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Governo do ES ainda não tem data para divulgar protocolo do retorno do ensino infantil

No início do mês, o secretário estadual de Educação, Vitor de Ângelo, chegou a anunciar que o documento seria publicado dentro de sete dias

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação/ Burst

O governo do Estado ainda não tem prazo para divulgar a portaria que estabelecerá as medidas administrativas e de segurança sanitária para o retorno das aulas da educação infantil no Espírito Santo. No último dia 8, o Executivo Estadual publicou, em uma edição extra do Diário Oficial, um ato especifico com os protocolos a serem seguidos pelas instituições de ensino nos demais níveis da educação.

Na ocasião, o secretário de Educação do Espírito Santo, Vitor de Ângelo, divulgou um vídeo afirmando que a expectativa era de que o protocolo para a educação infantil fosse publicado ainda naquela semana. No entanto, o secretário alegou que a equipe responsável pela elaboração das medidas vem encontrando dificuldades e, com isso, o documento não tem data para ser divulgado.

"Aquele prazo [de sete dias] era verdadeiro naquele momento, combinado com a equipe da Sesa, porque era aquele o entendimento que a gente tinha, de que, em uma semana, seria possível já soltar um segundo documento — talvez uma portaria também — com os protocolos da educação infantil. Só que essas conversas a respeito da etapa específica, de 0 a 5 anos, se mostraram um pouquinho mais complexas, especialmente do ponto de vista técnico, para que a gente definisse, com todo cuidado necessário, [as regras] para uma etapa tão delicada de ensino", explicou Vitor de Ângelo, durante uma coletiva de imprensa, na tarde desta quarta-feira (26).

"Se o ensino superior e o médio têm a vantagem de tratar de alunos mais velhos, a dificuldade da educação infantil é que estamos falando de crianças de 0 a 5 anos, para quem a incorporação desses hábitos pode ser uma tarefa mais complexa. De um lado temos o desejo da volta, o medo em relação ao que estamos vivendo e a necessidade de que o protocolo seja um meio-termo para equacionar o medo com a convivência com vírus em uma etapa de ensino tão delicada. Esses sete dias se mostraram insuficientes e é só por essa razão que nós não divulgamos ainda. Mas estamos trabalhando, junto com a Sesa, para elaborar e divulgar esse documento assim que possível, o mais próximo possível", acrescentou o secretário. 

No entanto, o superintendente do Sindicado das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe), Geraldo Diório, discorda das alegações do secretário. Ele afirma que as escolas particulares já estão prontas para receberem os alunos, independente do nível de ensino.

"O protocolo é básico e deve prever o uso de máscara, disponibilização de álcool em gel, manter o distanciamento, entre outras medidas. A gente sabe que a criança não tem o mesmo entendimento de um adulto para cumprir as medidas, mas tem quem faça isso por ela. As escolas particulares estão sendo responsáveis de elaborar todas as normas com a maior segurança possível. Estamos prontos para a volta da escola, mas sabemos que não será aquela mesma escola de março", destacou o superintendente.

A diretora administrativa e proprietária da Escola Novo Mundo, em Vitória, Roberta Bonelli, ressalta que as crianças têm uma vantagem importante em relação aos adultos com relação à aprendizagem.

"As crianças não têm o mesmo entendimento do adulto, mas são muito mais fiéis naquilo que é passado para elas. Essa nova cultura, de uso de máscara, manutenção do distanciamento e maior cuidado com a higiene, elas vão ter que encarar em algum momento. Não adianta postergar. Quanto mais jogar isso para frente, pior. Há relatos de pais que afirmam que seus filhos têm enfrentado transtorno de ansiedade, medo excessivo e dano emocional por causa dessa situação. A escola tem um papel fundamental na formação do indivíduo, em sua socialização. Quanto mais cedo a gente ensinar às crianças sobre esse novo mundo, melhor. O trabalho que está sendo realizado online é muito bom, mas não substitui a escola", afirmou.

A diretora disse também que espera que as aulas para o ensino infantil sejam retomadas ainda neste ano. "É uma questão de bom senso. A maioria das pessoas já voltou a trabalhar fora, mas os filhos continuam longe da escola. Então as famílias acabam tendo que contratar outras pessoas para ficar com os filhos, o que também representa um risco. Também tem a questão econômica. Muitas escolas não vão conseguir sobreviver nessa situação. Os índices da doença já caíram, mas o governo ainda não cumpriu com a sua parte de retomar essas atividades. Vemos outras atividades sendo liberadas, que acabam causando mais aglomeração, mas as escolas continuam fechadas", frisou.

Geraldo Diório acrescenta que as instituições de ensino infantil foram as mais prejudicadas durante a pandemia, pelo fato de os pais de muitas crianças terem optado por tirarem os filhos das escolas. Segundo ele, há o risco de que até 70% dessas escolas não tenham condições de reabrirem as portas por questões financeiras.

"Até os 5 anos é o aprendizado máximo da criança. É quando ela consegue trabalhar com todas as inteligências possíveis. Mas, infelizmente, tem muitos pais que não têm esse entendimento. Se não tivermos alguma coisa para setembro, aquilo que nós imaginávamos no início que poderia acontecer, vai ser ainda pior. É possível que 60% a 70% das escolas de ensino infantil não consigam voltar", afirmou o superintendente.

Demais níveis

Durante a coletiva desta tarde, o governador Renato Casagrande anunciou que, a partir do dia 14 de setembro, faculdades e universidades poderão retomar o ensino presencial, obedecendo ao protocolo já divulgado pelo governo. Ainda segundo Casagrande, no próximo mês o governo estadual vai estudar a possibilidade de permitir a volta às aulas dos demais níveis já em outubro. 

O governador, no entanto, adiantou que o próximo nível a ter as aulas autorizadas será o ensino médio. Sobre a possibilidade de a educação infantil ser a última a ter as atividades presenciais restabelecidas, Casagrande preferiu não definir uma ordem para as demais etapas do ensino.

"Sabemos que o primeiro a retornar será o ensino médio, por questões óbvias. As pessoas já têm uma idade geralmente acima de 15 anos, já têm a compreensão de adotar todos os protocolos orientados, que podem ser cobrados dessas pessoas. Então não vamos tratar como o último. Estou tratando primeiro de quem poderá retornar. Se a gente conseguir um resultado bom, com todo mundo se envolvendo, a gente pode ter rapidez no retorno de todo mundo. Mas não dá para a gente ainda dizer sobre uma classificação desse retorno", afirmou o governador.

Questionado sobre a possibilidade de as aulas só voltarem no ano que vem, Casagrande disse que o próximo mês será fundamental para o governo avaliar os próximos passos com relação ao retorno das atividades presenciais.

"Nosso desejo é voltar as aulas todas ao mesmo tempo, Estado e municípios. Nós temos tarefas comuns, como no transporte escolar, por exemplo. Então nosso desejo é esse. Será possível? Não sei. O mês de setembro poderá nos responder efetivamente. Nosso desejo também é ter retorno às aulas em todos os níveis neste ano, sabendo que o cumprimento do ano letivo vai entrar em 2021. Nós não teremos condições de concluir o ano letivo presencial, de forma uniforme, no ano de 2020", ressaltou.

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