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Perfil com nome de jovem que invadiu escola de Vitória se define como "sancto"; entenda o termo

No Instagram, Henrique Lira Trad tem o perfil trancado, poucos seguidores e, na "bio" o jovem diz: "Fui forçado a criar isso aqui. A única info que terás de mim: Sou Épico. #podre #sancto"

Lais Magesky

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução

Com um perfil no Instagram, o jovem Henrique Lira Trad, de 18 anos, se define como "sancto". O rapaz invadiu a Escola Municipal de Ensino Fundamental Eber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, na Capital, na última sexta (19), munido de uma mochila com arco e flechas, facas, três bestas, munições, bombas de fabricação caseira e coquetel molotov, e a intenção, segundo relatou à polícia, era matar sete pessoas e ser morto pela Polícia Militar.

Na rede social, Trad tem o perfil trancado, poucos seguidores e, na "bio" — local para inserir uma descrição de 150 caracteres, localizada abaixo do seu nome de usuário e dos dados do seu perfil na página — o jovem diz: "Fui forçado a criar isso aqui. A única info que terás de mim: Sou Épico. #podre #sancto".

Durante coletiva de imprensa realizada na última sexta-fera (20) após a detenção de Henrique, o major Isaac Rubim, da Polícia Militar, afirmou que o jovem se assemelha com os invasores responsáveis por grandes tragédias em escolas dos Estados Unidos. Vestido de preto da cabeça aos pés e de cabelos longos, Henrique chegou a destilar ódio nas funcionárias da escola no momento em que foi detido. Veja:

Mas o que significa o termo com o qual o jovem invasor se caracteriza? Segundo o site de notícias UOL, palavra como "chan", "sanctus", "incel" e "dark net" viralizaram no noticiário durante a cobertura de crimes como o massacre realizado em uma escola em Suzano (Grande São Paulo), cujos atiradores usaram obscuros fóruns de ódio no submundo da internet para conversar.

O site também explica que "chans" são fóruns online, onde qualquer pessoa pode postar textos e imagens de forma anônima, criando e desenvolvendo tópicos de discussões. Nesses fóruns, costumam rolar assuntos variados e imagens normalmente inofensivas, como memes. Mas o anonimato tornou esses sites locais propícios para uma cultura de ódio e um ambiente de crimes e ameaças.

Sancto/sanctum/Sanctvm: termo em latim para "santo", e muito usado por "incels" para glorificar os que conseguiram realizar ações criminosas. 

Conheça abaixo alguns dos termos mais populares:

Chan/imageboard: Um imageboard ("quadro de imagens"): é um tipo de fórum de discussão na internet. Ele tem interface simples e se baseia na postagem de imagens e textos, geralmente de forma anônima. Atualmente o termo mais conhecido do imageboard é "chan" (abreviatura do inglês "channel", canal). 

Deep Web/Deep Net: são todas as páginas, lojas virtuais e fóruns de internet que estão escondidos e inacessíveis aos motores de busca, como, por exemplo, Google ou Bing. Eles usam os protocolos padrão HTTP/HTTPS para que possam ser acessados por navegadores próprios. 

Dark Net: são páginas que estão escondidas na internet convencional e inacessíveis aos motores de busca e que, para acessar, você precisa de um tipo específico de software. Chans podem estar tanto na dark net quanto na internet convencional. 

Anon: sigla para "anônimo", e como é chamado um usuário anônimo de um chan. 

Board e /b/: os chans são divididos em "boards", que é o nome dado às seções fixas do fórum de acordo com temas ou atividades específicas. O /b/ geralmente é o fórum destinado a assuntos aleatórios, e normalmente é o board mais acessado dos chans. Muitos memes nascem no /b/. 

CP: sigla usada nos chans para "child porn", pornografia infantil. 

Falho: refere-se a pessoas que "falharam" na vida, e segundo os usuários dos chans, é atribuído a quem carece de vida social ou habilidades de comunicação interpessoal. 

Incel: corruptela do inglês involuntary celibacy (celibato involuntário). Designam pessoas —geralmente homens— caracterizadas pela virgindade indesejada e, por conta disso, uma rejeição crescente ao sexo oposto. Os incels são vertentes ou desdobramentos de grupos como os ativistas dos "direitos dos homens". 

Foto: Reprodução

Jorge: expressão utilizada em chans latinos para definir pessoas que fracassaram ao tentar realizar atos chocantes ou terroristas. A origem do nome vem de uma captura de tela de um telejornal, que trazia um menino e o título em espanhol "Jorge queria ser 'hardcore' mas sua mãe não o deixa". 

Lulz: é uma corruptela da popular sigla em inglês "LOL", que significa "Laugh Out Loud" (Rindo bem alto). Geralmente "lulz" é usado para expressar a alegria pelo sofrimento dos outros. 

