CIDADES: O NOVO NORMAL

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Legado da pandemia: telemedicina e home office vieram para ficar em Vitória

Oferecer serviços de saúde via tela amplia e democratiza o acesso. Em Vitória, foram mais de 10 mil consultas virtuais realizadas nos últimos quatro meses

André Vinicius Carneiro

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Ficar em casa protegido e distante das pessoas que temos apreço, enquanto a pandemia do novo coronavírus ganhava as ruas de cidades, hospitais e demais espaços, passamos a buscar novos caminhos para satisfazer necessidades básicas. Ampliamos o uso das tecnologias existentes, passamos a fazer uso devideoconferências com familiares e amigos. Aprendemos a fazer reuniões de trabalho, workshops, happy hour e até festas pela tela. 

No momento em que legitimamos a atenção via tela, a medicina impulsionou uma de suas modalidades mais promissoras: a telemedicina. Oferecer serviços de saúde via tela amplia e democratiza o acesso, além de ser uma prática solidária, já que diminuindo os atendimentos desnecessários nas urgências, abrem espaços para atendimento mais rápido e melhor para quem realmente precisa. 

Segundo o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-ES), Celso Murad, usar a telemedicina significa também cuidar daqueles que vivem distantes dos grandes centros e não conseguem ir às cidades onde há disponibilidade de serviços de saúde. Ou que ficam sem tratamento por falta de profissional especializado onde moram.

"A telemedicina não é um substituto para a consulta presencial e sim mais uma forma de atendimento médico que segue regras de boas práticas, confidencialidade e segurança. Há momentos em que examinar com as próprias mãos é imprescindível e jamais deixará de ser feito", ressaltou Murad

Além do atendimento médico remoto, outras terapias também já se beneficiam da tecnologia, como psicologia, nutrição e fisioterapia. Outro ponto positivo desta forma de cuidado é que em momentos de crise como este pelo qual estamos passando, médicos e profissionais de saúde podem seguir atendendo seus clientes, garantindo suas receitas e a sustentabilidade de suas estruturas.

Entrevista com o presidente do CRM-ES, Celso Murad

Para Celso Murad, o momento de pandemia também mostrou que a tecnologia é uma excelente aliada e vinha sendo mal aproveitada nos últimos anos. Para ele, em três ou quatro meses o avanço foi maior que nos últimos 15 anos. “Hoje, o médico que não se adaptar à telemedicina, por exemplo, vai acabar perdendo espaço. Há inúmeras utilidades nesse processo tecnológico, tais como consultas, acompanhamentos de exames, ajuste de medicação, tudo isso sem necessidade de algo presencial. Facilita muito a vida de muitos pacientes”, analisa Murad.

"Case de sucesso"

Desde o início da pandemia no Espírito Santo, o município de Vitória implementou o serviço de Telemedicina em duas vertentes: a teleconsulta e vídeochamada pelo celular. As ferramentas evitam que o paciente saia de casa para ter acesso ao atendimento médico. 

"Nós já temos uma rede de saúde toda informatizada, com receituário médico informatizado, atestado médico informatizada, prontuário eletrônico. A discussão da Telemedicina já vinha acontecendo, mas a pandemia acelerou a implantação do serviço. Tenho certeza que essa plataforma será perene, o município vai adotar como uma forma a mais na oferta para a população de Vitória", explica a secretária de Saúde de Vitória, Cátia Lisboa.

Foto: Thiago Rosa
A maior parte das consultas virtuais realizadas pelos médicos da capital foram relacionadas à covid-19

Segundo Cátia Lisboa, a tendência é que o serviço oferecido para a população da capital, por meio do Fala Vitória 156, seja ampliado para outras especialidades. "Hoje são 31 profissionais que já realizaram em quatro meses, quase 10 mil consultas virtuais. A maior parte delas, cerca de 60%, foram consultas relacionadas à covid-19. Mas temos também pediatra, ginecologista, clínico geral e no Centro Municipal de Especialidades nós temos a modalidade de Teleconsulta por vídeo consulta", explicou. 

Mas como se consultar por meio do serviço? A secretária explica: "o cidadão vai ligar para o 156, ele vai ser atendido por profissionais de enfermagem, que vão fazer uma escuta prévia e dependendo da queixa apresentada, o paciente será transferido para um dos médicos que estão em atendimento naquele momento", disse a secretária. 

Confira no vídeo como funciona a telemedicina na cidade de Vitória:

Quem fez uso do serviço de telemedicina na capital foi Marilda de Andrade Carvalho, moradora do bairro Maria Ortiz. Com dor de ouvido e as medidas restritivas de circulação, optou pela consulta por telefone.

Foto: Reprodução TV Vitória
Marilda de Andrade Carvalho, moradora do bairro Maria Ortiz. 

