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Ameaças de massacre em escolas devem acionar sinal de alerta

Casos de ameaças em escolas do Espírito Santo e de outros estados do país têm chamado a atenção de especialistas. Há cerca de dez dias, um jovem foi preso após invadir uma escola de Vitória com arco e flechas, facas e outros artefatos

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução TV Vitória

Ameaças de massacre em escolas, nos últimos meses, têm assustado educadores e pais. Na última semana, um jovem de 18 anos invadiu uma escola no bairro Jardim da Penha, em Vitória, com arco e flechas, facas, munições e bombas de fabricação caseira. 

Em julho, outro caso foi registrado no Espírito Santo. Segundo investigações da Polícia Civil, uma adolescente de 12 anos teria feito ameaças de "massacre" em uma escola de Linhares, no Norte do Espírito Santo.

Um mês antes, em junho, uma mensagem em tom de ameaça foi encontrada em um banheiro de uma escola particular de Jardim da Penha, na Capital. O texto dizia que teria um "massacre" no local.

As mensagens rabiscadas nas paredes de colégios brasileiros ou publicadas em redes sociais são diversas. Nenhuma delas se materializou, mas especialistas avaliam que devem ser lidas como sinal de atenção. Além do reforço de segurança, aconselham aprimorar canais de expressão da escola, para acolher alunos.

O que provoca atos violentos em escolas? 

De acordo com os especialistas, as causas de um ato violento são complexas e variadas. Uma pesquisa do Instituto Península, realizada com escolas públicas e privadas em junho, aponta que mais de 70% dos professores relatam "dificuldades de relacionamento" das crianças e adolescentes. 

Para a professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Silvia Colello, a pandemia é um dos fatores que dificulta o relacionamento dos alunos com a escola.

"Os alunos perderam vínculo com a escola. Depois de dois anos de pandemia, a escola passou a ser território estranho e até hostil. Principalmente porque há pressão absurda para que recuperem num curto espaço de tempo o que deveria ter sido feito num longo espaço", disse.

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Embora muitas das manifestações dos jovens sejam justificadas como brincadeiras ou falas sem intenção concreta, psicólogos fazem o alerta. Especializado em tragédias, o psicólogo Luis Picazio Neto destaca a importância de incrementar a segurança e também prestar treinamento aos professores e escolares sobre como lidar com atentados - indicar saídas de emergência e rotas de fuga, por exemplo.

"Quando temos uma coisa dessa no muro da escola, não podemos cruzar os braços", pontua.

Apesar de o aumento do policiamento ser ação emergencial necessária, ela não está no "cerne" da questão, de acordo com a psicanalista Miriam Debieux Rosa, do Instituto de Psicologia da USP.

"Quando aparecem, essas ameaças são analisadores de que a escola precisa repensar os canais de expressão. Há um mal-estar que está ganhando canal de expressão nessa modalidade da agressividade", disse.

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Miriam é uma das profissionais que ajudou no atendimento da comunidade da Escola Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, onde uma dupla de jovens matou dez pessoas em 2019. 

"Eu me lembro em Suzano que um dos meninos que falou: 'Por que vocês vieram só agora?' Esse menino queria dizer que muitas coisas violentas, que não levavam esse nome, estavam acontecendo. E o Estado, a escola e os agentes de saúde não conseguiram ver antes", explicou.

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Silvia Colello pondera ainda que, em caso de se detectar que um aluno ou grupo é responsável por uma ameaça, o caminho inicial não deve ser o da "punição pela punição", pois essa pode gerar mais violência. O ideal, aponta, é chamar os responsáveis para o diálogo. "A tentativa da escola tem de ser justamente de entender o que sustenta aquela postura agressiva, para tentar negociar com eles."

Postagens nas redes sociais servem de alerta?

As redes sociais, no Brasil e nos EUA, têm milhares de postagens e "avisos vagos de ameaças de tiro". O Departamento Federal de Investigação (FBI) disse no ano passado, ao The New York Times, que elas não têm credibilidade e pediu que, ao se deparar com uma ameaça, as pessoas entrassem em contato com as autoridades.

"Não compartilhe ou encaminhe a ameaça. Fazer isso pode espalhar desinformação e pânico", orientou no Twitter.

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Pânico, medo e violência podem ser "extraordinariamente" contagiosos. É o que diz a cientista de dados canadense Sherry Towers, uma das primeiras a usar modelo de contágio para analisar prevalência de massacre em escolas nos EUA, em 2015.

"Esses massacres acontecem com uma regularidade chocante. Descobrimos que, de fato, havia evidências de que eles estavam agrupados e cerca de 20% a 30% pareciam ter sido inspirados por um evento relativamente recente. Quando fizemos o estudo, não examinamos como o contágio acontece, mas inferimos que a atenção da mídia de massa prestada a esses incidentes foi talvez o que estava dando ideia às pessoas para cometer ato semelhante. Há contágio em todos os tipos de comportamentos humanos, é o que nos torna humanos e impulsiona nossa sociedade. Uma semelhança de pensamento sobre certos tópicos, como a maneira de nos vestirmos, comermos. Somos espécie pré-programada para estar atenta ao que os outros ao nosso redor estão fazendo. Infelizmente, isso também se transforma em violência. A violência pode ser extraordinariamente contagiosa", afirmou.

*Com informações do Estadão Conteúdo.

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