EUA expulsam mais um nazista acusado de crimes de guerra
O ex-guarda de campo de trabalhos forçados Jakiw Palij, de 95 anos, foi deportado dos Estados Unidos para a Alemanha nesta terça-feira, 21. Há 25 anos, quando investigadores o confrontaram pela primeira vez sobre seu passado durante a 2ª Guerra, ele confessou ter mentido para poder entrar nos EUA.
O governo americano iniciou, na década de 1970, procedimentos legais para expulsar apenas 137 dos cerca de 10 mil suspeitos de crimes de guerra nazistas que imigraram para os EUA após o fim da guerra. Desses, ao menos 67 foram deportados, extraditados ou deixaram o país voluntariamente, e 28 morreram enquanto seus casos estavam em andamento. Palij era o último nazista a viver nos EUA com uma ordem ativa de deportação.
Confira abaixo outros casos de suspeitos ou acusados de crimes de guerra cometidos pelo regime nazista durante a 2ª Guerra que foram expulsos do território americano:
Hermine Braunsteiner Ryan
Nos EUA, Hermine Ryan era uma dona de casa de Nova York. No entanto, durante a guerra, ela havia atuado como guarda em campos de concentração, onde era conhecida pela crueldade e o apelido "égua pisoteadora". Hermine foi a primeira suspeita por crimes de guerra nazistas que o governo americano extraditou.
Ela foi enviada para a Alemanha Ocidental em 1973, onde foi condenada por múltiplos assassinatos durante sua atuação no campo de concentração de Majdanek, na Polônia ocupada pelos nazistas. Hermine também foi guarda no campo de concentração de Ravensbruck, na Alemanha.
Segundo descobertas de um tribunal, ela estava envolvida no processo de decisão que determinava quais presos seriam enviados às câmaras de gás e quais seriam enviados ao trabalho forçado. Sua sentença de prisão perpétua foi reduzida em 1996, porque ela enfrentava problemas de saúde. Ela morreu três anos depois, aos 79 anos.
John Demjanjuk
Nos EUA, John Demjanjuk era um trabalhador do ramo automotivo em Cleveland, Ohio. Nascido na Ucrânia, com o nome Ivan Mykolaivych Demianiuk, ele foi deportado para a Alemanha em 2009. Em 2011, Demjanjuk foi condenado por ter ajudado no assassinato de mais de 28 mil judeus quando trabalhava como guarda no campo de extermínio de Sobibor, na Polônia ocupada. Ele negou seu envolvimento no holocausto, afirmando ter sido vítima de uma identificação equivocada.
Demjanjuk morreu em um lar de idosos da Bavária em 2012, aos 91 anos, enquanto apelava da decisão judicial. Sua condenação não teve precedentes na lei alemã, porque levou em conta apenas sua atuação como guarda de um campo de extermínio. O caso não incluía provas de que estivesse envolvido em qualquer assassinato de maneira mais específica.
Em 1986, Demjanjuk foi extraditado para Israel e condenado à morte sob acusações de ser "Ivan, o Terrível", guarda apelidado em referência ao czar russo Ivan IV. A Suprema Corte de Israel anulou o veredicto, apresentando evidências de que "Ivan, o Terrível" era outra pessoa - um homem que operava câmaras de gás em um campo onde cerca de 850 mil judeus foram mortos.
Feodor Fedorenko
Feodor Fedorenko foi o primeiro suspeito por crimes de guerra nazista a ser deportado dos Estados Unidos para a União Soviética, onde foi executado por um pelotão de fuzilamento em 1987, aos 79 anos. Um tribunal soviético considerou o ex-guarda do campo de extermínio de Treblinka culpado por traição, por ter se juntado voluntariamente aos nazistas e participado de assassinatos em massa no campo, que ficava na Polônia ocupada.
Fedorenko foi deportado em dezembro de 1984, depois de uma batalha judicial de sete anos para permanecer nos EUA, onde trabalhou em uma fábrica de Connecticut, antes de se aposentar em Miami Beach. Os EUA retiraram sua cidadania depois de descobrirem que ele havia obtido o status de cidadão americano omitindo informações sobre seu serviço ao regime nazista.
Testemunhas disseram ter visto Fedorenko espancando e atirando em judeus. Ele não negou ter trabalhado em Treblinka, mas disse que não participou de nenhuma matança, afirmando à corte que judeus estavam entre seus "melhores amigos".
Karl Linnas
Karl Linnas foi chefe de um campo de concentração que se estabeleceu em Long Island, Nova York, onde trabalhou como agrimensor. Ele foi um dos nazistas de mais alto escalão a ser expulso do território americano.
Linnas foi destituído de sua cidadania em 1982 e enviado à União Soviética em 1987, onde havia sido anteriormente condenado, à revelia, a 30 anos de prisão por acusações de que teria participado do assassinato de 12 mil pessoas no campo de concentração de Tartu, na Estônia ocupada pelos nazistas.
Linnas morreu de insuficiência cardíaca aos 67 aos, antes de enfrentar um pelotão de fuzilamento soviético. Investigadores afirmaram que ele ordenava a guardas que atirassem nos prisioneiros enquanto eles se ajoelhavam à beira de uma vala, fazendo com que as vítimas fossem baleadas e caíssem em seus túmulos logo em seguida.
Ele havia imigrado para os EUA em 1951, alegando ser uma pessoa deslocada pela guerra e omitindo seu serviço ao regime nazista. Linnas recebeu a cidadania americana em 1959.
Arthur Rudolph
Arthur Rudolph, um dos cientistas de foguetes mais proeminentes da Alemanha, foi levado aos EUA depois da guerra por suas habilidades técnicas. Ele teve papel central no Projeto Apollo, que colocou o homem na Lua e recebeu uma medalha por "serviços distintos", concedida pela NASA (Agência Aeroespacial dos Estados Unidos). Décadas depois, Rudolph foi acusado de "fazer milhares de escravos trabalharem até a morte" na fábrica nazista que construiu o foguete V-2.
Em 1983, ele assinou um acordo com os EUA. Em 1984, viajou com seu passaporte americano de volta à Alemanha Ocidental. Em seguida, se apresentou no Consulado Geral em Hamburgo e renunciou à cidadania americana.
O governo da Alemanha Ocidental protestou, mas Rudolph continuou no país. Eventualmente, ele conseguiu a cidadania alemã, mas manteve os benefícios da seguridade social americana, recebendo aposentadoria até sua morte, em 1996, aos 89 anos.
Valerian Trifa
Valerian Trifa, ex-arcebispo americano da Igreja Ortodoxa Romena, renunciou à sua cidadania americana em 1980 e partiu para Portugal em 1984, depois de admitir que mentiu às autoridades de imigração para ocultar suas atividades em apoio ao regime nazista. O governo americano alegou que Trifa foi um defensor fervoroso do nazismo, escreveu artigos inflamados para jornais e fez discursos antijudaicos como membro da Guarda de Ferro, grupo fascista romeno.
Uma de suas falas, em 1941, desencadeou quatro dias de motins em Bucareste, levando a centenas de mortes. Trifa negou qualquer envolvimento nos tumultos e obteve um visto dos EUA por meio do programa de pessoas deslocadas no pós-guerra. Apesar do apoio ao regime, ele foi internado nos campos de Dachau e Buchenwald, mas investigadores disseram que Trifa nunca revelou à imigração americana o tratamento especial que recebeu. Ele morreu em 1987, aos 72 anos.