Prefeitura de SP tomba conjunto com 28 imóveis em Pinheiros
"Se um dia eu ficar rica, não vou morar em condomínio de luxo, não quero mansão na praia, apartamento em Paris Meu sonho de moradia é um apartamento nos predinhos da Hípica, em Pinheiros." O relato foi publicado em redes sociais, mas costuma ser repetido por quem passa pelos 28 edifícios da zona oeste paulistana, cujo tombamento foi homologado nesta quarta-feira, dia 1º, pela Prefeitura de São Paulo.
De três andares, os edifícios foram construídos pelo cafeicultor libanês Raduan Dabus nos anos 1950 no antigo terreno da Sociedade Hípica Paulista. Estão inseridos no quadrilátero formado pela Avenida Teodoro Sampaio e Ruas Arthur de Azevedo, Pedroso de Morais e Mourato Coelho. No perímetro também está o Colégio Fernão Dias Paes, tombado em 2016.
O tombamento foi requerido em 2002 pela moradora Yvonne Mautner, de 72 anos, professora aposentada de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). "O que detonou essa história toda foi o prédio que construíram no antigo estacionamento da (Rua) Simão Álvares", conta. "Percebemos que, se a gente não fizesse alguma coisa, iria virar um paliteiro", diz, em relação às torres erguidas no entorno.
Para ela, os imóveis comprovam que é possível haver um conjunto urbano sem muros no meio da cidade. O tombamento determina a preservação das características externas e delimita a altura máxima de 15 metros para 48 endereços do entorno.
Um apartamento de três quartos nos prédios é vendido por cerca de R$ 1,5 milhão. Proprietários também costumam alugar as garagens externas para comerciantes. Há quatro anos, por exemplo, Maria de Lourdes Falcão, de 56 anos, abriu o restaurante Cantinho da Lu na Rua Sebastião Velho. "Até pensei em arrumar um espaço maior, mas, conversando com meus clientes, acabaram me convencendo que não deveria. Diziam que gostam daqui, gostam dessa paz da rua."
Já Ricardo Lombardi, jornalista de 49 anos, abriu o sebo Desculpe a Poeira na garagem da mãe. A pequenez do lugar atende à ideia de vender só obras recomendadas. Há ainda a proximidade entre vizinhos. "Virei ponto de referência. Tem gente que pede para o carteiro, o motoboy deixar coisa aqui."
Em 2018, fundou-se a Associação de Moradores e Amigos dos Predinhos de Pinheiros, que realiza ações como a que barrou o asfaltamento da rua de paralelepípedo. "É um estilo de vida, um lugar democrático, com árvores, criança, sem prédios que matam a vista", diz a presidente, Veronika Bilyk, de 51 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.