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Covid-19: aumento do número de casos no ES se deve à oferta de testes rápidos, dizem especialistas

Na semana passada, o secretário Nésio Fernandes afirmou que o aumento da capacidade de testagem do Lacen foi fundamental para o resultado

Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

O Espírito Santo tem hoje, segundo dados do Painel Covid-19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), 54.547 casos confirmados do novo coronavírus. Nas últimas semanas, mais de mil novos registros de infectados no estado têm sido contabilizados diariamente na plataforma. 

Em coletiva de imprensa, realizada na última sexta-feira (3), o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, destacou que aumento da capacidade de testagem no Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen-ES) foi fundamental para a grande quantidade de casos confirmados da covid-19 no estado. Até o final do mês passado, o Lacen tinha capacidade para processar mil amostras de testes RT/PCR por dia e processava cerca de 700.

"Nós qualificamos muito a capacidade de testagem no Espírito Santo e isso se reflete na quantidade de casos positivos, que estão sendo informados diariamente no nosso painel. Isso reflete a qualificação da testagem do Lacen, que já não tem mais a dificuldade de extração e de reação, como nós tivemos em momento anterior", afirmou o secretário, na ocasião.

No entanto, especialistas afirmam que o maior número de casos confirmados não se deve à maior oferta de exames RT/PCR, capaz de detectar partículas do novo coronavírus no indivíduo e indicado para o diagnóstico da doença. A justificativa, segundo eles, seria a inclusão dos resultados positivos do inquérito epidemiológico entre pacientes com diagnóstico comprovado pelo RT/PCR.

Durante o inquérito, as pessoas sorteadas são submetidas ao teste sorológico, que aponta a presença de anticorpos contra a covid-19 e não necessariamente aponta que a pessoa está infectada naquele momento.

A pesquisadora Ethel Maciel, doutora em epidemiologia, afirma que contabilizar os dados do inquérito é importante para o mapeamento do novo coronavírus no Espírito Santo. O problema, segundo ela, é que os testes sorológicos utilizados no inquérito miram no passado e não mostram quem está com a doença.

"É importante que eles sejam computados, porque eles tiveram resultado positivo. Então, do ponto de vista da saúde pública, de a gente pensar em políticas públicas, é melhor a gente considerar do que não considerar", frisou.

"É importante deixar claro que o número observado de pacientes confirmados por testagem não deve ser o orientador de nossas decisões, principalmente porque ele está determinado também pelos critérios de testagem. Esse critério ampliado de testagem no nosso estado tem permitido que a gente consiga atender pacientes em nossos hospitais que já cheguem ao serviço de saúde com um diagnóstico laboratorial confirmado", destacou Nésio Fernandes.

Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que atualmente o Lacen tem capacidade para processar 1,2 mil amostras do teste RT/PCR por dia, e faz, em média, entre 500 e 900 análises. O prazo para divulgação dos resultados é de 36 até 72 horas, segundo a Sesa.

Diagnóstico

O teste RT/PCR é o indicado por especialistas para o diagnóstico da covid-19. No entanto, apenas uma parcela dos pacientes suspeitos tem direito a fazer esse exame na rede pública: os hospitalizados, pessoas acima de 45 anos com comorbidades, além dos profissionais da saúde.

"Ele detecta a infecção precocemente, no início, e ele possibilita que as pessoas sejam colocadas em isolamento. E é isso que a gente precisa fazer cada dia mais, não importa que tenhamos meses de pandemia. É muito importante testar, isolar as pessoas positivas e isolar os contactantes, aquelas pessoas que estão à volta delas", ressaltou o médico infectologista, Paulo Peçanha.

Mesmo não sendo o exame indicado para o diagnóstico da covid-19, o teste sorológico foi aplicado no eletrotécnico Aloísio Ciciliott, de 48 anos, poucos dias depois dele apresentar sintomas da doença. Ele conta que procurou o Pronto Atendimento de Cobilândia, em Vila Velha, bairro onde mora. 

"Eu fiz um teste rápido no dia 1º e deu negativo. Aí durante a semana, eu já estava com uma febre de 38, que não cessava: era de manhã, de tarde, de noite. Retornei no PA no dia 7. Lá, fizeram exame de sangue e fizeram o teste rápido, que deu positivo", contou.

A esposa dele, a fisioterapeuta Fabiana Barbosa de Angeli Ciciliott, de 37 anos, afirma que também apresentou diversos sintomas da covid-19 e também procurou o PA. No entanto, por ser profissional da área da saúde, ela foi submetida ao teste RT/PCR. O resultado saiu dez dias depois e deu positivo.

"Eu já estava no final do período dos 14 dias e, na verdade, eu fiquei sabendo do resultado pela vigilância epidemiológica, que me ligou, falando que eu já estava liberada, pelo tempo, e que o teste tinha dado realmente positivo", contou.

A fisioterapeuta diz que contraiu a doença no final do mês de maio, mas se lembra de todo o sofrimento como se fosse ontem. "Não é uma gripezinha. A gente teve muitos sintomas, eu senti muita dor no corpo, muita dor de cabeça, muito enjoo. Minha garganta inflamou, eu não podia me alimentar, não podia beber água. E muita falta de ar", relatou.

Depois de enfrentar e vencer o novo coronavirus, o casal faz um importante alerta à população capixaba: pede que todos mantenham os cuidados para evitar que a covid-19 continue se espalhando.

"Você vê pessoas de 38 anos morrendo. Eu tenho 48. Será que eu vou ser o próximo? Essa doença ataca o organismo diferente de outros, então você não pode contar com a sorte. Você tem que se cuidar", afirmou Aloísio.

A produção da TV Vitória/Record TV procurou a Prefeitura de Vila Velha para saber porque o teste feito em Aloísio foi o sorológico e não o RT/PCR. A prefeitura informou que o paciente procurou o Pronto Atendimento no dia 1º de junho, no oitavo dia de sintomas. Segundo a prefeitura, foi seguida a nota técnica da Sesa e realizado o teste rápido. 

Ainda segundo a administração municipal, mesmo com o teste dando negativo, foi feita uma coleta para exames laboratoriais e medicações foram prescritas para casa, sendo orientado retorno em caso de piora.

Com informações da jornalista Andressa Missio, da TV Vitória/Record TV 


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