JULGAMENTO DO CASO MILENA GOTTARDI

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Hilário pediu ajuda a juízes durante processo de separação com Milena, diz delegado

A informação foi dada pelo delegado Janderson Lube, durante seu depoimento nesta quarta-feira, no júri dos seis acusados de participação na morte da médica

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: Montagem / Folha Vitória

Acusado de ser um dos mandantes do assassinato da médica Milena Gottardi, o ex-policial Hilário Frasson teria buscado ajuda de dois juízes para tentar reverter o processo de separação dele com a vítima. A informação foi dada pelo delegado Janderson Lube, durante seu depoimento nesta quarta-feira (25), no júri dos seis acusados de participação na morte de Milena.

Lube era o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM) na época em que a médica foi assassinada, em setembro de 2017, e conduziu as investigações da Polícia Civil sobre o caso.

Ao ser questionado por promotores do Ministério Público Estadual (MPES) sobre a tentativa de Hilário em influenciar juízes, o delegado respondeu que, nas gravações interceptadas pela polícia, durante as investigações sobre o assassinato de Milena, há alertas do acusado aos juízes "Farina" e "Júlio César". Lube, no entanto, não informou o nome completo dos magistrados.

Em depoimento à Polícia Civil, durante as investigações da morte de Milena Gottardi, o executor confesso da médica, Dionathas Alves Vieira, afirmou que Hilário queria que Milena fosse assassinada na Serra, porque lá o ex-policial civil teria um "juiz amigo".

A partir dessa informação e após terem acesso ao conteúdo das mensagens do celular de Hilário Frasson, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPES descobriram que o juiz em questão era Alexandre Farina Lopes, diretor do Fórum da Serra.

Farina foi afastado de suas funções, em julho deste ano, por suspeita de participação em uma venda de sentença, em favor de uma imobiliária da Serra. O suposto esquema é investigado pelo MPES, no âmbito da operação Alma Viva.

As investigações apontam que Farina e Hilário atuaram como intermediadores na suposta venda de sentença, que foi assinada pelo juiz Carlos Alexandre Gutmann, em março de 2017. O suposto esquema, no entanto, não tem qualquer relação com o assassinato de Milena Gottardi, que aconteceu seis meses depois.

Ainda em seu depoimento, nesta quarta-feira, Janderson Lube disse que o alerta feito por Hilário a Farina e Júlio César aconteceu na época em que Milena Gottardi havia conseguido uma liminar, na Justiça, que a permitia sair de casa com as duas filhas do casal. A decisão foi proferida em abril de 2017.

O delegado conta que, na época das investigações do assassinato da médica, não se atentou ao fato de Hilário ter procurado os dois juízes. No entanto, ele permaneceu com os extratos das gravações das ligações interceptadas do celular do ex-policial civil. 

Quando ficou sabendo da possível ligação de Hilário com Farina, por meio da operação Alma Viva, Lube voltou a consultar esse material e verificou, de fato, que Hilário havia enviado o alerta aos magistrados, na tentativa de obter ajuda no processo do divórcio com Milena.

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Relação entre Hilário e Farina

Segundo as investigações da operação Alma Viva, Hilário Frasson e Alexandre Farina atuaram como intermediadores da suposta venda de sentença em favor da imobiliária do empresário Eudes Cecato.

A partir da quebra do sigilo telefônico do ex-policial civil, os procuradores encontraram diversos diálogos entre Hilário e Alexandre Farina, que sugeriam negociações em torno da decisão judicial, proferida por Carlos Alexandre Gutmann, que também atua na comarca da Serra.

Em seu voto, durante a sessão do Pleno do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) em que foi decidido o afastamento de Farina e Gutmann, a relatora do processo, desembargadora Elisabeth Lordes, destacou que a fala de Hilário, indicando que o juiz da Serra seria seu amigo, foi o que fez com que os procuradores do MPES chegassem até o nome de Alexandre Farina e descobrissem as negociações a respeito da sentença proferida por Gutmann.

Segundo a desembargadora, o fato de o ex-policial civil ter declarado que preferia ser julgado na Serra "robustece o vínculo associativo entre Hilário Frasson e Alexandre Farina Lopes".

"Ele diz que esse crime deveria ter sido cometido na Serra, porque o juiz da Serra era amigo dele, e era mais fácil resolver as coisas lá. Com essa fala, o Ministério Público foi investigar quem era esse juiz e aí apareceu o nome do Alexandre Farina", declarou a relatora.

Os diálogos entre Hilário e Farina, a respeito da venda da sentença, ocorreram em fevereiro de 2017, e a decisão de Carlos Alexandre Gutmann foi proferida em março daquele ano.

As investigações contra Farina e Gutmann começaram em dezembro do ano passado. A relatora do caso disse que chegou a questionar a procuradora-geral do Estado, Luciana Andrade, sobre o porquê de fatos ocorridos em 2017 terem sido descobertos apenas em 2020.

"Ela explicou que o Ministério Público colhe esses celulares e, à medida que vai sendo feita a escuta, eles querem somente esclarecer determinado crime. E, no caso ali, era o homicídio da doutora Milena. Lá pelas tantas das escutas, apareceu essa fala desse acusado naquele processo", disse Elisabeth Lordes.

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