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Após 6 meses sob suspeita, Neschling é afastado da direção do Municipal

Redação Folha Vitória

São Paulo - Após ser alvo de suspeitas por quase seis meses, o maestro John Neschling foi afastado na segunda-feira, 5, dos cargos de diretor artístico e regente titular do Teatro Municipal de São Paulo. Ele é investigado pelo Ministério Público Estadual por suspeita de participação no esquema de corrupção que teria desviado ao menos R$ 15 milhões dos cofres municipais. O maestro nega e considera a demissão ilegal.

O regente era funcionário do Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), organização social responsável pela gestão do teatro desde agosto de 2013. Oficialmente, a Prefeitura diz que o caso de Neschling ainda está sob análise da Corregedoria e sua saída agora é decisão autônoma do IBGC.

Mas o Estado apurou que a demissão teve aval do prefeito Fernando Haddad (PT). Segundo o contrato, firmado entre a entidade e a empresa que o músico mantém com a mulher, a escritora Patrícia Melo, o pagamento das duas funções somava R$ 150 mil por mês, além de mais R$ 8 mil para despesas variadas. O motivo oficial da demissão não foi divulgado pelo instituto. Também não foi anunciado novo diretor.

A decisão pegou o maestro de surpresa. No domingo, Neschling enviou nota à imprensa afirmando que tinha o apoio de Haddad para permanecer à frente do teatro. Na mensagem, deu a entender que chegou a pensar em se demitir, mas mudou de ideia após se encontrar com o prefeito na semana passada. Em vídeo segunda-feira no Facebook, o músico agradece o público que o prestigiou em espetáculo no domingo e afirma que está "forte" e continuaria o trabalho.

A postura de Neschling não teria sido bem recebida por Haddad, já pressionado por integrantes de sua campanha e da Prefeitura - nos últimos dias, a Controladoria-Geral do Município, a Corregedoria e a Secretaria Municipal de Negócios Jurídicos buscavam uma solução para o problema que havia se tornado o contrato com o maestro. Durante agenda eleitoral na segunda-feira de manhã, o prefeito afirmou que o caso estava em análise e um comunicado a respeito seria feito à tarde. A notícia foi antecipada pelo músico, que classificou a demissão como ilegal. Já o IBGC se limitou a informar que a agenda do Municipal não será alterada.

Investigações

O nome de Neschling foi citado nas investigações em março pelo ex-diretor da Fundação Theatro Municipal José Luiz Herência, primeiro delator do esquema. No acordo que firmou com o MPE, ele afirma que o músico não só sabia das fraudes como participava delas, usando a indicação de espetáculos superfaturados ou a contratação de artistas internacionais por valores superiores aos praticados no País. Um dos projetos sob investigação, o Alma Brasileira, custou R$ 1 milhão à cidade, apesar de nunca ter sido montado.

De lá para cá, o maestro passou a ser oficialmente investigado pelo Grupo Especial de Combate a Delitos Econômicos (Gedec), do Ministério Público, e foi novamente acusado, desta vez pelo ex-diretor do IBGC William Nacked, que também teve acordo de delação homologado pela Justiça. Assim como Herência, Nacked afirma que Neschling participava do esquema ao contratar espetáculos de agentes que depois o chamavam para apresentações no exterior, como uma espécie de "toma lá, dá cá".

Na segunda-feira, os promotores do Gedec afirmaram ao Estado que, "sem perder o respeito com os investigados e todos os seus direitos individuais, a investigação criminal vai a fundo para que todos os fatos sejam desmantelados, bem como o desvio de valores seja recuperado, pouco importando quem são as pessoas envolvidas". Os promotores ainda informaram que o maestro Neschling e seu advogado há muito tempo têm acesso aos autos do procedimento investigatório. "Ele será inquirido no momento oportuno e terá a oportunidade de, querendo, dar sua versão para os fatos sob apuração."

Para o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o esquema na Câmara Municipal, vereador Quito Formiga (PSDB), a demissão de Neschling foi tardia. "A permanência dele era insustentável diante do avanço das investigações. Agora que começou a campanha o prefeito Haddad resolveu agir. Ainda bem", disse.

Músico se diz traído e afirma que decisão é 'arbitrária e ilegal'

John Neschling se antecipou ao anúncio do Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC). O maestro comunicou a imprensa, em nota, na tarde de segunda-feira, que havia sido afastado da direção artística do Teatro Municipal. Nela, diz que a decisão foi um ato unilateral, que pretendeu extinguir seu contrato de "forma ilegal e arbitrária". Diante da situação, o músico afirmou que, juntamente com seus advogados, tomará as providências legais cabíveis.

Sem mencionar nomes, Neschling disse que "foi traído por todos aqueles que um dia disseram prezar meu trabalho, a cultura brasileira e o Teatro Municipal". Segundo ele, essas pessoas cederam à mentira e à pressão do Ministério Público Estadual, para manter em pé um projeto político.

Na nota, o músico afirmou que se mantém com altivez, de cabeça erguida. "Não participei de nenhum esquema, de nenhuma falcatrua. Reitero a minha inocência. Sempre julguei que aquele que é inocente deve permanecer onde está para aguardar com tranquilidade a investigação em todos os âmbitos."

Na avaliação de Neschling, há em curso atualmente um "complô político" que visa a manchar seu nome e sua história. "Quanto àqueles que atuam para liquidar meu nome e reputação, saibam que minha honra é fruto de minha trajetória de 50 anos de vida pública com imagem ilibada."

Acúmulo

O IBGC não comentou as declarações do maestro e agora ex-funcionário. Também por e-mail, afirmou que mais informações sobre o caso seriam prestadas no "momento oportuno". A organização agora terá de nomear um novo diretor artístico e também um novo regente titular para a Orquestra Sinfônica do Municipal - o maestro acumulava as funções. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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