Raid: é um tipo de campanha de arrastão na internet. Por exemplo, usuários de um chan se organizam para invadir o site de um rival redirecionando o endereço a pornografia infantil até o servidor tirá-lo do ar. 

Tor: navegador de código aberto que garante comunicação anônima e segura ao navegar na internet. Pode ser usado para ativistas se protegerem contra a censura, mas também para acessar a dark web. O Tor redireciona o tráfego de internet por uma rede de servidores voluntários e distribuídos pelo mundo. 

Troll: gíria usada para os usuários de internet que costumam "causar" ou criar pegadinhas em comentários de internet e redes sociais, sem motivação aparente além da diversão própria. Muitas vezes os trolls não acreditam realmente no que estão dizendo, e escrevem conteúdo repulsivo apenas para acompanhar a reação das pessoas. 

Fonte: site de notícias UOL

A invasão

Henrique Lira Trad, de 18 anos, tentou invadir a escola Eber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, na Capital, na última sexta-feira (19) pelo portão e teve acesso negado pelo porteiro. O rapaz tentou forçar o portão a abrir, mas teve as tentativas frustradas pelo profissional na portaria.

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Depois disso, o mesmo escalou a grade externa da escola, que dá acesso a um corredor de serviços. Após esse corredor, ele conseguiu acessar as dependências da unidade de ensino.

Jovem disse que queria matar 7 pessoas e ser morto pela PM

Em depoimento à polícia nesta sexta-feira (19), o jovem de 18 anos que invadiu a escola, contou que tinha a intenção de matar 7 pessoas e, em seguida, provocar um confronto com policiais, que acabariam tirando a vida dele. A informação foi confirmada em coletiva de imprensa realizada na Delegacia Regional de Vitória.

Foto: Divulgação / Polícia Civil

Também em coletiva, foi dito que o rapaz teria completado o último ano letivo na instituição no ano de 2019. Durante abordagem na escola, ele afirmou que havia um cúmplice ao lado de fora, munido com bombas, circulando pela região. Já em depoimento, disse que esta afirmação era falsa.

Além disso, em coletiva, foi relembrado que a mesma escola já tinha recebido avisos com ameaças de ataques, que, até então, não tinham se concretizado.

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Major confirma que jovem é ex-aluno

Demandada, a Polícia Militar, por meio do Major Isaac Rubim, confirmou que o rapaz era de fato um ex-aluno. "O caso aconteceu por volta das 15h, horário em que a escola estava cheia, com várias crianças. Não achamos cúmplices a princípio e não sabemos exatamente a motivação do caso", disse.

O major frisou ainda a importância da chegada a tempo da Polícia Militar, que evitou uma tragédia.

"O porteiro tentou pará-lo na entrada. Logo um morador percebeu uma confusão e ligou para um policial. Aqui a comunidade é muito próxima e conseguiu acionar rapidamente. É muito cedo para confirmar que ele faria parte de algum grupo da Deep Web, mas o estranho é que estava vestido todo a caráter, como em filmes americanos, todo de preto", acrescentou.

Funcionários se esconderam na sala dos professores

Diante da tentativa de ataque feita pelo jovem de 18 anos à Escola Eber Louzada Zippinotti, com medo e para se protegerem, profissionais da unidade correram para a sala dos professores e se fecharam lá, passando a avisar aos demais colegas para trancarem suas salas de aula. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Segurança Urbana (Semsu) da capital.

Ainda segundo a pasta, assim que foi acionada, a Guarda Civil Municipal de Vitória (GCMV) enviou equipes ao local para acompanhar a Polícia Militar, que deteve o aluno. O suspeito ainda não teve o nome divulgado.

Segundo informações da prefeitura de Vitória, agentes da Guarda permanecem patrulhando o local e realizando ponto base para garantir a segurança de servidores e estudantes. Além disso, uma equipe técnica da Secretaria de Educação (Seme) está no local para apurar os fatos e dar todo suporte à comunidade escolar.

Os estudantes, profissionais e colaboradores estão sendo acolhidos e já na segunda-feira (22) será iniciado um trabalho de práticas restaurativas.

Um estudante chegou a ter o rosto arranhado e, após a detenção do suspeito, a família foi chamada à unidade de ensino. A mãe da criança foi orientada a registrar um boletim de ocorrência.

Após audiência de custódia, Henrique foi levado para hospital psiquiátrico

Henrique passou por audiência de custódia neste sábado (20) e foi levado para o Hospital Estadual de Atenção Clínica (HEAC), em Cariacica. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado da Justiça (Sejus).

O processo do jovem está sob segredo, de acordo com o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES). Henrique foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil, com impossibilidade de defesa da vítima e contra menor de 14 anos.

A reportagem do Folha Vitória não conseguiu localizar a defesa ou familiares de Henrique. O espaço está aberto caso queiram se manifestar.

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