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“Brincadeira” de rapper gera polêmica e mobiliza feministas no ES

Os posts, feitos na última quinta-feira (11), traziam dizeres que faziam apologia a vários tipos de violência contra a mulher, especialmente a feministas

Algumas declarações feitas pelo rapper Foto: Reprodução

Uma “brincadeira” feita pelo rapper capixaba - conhecido como Pacheco - em uma rede social mobilizou os integrantes e apoiadores de movimentos feministas do Espírito Santo.

Os posts, feitos na última quinta-feira (11), traziam dizeres que faziam apologia a vários tipos de violência contra a mulher, especialmente a feministas. “Você já espancou uma feminista hoje? Ainda há tempo, nem acabou o expediente ainda”, dizia uma das postagens.

Logo depois das declarações feitas pelo rapper, internautas capixabas e até seguidores do rapaz demonstraram grande repúdio ao que foi declarado por ele. Os posts foram compartilhados inúmeras vezes, deixando claro que a “violência contra a mulher” virou tema de grandes discussões e reflexões no Estado. 

Para Ana Lucia Rezende, integrante do Coletivo Femenina, o importante é não deixar que o caso seja esquecido. “A gente fez uma nota de repúdio sobre o caso, várias pessoas compartilharam e nos deram apoio. Depois, fizemos uma ação na Ufes, colamos cartazes com os posts publicados pelo rapper, para conscientizar não só as mulheres, como também a sociedade em geral. Recebemos uma proposta do movimento Hip Hop para irmos a uma reunião na Escadaria do Rosário, no Centro de Vitória, onde vamos dialogar sobre tudo isso que está acontecendo. Na verdade, o que nós estamos propondo é uma discussão sobre o tema. Defendemos que temos que denunciar qualquer forma de violência contra a mulher ou até mesmo uma apologia a esses crimes. Temos que denunciar, ir à delegacia, por mais que seja apenas uma brincadeira”, disse.

Ainda segundo Ana Lucia, membros do Coletivo Femenina pretendem levar o caso à Delegacia Especializada da Mulher. “Ainda não fizemos uma queixa formal sobre o caso porque estamos recebendo o apoio de muita gente. Não é interessante uma única queixa, o interessante é que as mulheres que também se sentiram ameaçadas façam uma queixa. Apologia ao crime não pode ficar impune. Queremos que as pessoas reflitam sobre esse tipo de atitude, várias mulheres são vítimas de violência no Espírito Santo todos os dias e esse número está crescendo”, afirma. 

Veja a nota de repúdio do Coletivo Femenina:

"O Coletivo Femenina e o Coletivo DasMina vem a público manifestar repúdio veemente às manifestações machistas e misóginas do cantor Pacheco (Delta 9) em redes sociais. 

Observamos nos últimos dias, principalmente no dia 13 de setembro declarações extremamente misóginas direcionadas ao movimento feminista de Vitória publicadas por “Pacheco” em redes sociais. Em um primeiro momento (já bastante preconceituoso e ofensivo) via twitter, “Pacheco” ameaçou chamar um "bonde" para estuprar as feministas no evento “VIRADA CULTURAL DO RAP” (em 13 de setembro), afirmou gostar de oprimir feministas e em seguida publicou em sua página pessoal que satirizou, satiriza e jamais deixará de satirizar o movimento feminista por considerá-lo "obviamente babaca”. Depois desta fala, Pacheco não parou e afirmou que desrespeitar o feminismo não significa desrespeitar mulheres. Lamentamos os comentários que apoiam tal comportamento e declaramos repúdio total e irrestrito ao discurso de “Pacheco”, que ecoa ódio às mulheres.

Sabemos que vivemos machismos cotidianos e que isso se expressa também nos movimentos sociais e culturais. O machismo só existe porque é culturalmente aceito. Porque ele é repetido à exaustão como algo inofensivo e, assim, normalizado, invisibilizado. Nós, mulheres, somos agredidas todos os dias pelo simples fato de sermos mulheres. E enquanto houver uma cultura de tolerância e de aceitação dessa violência, nós vamos continuar morrendo, sendo estupradas e silenciadas.

É preciso que estejamos atentxs aos preconceitos e misoginia veiculados em discursos e apresentações culturais. Ainda que se considere que os discursos machistas de “Pacheco” sejam exceção, demandam atenção e respostas dos movimentos sociais, pois é justamente nos discursos naturalizados que as violências se afirmam. Em hipótese alguma estupros de feministas, mulheres surdas ou qualquer outro grupo devem ser considerados piadas, principalmente no contexto do estado com mais altos índices de feminicídios do país.

Reiteramos, aos machistas do passado e do presente, o nosso repúdio e afirmamos que enquanto mulheres se organizarem para o combate ao machismo, racismo e capitalismo neoliberal que classifica as pessoas e a vida em valores monetários, suas atitudes não ficarão sem resposta! Machistas não passarão!

Coletivo Femenina e Coletivo DasMina Presente!"

