JULGAMENTO DO CASO MILENA GOTTARDI

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Testemunhas de defesa de Hilário Frasson encerram quarto dia de julgamento do caso Milena

Depoimentos destacaram o comportamento do ex-policial civil com a esposa e com as filhas

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução

"Pai dedicado",  "pessoa de fácil convívio", "tratamento com Milena e com as filhas era normal e cordial". Essas foram algumas frases das testemunhas de defesa no quarto dia do julgamento do réu Hilário Frasson, apontado pelo Ministério Público do Espírito Santo como um dos mandantes do assassinato de sua esposa, a médica Milena Gottardi em setembro de 2017.

Quem abriu os depoimentos foi Moisés da Silva Soares, porteiro do prédio onde o casal residia. Ele pediu que Hilário não estivesse presente no salão do júri. Disse que nunca teve conhecimento de alguma briga ou discussões entre Milena e Hilário nos 13 anos que trabalhou na portaria do edifício. 

Em seguida, ainda sem a presença do réu, foi a vez do médico ortopedista Tarciso Fávaro, que além de ter sido o professor de Milena, afirmou que tinha 20 anos de convivência com o casal. 

Disse nunca ter abordado marido e mulher sobre problemas de relacionamento embora tenha acompanhado o processo de separação. "Sobre a separação, ele tinha vontade de reatar o casamento. Mas, da parte dela, a vontade era contrária", explicou.

Foto: Reprodução

Fávaro relembrou que os casais e amigos promoviam encontros de jogos de baralho (canastra) e degustação de vinhos. Afirmou que nunca viu Hilário cometendo excessos com a bebida ou sendo grosseiro com Milena e as filhas durante essas reuniões. 

Disse que cedeu o seu apartamento para que o réu pernoitasse alguns dias por causa do processo de separação. Ali ele foi ficando. Os promotores do Ministério Público questionaram o médico se ele se lembrava de uma mensagem enviada por Hilário três dias antes de Milena ser assassinada, em 11 de setembro de 2017.

O conteúdo dizia: "Quarto cheio. Gata no pedaço". O médico respondeu que não se lembrava da mensagem e que, provavelmente, naquele dia estava em casa de outro amigo.

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Fávaro lembrou do desespero de Hilário ao saber que Milena havia sido atingida por um tiro na cabeça no estacionamento do Hospital das Clínicas. Ele trabalhava perto, no Hospital Santa Rita. 

"Ele me mandou uma mensagem para que eu socorresse Milena. Eu pensei que tinha sido um assalto, ou que ela tivesse caído, mas quando cheguei lá, fui surpreendido. Ela tinha sido baleada. Fui direto ao centro cirúrgico porque o tiro foi na cabeça e sou cirurgião de coluna e queria saber se poderia ajudar", relembra. 

O ortopedista saiu do hospital de madrugada e admitiu que só um milagre salvaria a médica devido à gravidade do ferimento. Ele pediu que Hilário deixasse o apartamento. 

"Encontrei com ele e tive uma conversa muito dura com ele. Disse que tinha me pedido para ficar em meu apartamento mas que gostaria que ele deixasse o local, que entregasse a chave na portaria, o que não aconteceu. Troquei a fechadura. Senti que aquilo era o fechamento da amizade", concluiu.

Amigos do trabalho destacam convivência fácil 

As duas últimas testemunhas de defesa de Hilário escutadas nesta quinta-feira (26) foram colegas de trabalho no tempo em que ele atuava como assessor no Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo (TJES).

Os seis réus, apontados como responsáveis pela morte de Milena Gottardi, acompanharam os dois depoimentos.

O amigo Rodrigo Alves Alver conheceu o réu em 2008, quando trabalharam no gabinete do desembargador, hoje aposentado, Arnaldo Santos Souza. "Era uma família muito querido por nós. Minha esposa ficou muito amiga da Milena. Me recordo de, algumas vezes, ele aparecer no gabinete do desembargador com as filhas", destacou.

Alver disse que os casais se encontravam em jantares e nunca percebeu nenhuma grosseria e agressividade por parte de Hilário em seu trato com a esposa e as filhas. "Era um pai que gostava das filhas mas não era muito afetuoso, era zeloso", destaca.

Disse que, após a separação, o réu chegou a telefonar para ele duas vezes. "Ele ficou realmente muito abalado com a separação. Chorava muito", descreveu.

No trabalho, os dois se davam bem. "Ele escrevia bem, tinha uma boa produção. Era da área cível", resumiu. Alver explicou que o convívio entre eles diminuiu depois que Hilário saiu do TJES por passar no concurso da Polícia Civil. Apontou que o salário dele, na época como assessor nível 2, ficava entre R$ 10 mil e R$ 12 mil.

O outro colega de Hilário no Tribunal de Justiça, que fechou os trabalhos do dia, foi João Guilherme Souza Pelição. Assessor do desembargador Ney Batista Coutinho, ficou amigo do réu quando foi convidado a trabalhar no mesmo gabinete.

