dos 819 casos de hepatites virais no Espírito Santo, sete foram pelo vírus da hepatite A, 416 pelo vírus B e 396 casos pelo vírus C.

O médico infectologista e coordenador do Programa Estadual de Hepatites Virais da Sesa, Marcello Leal, explicou que se deve pensar em hepatites virais quando um indivíduo apresenta dor abdominal, mal-estar, náuseas, vômitos e icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos).

De acordo com o infectologista, uma pessoa com hepatite A pode manifestar alguns desses sintomas ou todos esses em graus variados de intensidade e evoluir, nos cenários mais graves, para falência aguda do fígado e necessidade de transplante desse órgão. Já as hepatites B e C, segundo o médico, se apresentam na maioria dos casos como doenças silenciosas e podem se manifestar anos depois de serem adquiridas, ou seja, a pessoa tem a doença, mas não sabe, já que ela não apresenta sintomas.

“A persistência da inflamação do fígado causada pelos vírus das hepatites B e C durante anos pode ocasionar progressivamente a substituição das células saudáveis do fígado por um tecido fibroso e resistente e, nas fases mais avançadas da doença, levar ao desenvolvimento de cirrose ou câncer de fígado. Os sintomas mais comuns presentes já na fase avançada da doença são ascite (barriga d’água), inchaço dos membros inferiores, icterícia, vômito com sangue ou evacuação com sangue”, explicou.

Hepatite A

Segundo o médico infectologista Marcello Leal, coordenador do Programa Estadual de Hepatites Virais, a transmissão da hepatite A é fecal-oral e ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados pelas fezes de uma pessoa com hepatite A. A infecção pelo vírus da hepatite A é tratada com medicamentos que agem sobre os sintomas da doença, ou seja, não há tratamento contra o vírus que causa a doença.

Marcello comentou também que desde 2014 há vacina contra hepatite A disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). A vacina é aplicada em dose única aos 15 meses de vida, mas pode ser administrada enquanto a criança tiver menos de 5 anos de idade. Isso significa que daqui a alguns anos, grande parte da população estará imunizada contra a doença. “Os números mostram que houve redução significativa nos casos de hepatite A em menores de 10 anos”, observou Leal.

Hepatite B

A hepatite B, de acordo com o médico, é transmitida principalmente por relações sexuais sem uso de preservativos e pelo compartilhamento de objetos pessoais que possam conter sangue contaminado, como lâmina de barbear, escova de dente, alicate de unha e pau de laranjeira, que é usado costumeiramente para limpar o esmalte ao redor das unhas. Entre o público usuário de drogas, o compartilhamento de seringas e agulhas é um meio comum de transmissão da doença.

Outra forma de transmissão da hepatite B, segundo Marcello Leal, é de mãe para filho, na gestação ou no parto. Por isso o coordenador do Programa Estadual de Hepatites Virais diz que, quando existem casos da doença na família, recomenda-se fortemente que a mãe realize o teste, pois todos podem estar infectados sem saber, já que as hepatites virais costumam não apresentar sintomas durante anos.

Após entrar em contato com o vírus da hepatite B, o indivíduo pode desenvolver imunidade ou permanecer com o vírus se multiplicando no fígado, que é o que se chama de hepatite B crônica. Para esta condição ainda não existe a cura, mas a infecção pode ser controlada com medicamentos que devem ser tomados a vida toda, reduzindo consideravelmente a chance de evoluir com cirrose e câncer de fígado. Por todas essas razões, o médico ressalta que a medida mais importante para prevenir a infecção e suas complicações é se vacinar.

“O tratamento é gratuito e realizado nos serviços de atendimento especializados de DST, Aids e Hepatites Virais. Nem todos os pacientes têm indicação de serem tratados. Por isso é feita uma avaliação caso a caso com base em exames. De qualquer forma, mesmo sem indicação de tratamento a pessoa deve ser acompanhada durante toda a vida. É preciso fazer uma nova avaliação pelo menos a cada seis meses porque no curso da doença pode haver uma piora no grau de inflamação do fígado", esclareceu o infectologista, que orienta quem não está imunizado a buscar uma unidade municipal de saúde para fazer o teste e iniciar o acompanhamento médico, caso o diagnóstico seja positivo.

De acordo com o coordenador do Programa Estadual de Hepatites Virais da Sesa, as taxas de detecção de hepatite B no Brasil, desde 2011, vêm apresentando poucas variações, atingindo 6,9 casos para cada 100 mil habitantes no país em 2016. “No Espírito Santo, a taxa de detecção de hepatite B é maior do que na região sudeste e no Brasil. Mas, observando os últimos dez anos, percebe-se que no estado houve redução da taxa de detecção da hepatite B, que passou de 14 casos por 100 mil habitantes em 2008 para 10 casos por 100 mil habitantes em 2017”, detalhou o coordenador.

Hepatite C

Assim como a hepatite B, a hepatite C é transmitida por sangue e secreções contaminadas com sangue. De acordo com o infectologista, não existe vacina contra a hepatite C, mas o tratamento disponível na rede pública de saúde é extremamente eficaz, com chance de cura de mais de 95%, e é ofertado para todos os pacientes com diagnóstico de hepatite C, independentemente do grau de comprometimento do fígado, conforme define o novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas das Hepatites Virais, publicado pelo Ministério da Saúde em março de 2018.

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