Rapper se defende e diz que posts foram “brincadeira”

Na última segunda-feira (15), após ver a proporção causada por suas declarações, o rapper usou outra rede social para se defender. No texto, o rapaz diz que é contra a violência contra a mulher e que se cometesse tal ato, estaria “desonrando a família”. 

Depois de compartilhar o texto, o rapper excluiu o perfil no Facebook e também no Twitter.

Veja na íntegra a resposta publicado pelo rapper:

“Ae mano, vou esclarecer umas paradas. De ontem pra hoje tá rolando por ae vários prints de coisas que eu disse no twitter em relação às feministas. Primeiro de tudo, esclareço que o twitter é uma rede social onde apenas fala-se merda, dá pra contar nos dedos os perfis que ninguém fala merda, ninguém faz piada e tal. Depois vem a liberdade de expressão. Por último vem a parte que existe uma grande distância de algo que você disse pra algo que você tenha feito ou vai fazer de fato.

Vou usar aqui uma coisa que eu comentei num outro post. Quem me conhece sabe da minha conduta e sabe qual é o meu real posicionamento sobre o tema, no dia que eu encostar numa mulher pra cometer alguma violência eu vou estar desonrando o que meu pai me ensinou, vou estar desonrando a minha família, meus amigos, minha filha que também é mulher, vou estar desonrando o que eu tenho no meio das pernas e principalmente vou estar desonrando os meus próprios princípios.

Eu sou casado, tenho uma filha de 4 meses, trabalho de 8 às 18hrs, pago meu aluguel, pago minhas contas e sou muito feliz assim! Reconheço que a forma com que eu falei sobre o assunto pode ter sido um tanto quanto ofensiva, mas existem piadas muito mais “pesadas” que essa e ninguém se junta pra acusar o comediante. Reconheço que errei, mas estou apavorado por estar sendo chamado de estuprador!! Estuprador por quê? Quem aí me conhece o bastante e fica comigo 24hrs por dia pra poder dizer isso? Isso é coisa muito séria mano!!! Eu nunca faria uma coisa dessas e nunca dei motivo algum pra que pensassem isso, nem precisa me conhecer muito pra saber disso.

Foi uma puta infelicidade minha esse acontecimento, mas digo com toda sinceridade do mundo que aquilo não condiz com a minha realidade, era só piada. Tanto que bastante gente ria, porque conseguia separar as coisas. Quero pedir sinceras desculpas a quem isso possa ter afetado, sei que o que eu disse já está dito e eu vou ter que responder por isso, mas eu não quero que façam nada de ruim comigo por causa de uma brincadeira mal interpretada.

E outra coisa muito importante é que o grupo de rap do qual eu faço parte não tem absolutamente nada a ver com isso, sinceramente não estou entendendo porque estão relacionando as duas coisas. Eu tenho o meu perfil e o grupo tem o dele, as minhas opiniões são minhas, as opiniões do grupo são do grupo!

Mais uma vez peço desculpas mesmo de coração a quem tenha se sentido ofendido(a) com tudo isso.

Paz!!!”

Mais de 23 mil medidas protetivas no ES

Criada em 2006, a Lei Maria da Penha busca proteger os direitos das mulheres, e tenta pôr fim à violência doméstica. Dados da Justiça Estadual mostram que, só no Espírito Santo, 23.328 medidas protetivas foram emitidas entre os anos de 2006 e 2013. Somente no ano passado, foram 7.895 deferimentos.

Além de mudanças na legislação, várias cidades tetam adotar novos mecanismos para inibir casos de agressão às mulheres, como por exemplo, o "Botão do Pânico”. O sistema completou um ano de existência em abril de 2014. O dispositivo de segurança que ajuda a proteger mulheres vítimas de violência doméstica foi implantado originalmente em Vitória e já está sendo adotado em outras cidades do Brasil. 

Foto: Divulgação

Marcha das Vadias - passeata contra a violência

A Capital Capixaba recebeu neste ano a 3ª edição da Marcha das Vadias. O movimento luta pelos direitos da mulher e levanta bandeiras do direito ao corpo, direitos sexuais e reprodutivos, racismo, entre outras.

A morte de mulheres nas cidades capixabas reforça uma triste característica do Espírito Santo, e que torna movimentos como a Marcha das Vadias ainda mais necessários: esse é considerado o estado mais perigoso para ser mulher no país. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgados em 2013, a taxa de mortes femininas por violência doméstica no Espírito Santo foi de 11,24 mortes para cada 100 mil mulheres, mais que o dobro da média nacional (5,82 mortes por 100 mil mulheres). O estudo estima que, entre 2009 e 2011, o Brasil registrou 16,9 mil feminicídios, ou seja, mortes por conflito de gênero, principalmente vindos de casos de agressão pelo parceiro.

A Marcha das Vadias é uma iniciativa mundial que nasceu em 2011 no Canadá. O movimento leva esse nome em menção aos diversos abusos sexuais sofridos por mulheres na Universidade de Toronto. Na ocasião, um policial sugeriu que as mulheres evitassem usar roupas de “vadias” para que não fossem vítimas. No primeiro ano, o protesto levou cerca de 3 mil pessoas às ruas da cidade canadense.

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