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EUA: ataque de 11 de setembro completa 18 anos

Dezoito anos após atentado histórico, país registra demonstrações de ódio a estrangeiros. Guerra no Afeganistão também é consequência

Foto: Reprodução

Dezoito anos depois daquele 11 de setembro em que os Estados Unidos sofreram o maior atentado terrorista de sua história, é consenso que o país continua lutando contra atos de extremismo. A maior das ameaças, entretanto, não parece mais partir de radicais islâmicos do Oriente Médio, como aqueles que orquestraram o ataque às Torres Gêmeas em 2001.

“Nos Estados Unidos de hoje, é muito mais provável que você seja vítima de um ataque da extrema-direita doméstica do que de uma organização islâmica. O grande problema não é mais o Estado Islâmico, a Al Qaeda, e sim a ultradireita nacional”, resume o professor doutor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo).

Foi no último mês de agosto, aliás, que o presidente Donald Trump usou, pela primeira vez, a expressão “terrorismo doméstico” para qualificar os tiroteios em massa que deixaram mais de 30 mortos em um intervalo de 48 horas nas cidades de El Paso, no Texas — cujo responsável é suspeito de disseminar mensagens de racismo e xenofobia pela internet — e Dayton, em Ohio.

Agressividade de hoje é alimentada pelo 11 de Setembro

Trump reforçou que, “em uma única voz”, a nação precisa “condenar o racismo e a intolerância”. É certo que as manifestações de ódio estão por trás da maioria dos 38 ataques a tiros que deixaram três ou mais mortos — sem contar o atirador — nos Estados Unidos desde o início do ano. E, para os especialistas ouvidos pelo R7, parte de tamanha agressividade pode ter sido alimentada, também, pelo 11 de setembro.

Vinícius Vieira, professor de Relações Internacionais na FGV (Fundação Getulio Vargas), lembra que os Estados Unidos sempre foram marcados por fortes tensões de caráter identitário. “Até a 2ª Guerra Mundial, o poder na sociedade era quase que exclusivamente dos brancos anglo-saxões. Isso mudou um pouco depois do conflito, mas eles sempre se viram ameaçados por tudo o que era diferente”, aponta.

“Esse sentimento se fortaleceu depois do 11 de setembro, pelo fato de que os ataques foram perpetrados por homens de origem árabe e muçulmanos. Houve uma reação aos imigrantes em geral. O medo dos estrangeiros cresceu”, completa o professor.

A guerra no Afeganistão

Fora dos Estados Unidos, a maior das sequelas deixadas pelo 11 de setembro é a guerra do Afeganistão. O conflito se iniciou um mês após o ataque às Torres Gêmeas — depois que Osama bin Laden, o chefe do grupo extremista Al Qaeda, foi identificado como o grande responsável pelos atentados.

A guerra começou porque outra organização islâmica, o Taleban, que governava o Afeganistão à época, teria apoiado bin Laden e se recusou a entregá-lo a Washington — que acabou lançando ataques aéreos às cidades afegãs de Cabul, Jalalabad e Kandahar. “Penso que o presidente George W. Bush, naquele momento, reagiu como reagiria qualquer presidente dos Estados Unidos em relação ao Afeganistão”, diz Vieira.

Em linhas amplas, o Taleban acabou fora do poder no país do Oriente Médio com a intervenção dos americanos. Desde então, entretanto, a guerra do Afeganistão se arrasta enquanto diferentes grupos terroristas lutam contra uma estrutura de governo central e desafiam o poder econômico e militar dos Estados Unidos.

“A guerra iniciada por George W. Bush acabou se tornando uma grande batalha dos americanos nos anos seguintes. Barack Obama e Donald Trump tentaram lidar com as consequências, mas a verdade é que hoje os Estados Unidos — o país mais poderoso do mundo — continua envolvido em uma guerra em uma das nações mais pobres e não há saída no horizonte”, opina Lehmann, da USP.

Morte de bin Laden e diálogo com talibãs

E se o governo de Barack Obama foi o responsável pela captura e morte de Osama bin Laden no ano de 2011, a administração Trump promoveu conversas a fim de estabelecer um acordo de paz com o Taleban — em troca da retirada das tropas americanas, a organização islâmica se comprometeria a evitar que o Afeganistão se torne uma área controlada por grupos terroristas. Os encontros, contudo, foram suspensos desde o início do mês.

Há indícios, inclusive, de que o andamento das negociações tenha contribuído para a demissão, nesta terça-feira (10), de John Bolton — assessor de segurança nacional dos Estados Unidos que teria discordado de um plano de convidar os talibãs para um encontro em solo americano.

Para o professor Vinícius Vieira, ainda que Donald Trump aposte na retórica agressiva contra todos os que são considerados “inimigos externos” dos americanos, o presidente apresenta poucas ações concretas nesse sentido. “A prioridade de Trump é melhorar a economia e isso implica pôr um freio à tendência que se desenhava desde a era Bush de gastar rios de dinheiro com tropas no exterior.”

Perspectivas para a situação doméstica

Mesmo nos Estados Unidos, o especialista da FGV crê que pouca coisa deve mudar em relação ao terrorismo doméstico no curto prazo.

“Existe aí um problema de identificação. Trump reluta em identificar os ataques a tiros como terrorismo doméstico — e, no pensamento dele, se não é terrorismo não precisa ser combatido. Um jeito de lutar contra o problema seria a regulação do comércio de armas. Mas isso implicaria em contradizer uma parcela importante do eleitorado”, ressalta Vieira.

“Desta forma, me parece que, pelo menos sob um governo republicano, o estado das coisas não deve mudar no curto prazo — e, infelizmente, haverá mais bases para ataques partindo de dentro dos Estados Unidos”, finaliza.

* Com informações do portal R7

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