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Proibido e letal, mulheres colocam até 12 litros de silicone industrial

O produto não pode ser utilizado no corpo humano; técnica de enfermagem foi presa nesta segunda (30) por ter aplicado o material em mulher que morreu

Gabriela Lisbôa, do R7

Enquanto cirugiões plásticos costumam colocar próteses de silicone de até 500 ml para aumentar glúteos femininos, os chamados "bombadeiros", pessoas sem qualificação que oferecem o serviço de "bombar" alguma parte do corpo, chegam a injetar, no mesmo local e com a mesma finalidade, 12 litros de silicone industrial - produto proibido e que pode matar.

Encontrado com facilidade em lojas de material de construção, o silicone industrial tem um baixo custo - R$ 60 o litro. O galão com 5 litros não passa de R$ 130. Sua indicação está especificada no rótulo: limpeza de carros e peças de avião, impermeabilização de azulejos, vedação de vidros, manutenção de esteiras.

Mesmo assim, há quem não veja problema em usar o silicone industrial para injetar no corpo e aumentar as medidas do quadril, das coxas ou dos seios. Mas, a atividade a que os "bombadeiros" se propõem é crime. O acusado pode responder por exercício ilegal da medicina com prisão de 6 meses a 2 anos. Também é crime a venda de produto sem registro na Vigilância Sanitária e sem qualidade necessária para fins estéticos, com pena de 10 a 15 anos de reclusão.

É o que deve acontecer com a técnica de enfermagem Mariana Batista de Miranda, presa pela Polícia Civil do Rio de Janeiro nesta segunda-feira (30). Além do exercício ilegal da medicina, ela também foi acusada de homicídio. A vítima é Fátima Santos de Oliveira, uma paciente que, segundo a perícia médico-legal, morreu depois de aplicar silicone industrial nos glúteos no dia 16 de março deste ano.

Silicone Industrial é um risco para a saúde

Não existe nenhum tipo de silicone industrial que seja aprovado para uso em procedimentos estéticos. Isso significa que o material não pode ser usado no corpo humano por qualquer tipo de profissional, médico ou não.

De acordo com o cirurgião plástico Dênis Calazans, secretário-geral da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), o silicone industrial é diferente do silicone médico, usado em próteses porque “ele não tem biocompatibilidade, além da possibilidade de ser rejeitado, pode ser nocivo ao organismo”.

O cirurgião plástico Jairo Casali, também membro da SBCP, explica que é praticamente impossível retirar todo o silicone industrial injetado no organismo. “O que ocorre é que o silicone se mistura aos tecidos do próprio corpo. Então não há como remover apenas o silicone sem remover partes de algum músculo, por exemplo”.

A tentativa de retirada pode causar sequelas graves como deformidades, irregularidades e cicatrizes profundas.

Segundo o cirurgião Wilson Cintra, vice-presidente da SBCP, o silicone industrial é um líquido espesso que, no organismo, se transforma em milhares de bolinhas de silicone, isso também dificulta a retirada.

O médico também alerta para mais um risco: a possibilidade de o silicone industrial migrar para outras partes do corpo. “Quando uma pessoa injeta esse material no glúteo, o organismo entende que é um corpo estranho e cria uma cápsula fibrosa ao redor, o que tende a manter o silicone no mesmo lugar. Mas, com o passar do tempo, o material pode infiltrar e descer para as pernas”, explica.

Cintra faz outro alerta. Como o produto não é esterilizado, preparado para uso humano, pode causar grandes infecções e necroses – o que mata os tecidos da região onde foi aplicado.

Preço x volume

O que atrai tantos consumidores de silicone industrial, apesar dos riscos, é a possibilidade de triplicar o tamanho dos glúteos a um baixo custo.

Uma cirurgia para colocar uma prótese de silicone no local com um médico especialista em cirurgia plástica credenciado pela SBCP, em um hospital, pode chegar a R$ 30 mil. O tamanho das próteses varia, mas costuma ficar entre 200 ml e 500 ml.

A aplicação de silicone industrial costuma ser realizada na casa da cliente, muitas vezes sem anestesia e qualquer tipo de cuidado sanitário. O preço por litro pode chegar a R$ 500. O volume colocado varia, nas redes sociais algumas mulheres relatam ter colocado até 12 litros.

De acordo com o cirurgião Wilson Cintra, qualquer quantidade de silicone industrial já é perigosa, mas, quanto mais produto é injetado, maior a possibilidade de reação.

“Quanto maior a quantidade, maior o risco porque esta substância baixa a imunidade do corpo e deixa a pessoa suscetível à infecção, necrose e embolia pulmonar”, afirma.

Anvisa alerta sobre o uso do silicone industrial

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou um comunicado no qual explica que proíbe o uso do silicone industrial em procedimentos estéticos. De acordo com a nota, o silicone industrial não deve nunca ser utilizado no corpo humano e tem como finalidade a limpeza de carros e peças de avião, impermeabilização de azulejos, vedação de vidros, entre outras utilidades. Porém, o desvio de sua correta utilização, servindo como material para cirurgia plástica, por exemplo, é considerado crime e pode causar sérios riscos à saúde.

O comunicado também explica que, para aplicações estéticas, o silicone original é matéria-prima para inúmeros tipos de próteses e implantes, mas nunca na forma líquida. Além disso, as próteses precisam ser aprovadas pela Anvisa e devem ser manipuladas por pessoas especializadas, habilitadas, e em hospitais com a estrutura necessária para atender o paciente da forma mais segura possível.

A orientação da Anvisa é que quem aplicou silicone industrial no próprio corpo procure um médico, mesmo que ainda não tenha sentido qualquer sintoma. "Somente um médico especialista pode avaliar a gravidade de cada caso”, informa.

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