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Mãe de paciente com câncer faz greve de fome por pílula da USP

Redação Folha Vitória

São Carlos - A técnica de enfermagem Ana Rosa Natale, de 54 anos, iniciou uma greve de fome em frente ao Instituto de Química da Universidade de São Paulo, câmpus de São Carlos, na tentativa de receber as cápsulas de fosfoetanolamina sintética para o filho com câncer.

Moradora de Botucatu, também no interior paulista, ela estava desde as 7 horas da manhã sem comer. "Se não levar o remédio para meu filho, prefiro morrer com ele", disse, no início da tarde desta segunda-feira, 19. Uma irmã e outro filho davam apoio à mulher.

O doente, o músico Bruno Cauã Ramos, foi diagnosticado com câncer de pele em 2011 e se tratou, mas a doença voltou de forma agressiva em janeiro deste ano. "Fizemos quimioterapia em Jaú, mas não adiantou, os exames apontaram treze tumores na cabeça. Acharam melhor parar o tratamento e mandaram ele para morrer em casa", relatou.

Ela exibia a liminar, dada pela Justiça de São Carlos, e leu um trecho do despacho em que o juiz decide: "Ainda que a possibilidade de cura seja remota, esta não pode ser negada à autora." Segundo a sentença, embora a substância não tenha sido aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), há vários relatos de que ela promoveu melhoria no estado de saúde dos doentes.

O empresário Christian da Gama também estava na entrada do instituto com uma liminar datada de 15 de setembro. Ele viajara de Manaus, na tentativa de apressar a entrega das cápsulas. "Minha mãe está doente, desenganada. Não posso ficar em casa esperando", disse.

Somente nesta segunda, até a tarde, 25 novas liminares foram entregues ao instituto da USP. Em todos os despachos, a Justiça mandou fornecer as cápsulas da fostoetanomalina sintética aos pacientes. O composto, desenvolvido pesquisadores da USP, vinha sendo distribuído há 20 anos, mas a demanda se tornou mais intensa por conta de relatos de cura. Sem condições de manter as entregas, a USP suspendeu a distribuição, mas os doentes recorreram à Justiça.

A instituição mantinha nesta segunda-feira a decisão de enviar as cápsulas pelos Correios, de acordo com a ordem de chegada. Estão sendo entregues pedidos protocolados antes de 15 de setembro. A administradora, que pediu para não ter seu nome divulgado, pois já foi ameaçada de morte, disse que está sendo impossível atender com rapidez à "enxurrada" de liminares. "Nossa produção é suficiente para atender 100 pessoas por semana com 60 cápsulas cada, mas estamos recebendo de 40 a 50 liminares por dia", disse.

Segundo ela, em todos os casos, os pacientes estão em estado terminal. "Os parentes chegam exaltados, não aceitam esperar, agridem com palavras e até fisicamente os funcionários." Ela contou que, na semana passada, uma pessoa entrou armada no local. Outra, um advogado, a empurrou e agrediu um funcionário.

Em nota, a USP informou que as decisões judiciais são cumpridas de acordo com a chegada das liminares e capacidade de produção, já que não há como aumentar a capacidade. "Somos uma instituição de ensino e pesquisa, não temos laboratório farmacêutico", informou.

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