Economia

Investimento em gado jersey garante alto padrão de qualidade do leite no sul do estado

A criação inédita de gado jersey no sul do estado ganha destaque em cooperativa devido a bons tratos aos animais e que garante alto padrão do leite

Elisangela Teixeira

Redação Folha Cachoeiro

Uma parceria que vem dando certo e rendendo bons frutos baseado em ousadia, visão, atitudes simples de higiene e manejo do gado. Assim pode ser definido o sucesso dos sócios Eliezer Coutinho, Lamartine e Leonam Schlens dos Santos, que desde agosto do ano passado arrendaram uma propriedade em Itapemirim para criação de gado da raça jersey. O feito é algo inédito, haja vista que esta raça é considerada de região fria e o sul do Espírito Santo, teoricamente, não seria adequado.

“Mesmo sendo um animal de terra fria, o calor não é problema. O couro dele é escuro, consegue segurar o calor, desde que tenha uma área de sombra e ele seja bem tratado”, explica Lamartine. 

E a ideia deu certo. Tanto que o resultado é que somente em 2019 eles garantiram o primeiro lugar por duas vezes, um segundo e um nono no ranking dos 20 maiores em qualidade da Selita, a maior cooperativa de laticínios do Espírito Santo.

Foto: Divulgação
Os sócios Eliezer Coutinho, Lamartine e Leonam Schlens dos Santos ao lado de Edino Rainha, Gerente de Atendimento da Selita

Lamartine e Leonam são de Domingos Martins, mas decidiram investir, juntamente com Eli´ézer, na criação da raça incentivando pela própria cooperativa. “Devido ao tamanho dela, o investimento se mostrou viável, pois teríamos um local para mandar a produção”, assinala Lamartine.

A escolha pela raça também foi fator predominante. “Se não fosse para produzir com esse gado eu não produziria. O jersey é um gado dócil, rústico, de manejo simples e com alto rendimento, sobretudo de sólido. A gente ganha muito em cima da conversão alimentar e é um dos melhores animais para criação, segundo pesquisas”, explicou o produtor.

O tamanho das vacas também permite mais quantidade de animais no pasto e a persistência em lactação é muito grande, diz ele. “Tenho uma vaca que tem um ano e meio em lactação e ainda produz 15 litros. Ela abriu a lactação com 25 litros e ficou assim por um tempo acima do esperado. Na média ela produziu entre 18 e 20 litros por quase 10 meses”, completou.

Bons tratos e homeopatia

Na propriedade são criadas somente fêmeas e a reprodução é feita exclusivamente via inseminação. Segundo os produtores o macho da raça não é dócil e eles optam pela FIV para garantir a qualidade do gado e da produção. A meta é poder comercializar a raça em longo prazo.

Foto: Divulgação
Para os produtores, a forma de criação dos animais é essencial para um alto índice de qualidade do leite

Outro ponto que eles consideram fundamental é a forma de criação dos animais. Eles preferem uma criação harmonizada e sem tratos violentos. “Não temos o hábito de bater no animal, por isso quando a gente chama, ele vem. Também estamos investindo no plantio de árvores a fim de garantir sombra para eles”, conta Lamartine.

O investimento vem dando certo. Mesmo com a facilidade do manejo da raça, os produtores não abrem mão de hábitos simples e eficientes para manter a qualidade e o padrão do leite.

“Desde o início fazemos a limpeza com água tratada, pré e pós dip com iodo e enxugamos com papel toalha. Antes do pré dip eu ainda lavava com sabão de coco. Já a mastite tratamos com homeopatia. Também estamos sempre monitorando os índices de qualidade. No último mês teve uma taxa de CCS mais alta, mas chamamos o veterinário que nos dá assistência e verificou que haviam vacas que estavam com um ano e meio de lactação, aí é complicado manter baixa. Deu 620 e pela primeira vez que deu B na coleta. Até então sempre A, porém já resolvemos e voltamos ao padrão A", comentou.

Ao todo eles têm 21 animais até o momento e garantem que manter o padrão de qualidade é simples: “O negócio é fazer o básico e fazer bem feito. Primeiro manter a sanidade do gado. Qualquer machucado vai interferir na qualidade e o tratamos como crianças que precisam de cuidados especiais. Cuidamos da saúde do ubre e mantemos a higiene. E a homeopatia que é fundamental. Trabalho com ela há muito tempo e quando viemos trouxemos pra cá. Ficamos três anos consecutivos sem casos. Aqui teve dois casos apenas, mas também já sanamos”.

Investimento

Além dos cuidados com o gado em si, os produtores também investem em melhorias na propriedade. O rebanho utiliza uma área em torno de um alqueire e eles tem mais um alqueire reservado. “A ideia é trabalhar em três hectares e vamos fazer pastejo rotacionado para trabalhar com gado a noite. Também fizemos a troca do capim mombaça por kurumi em um trecho como teste, por causa da qualidade da forragem e pela redução do carrapato”, conta Leonam.

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Na propriedade são criadas somente fêmeas e a reprodução é feita exclusivamente via inseminação

Outro investimento é o Compost Barn. A técnica consiste em uma grande área coberta de descanso para vacas leiteiras, geralmente revestida com uma cama de serragem, aparas de madeira e esterco compostado. O principal objetivo é proporcionar aos animais, um local confortável e seco durante todo o ano.

Alguns produtores que utilizam o sistema relatam inúmeras melhorias como: maior conforto para as vacas, animais mais limpos, redução de problemas de perna e casco, diminuição da contagem de células somáticas (CCS), aumento da detecção de cio, aumento na produção de leite, menor odor e incidência de moscas, além de melhores condições de trabalho aos produtores. Um bom exemplo de produção e que mostra que qualidade de vida dos animais se reflete em qualidade do leite também. 

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