 "Tínhamos uma convivência harmoniosa. Fui amigo íntimo dele enquanto estava no Tribunal de Justiça, mas perdemos o contato após a prisão. Era um bom profissional, escrevia bem, mas não se destacava nem para cima e nem para baixo. Quando Milena saiu de casa, ele me ligou e estava muito emocionado", relembrou.

Pelição estava com Hilário no dia do crime. E disse que ele entrou em desespero com a morte da médica. "Ele estava muito desesperado, tentou invadir o centro cirúrgico. Depois recebemos a notícia do falecimento. Ele aparentava não aceitar a morte. Também o acompanhei ao DML para reconhecimento do corpo", relatou.

Ele finalizou explicando que não visitou Hilário na prisão porque, por ser um assessor jurídico na área criminal,  decidiu se abster de ter contato com o réu para manter a isenção profissional. 

"Todas as pessoas merecem respeito, independente do que praticaram. Espero a decisão desse processo para decidir se vou continuar com a amizade", destacou.

Rodrigo Bandeira de Melo, advogado de defesa de Hilário Frasson

Foto: Marcelo Pereira / Folha Vitória
Advogado de defesa de Hilário Frasson, Rodrigo Bandeira de Melo, acredita que o réu irá elucidar o caso com um depoimento calmo e responsável 

Qual sua avaliação deste quarto dia de julgamento com os depoimentos das testemunhas de defesa de Hilário Frasson?

Mais uma vez um dia muito importante de depoimentos. Não tem menos ou mais importante. Tanto os da acusação quanto os da defesa são extremamente importantes para elucidação dos fatos porém estamos numa nova etapa desse julgamento. Temos testemunhas de defesa, pessoas que conviviam muito de perto com Hilário e com Milena e que, por isso, tem a capacidade de nos auxiliar a descontruir uma imagem que, a nosso ver, foi construída equivocadamente ao longo desses quatro anos a respeito de Hilário como marido, Hilário como pai e, principalmente, Hilário como pessoa. 

Algumas das testemunhas de defesa não quiseram depor com a presença de Hilário Frasson. Isso não vai de encontro ao desejo da defesa de descontruir o que atribuíram à imagem dele e que vocês consideram inadequada?

Isso é normal, a gente vê muito isso acontecer. Embora sejam testemunhas de defesa, é um ambiente muito carregado para quem não está acostumado, um ambiente pesado que envolve muita carga emocional. Às vezes, a presença do réu, que pode ter sido amigo próximo ou amigo íntimo, pode causar um abalo psicológico e, inclusive, atrapalhar o depoimento. Então, no caso dessas pessoas que optaram por testemunhar e depor na ausência dos réus isso é perfeitamente comum. Isso é observado em outros julgamentos também pelo efeito psicológico, pelo efeito de desconcentração que a presença desses réus pode causar e acabar atrapalhando o depoimento.

O que esperar do depoimento de Hilário Frasson?

Esperamos a verdade. Esperamos um depoimento calmo, sereno, responsável. Que ele possa ouvir atentamente o questionamento de todas as partes e que assim nós possamos elucidar ainda mais os fatos.

Rodrigo Monteiro da Silva, promotor do Ministério `Público Estadual

Foto: Marcelo Pereira / Folha Vitória
Promotor Rodrigo Monteiro da Silva acredita em condenação para os seis réus

Qual a análise deste quarto dia de julgamento?

O dia de hoje foi um dia muito produtivo. Creio que foi o dia mais produtivo desde o início do julgamento. Tivemos um depoimento forte e emocionante do irmão da vítima, relatando os detalhes fundamentais da personalidade de um dos envolvidos no crime e da possessividade, da perseguição, da ausência de entendimento de uma separação justa. Enfim, foi um depoimento forte e muito esclarecedor. Ao final deste depoimento tivemos várias testemunhas de defesa com depoimentos muito curtos. Isso ajudou a dar uma dinâmica no dia. Amanhã, sexta-feira (27), iremos continuar com duas testemunhas de defesa pela manhã e iniciaremos os interrogatórios. Acreditamos que os interrogatórios devem ocorrer no dia de amanhã e com chances de extensão até o dia de sábado quando iniciaremos os debates. 

O MP sustenta condenação para todos os seis réus?

O Ministério Público continua acreditando na condenação dos acusados, continua acreditando na certeza de que será feita a Justiça nesse processo. As provas são claras, cristalinas, não há como chegar a uma decisão, a um entendimento diverso da participação dos seis réus nesse crime covarde que chocou toda a sociedade capixaba. 

Quem será o primeiro réu a ser interrogado?

Acreditamos que o primeiro a ser interrogado será o réu Dionathas Alves Vieira. Já foi um pedido da defesa do réu Hilário para inverter a ordem dos interrogatórios. A defesa do réu Dionathas não apresentou nenhum tipo de obstáculo, nenhum tipo de contradição em relação a isso. Deveremos começar com o interrogatório dele. Acredito que esse interrogatório deve durar de três a cinco horas. 

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