"Já estava há uma semana passando mal, com bastante incômodo no ouvido. Fiz a ligação pelo 156 e fui prontamente atendida. Fizeram meu cadastro, pegaram as informações e minutos depois conversei com o médico, fez a consulta por telefone. Passou medicação, exames. Acredito que muitas coisas que estamos sentindo, não tem necessidade de nos deslocarmos até uma unidade de saúde", opina Marilda. 

"Tudo simples, rápido e prático. Para mim, o recurso da telemedicina deve ser mantido após a pandemia", Marilda de Andrade Carvalho, moradora de Vitória. 

Home office e produtividade

Foto: divulgação PMV
O trabalho remoto adotado pela Prefeitura de Vitória contribuiu para a redução de gastos

Em março deste ano, com a implementação do decreto de estado de emergência em saúde pública devido a pandemia do novo coronavírus, a prefeitura de Vitória adotou o trabalho remoto para mais de 9,5 mil servidores, o equivalente a cerca de 70% do quadro da administração municipal. Cinco meses depois, o prefeito da capital, Luciano Rezende, comemora a decisão.

"Vitória há muitos anos tem trabalhado com a lógica de cidade inteligente, usando a tecnologia para atender melhor, gastar menos, fazer mais com menos e atender quem mais precisa. A pandemia só acelerou todo esse processo. Nós já estávamos com os aplicativos no telefone celular, hoje o serviço da prefeitura não tem fila, ninguém marca consulta com fila, a cidade tem mais de 350 pontos de internet grátis, tudo a serviço do cidadão", explicou o prefeito. 

Um dos exemplos da administração municipal que alinhou trabalho remoto e produtividade foi o trabalho realizado desde o início da pandemia na Secretaria da Fazenda de Vitória. Entre abril e julho, a secretaria realizou mais de 35 mil atendimentos ao público por telefone, e-mail e aplicativo de conversas para celular. Mais que o dobro da quantidade registrada entre novembro e fevereiro.

"A pandemia do coronavírus trouxe uma nova realidade, que desafiou a Prefeitura de Vitória na busca de uma nova forma de se comunicar com o contribuinte. Os servidores da Fazenda assimilaram isso e demonstraram uma capacidade grande de adaptação num curto espaço de tempo. Eles foram desenvolvendo entre si metodologias e procedimentos de trabalho de forma que conseguem manter a garantia e a qualidade do atendimento ao público, mesmo que de forma remota", disse o secretário de municipal de Fazenda, Henrique Valentim.

Além disso, o trabalho online da Prefeitura de Vitória também contribuiu para a redução de gastos. Enquanto em janeiro deste ano, a administração municipal gastou R$ 1.284.004,00 na conta de luz, em maio, essa despesa despencou para R$ 645.178,00. Já a conta de água caiu cerca de 40% no período de pandemia.

"Nós estamos atendendo melhor e um maior número de pessoas com o home office. Mais de R$ 500 mil economizados por mês vão ser usados para a prestação de serviço, em educação, em saúde, em melhoria do transporte público, coisas muito mais bem utilizadas", afirmou o prefeito Luciano Rezende.

Prefeito de Vitória, Luciano Rezende, fala do legado da pandemia:

O prefeito de Vitória, Luciano Rezende, também destacou que serviços implementados durante a pandemia, como a teleconsulta e o home office, vão continuar.

"A teleconsulta foi de extrema importância neste período de pandemia e vai continuar sendo uma ferramenta do serviço de saúde da capital. Do mesmo modo que o home office vai continuar. Tivemos economia com energia elétrica, água, sem contar as pessoas que deixaram de andar no transporte público pois estão trabalhando de casa", destacou Luciano.

A Prefeitura de Vitória prorrogou o prazo de atendimento remoto e online nas repartições públicas municipais até o dia 31 de agosto. A manutenção da suspensão do atendimento presencial não se aplica às áreas de Saúde e demais atividades essenciais, como Guarda Municipal, coleta de lixo, fiscalização, entre outras.

No momento, todos os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) da capital estão funcionando com atendimentos agendados e tomando todas as precauções para evitar a contaminação do novo coronavírus.

"Desde o início da suspensão das atividades presenciais por conta da pandemia do coronavírus, os Cras vinham atendendo demandas urgentes registradas no Fala Vitória 156. Mas, através do agendamento online, a pessoa já sabe a data e a hora do seu atendimento e não precisa aguardar o recebimento de uma ligação telefônica posteriormente", disse a gerente de Atenção à Família, Roseane Pimentel Rhodes Gonçalves Fernandes.

Cidades - O novo normal

Foto: Rede Vitória

O novo coronavírus alterou — e continua alterando — as relações pessoais e profissionais durante meses. Agora, a sociedade começa a se preparar para o período pós-pandemia: o 'novo normal'. Trabalhos estão sendo desenvolvidos pelo poder público e por iniciativas privadas para que as pessoas possam se adaptar a uma nova forma de viver. 

A série de reportagens "Cidades - O Novo Normal" traz uma abordagem sobre o novo normal na Saúde, Tecnologia, Mobilidade e nos espaços públicos, além de falar sobre as novas relações de consumo e convivência.

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