'Ao acordar senti o cheiro do meu filho', diz mulher ao sair do coma
Amanda da Silva, 28, entrou em coma durante parto e acordou 23 dias depois quando enfermeira teve ideia inédita de colocá-la em contato com o bebê
Deborah Giannini, do R7
“A primeira coisa que lembro ao acordar foi o cheiro do meu filho”, diz Amanda da Silva, 28, que entrou em coma durante o parto e acordou 23 dias depois quando o bebê, que ela ainda não conhecia, foi trazido para perto dela na UTI da Maternidade-Escola Assis Chateubriand, em Fortaleza, Ceará.
Segundo a enfermeira Fabíola de Sá, que teve a ideia de colocar o bebê em contato com a mãe para que ela reagisse, Amanda começou a chorar copiosamente antes mesmo que ele fosse colocado sobre seu peito.
“Foi antes do contato com a pele. Já sobre o peito dela, coloquei os braços dela envolta dele e então ela começou a produzir leite”, diz.
Amanda conta que foi “a sensação mais espetaculosa” de sua vida. “A primeira imagem que tive foi de sua cabecinha. Ele era exatamente como eu imaginava”, conta. “Acordei e não saia a voz. Quando meu pai falou que eu já estava há quase um mês lá não acreditei. Foi muito difícil”, completa.
Ela conta que, incialmente, se comunicava por meio de um papel sulfite, montando palavras com a ajuda das pessoas. “Não lembrava de nada quando acordei, apenas dos meus três filhos”. Ela também é mãe de Victoria Cristina, 4, e de Christopher Brian, de 1 ano e 9 meses.
Amanda se recuperou completamente em 20 dias, voltando para casa sem sequelas. Com epilepsia crônica desde os 7 anos, ela teve que reduzir os remédios que toma regularmente contra convulsões durante a gravidez para evitar riscos ao feto. “De três remédios, passei a tomar só um”.
Discussão antecedeu incidente
A última lembrança que guarda antes do ocorrido é que teve uma discussão em casa com o marido e saiu para “tomar um ar”. “Meu marido diz que me encontrou na rua desmaiada”, diz. “Passei muito nervoso e acho que esse foi o motivo da convulsão”, acredita.
A enfermeira afirma que a família teria relatado que ela vinha tendo crises convulsivas com frequência durante a gravidez.
Amanda estava entrando na 37ª semana de gestação quando chegou ao hospital, desacordada. Foi realizada uma cesárea de emergência e ela entrou em coma induzido, conforme explica Fabíola.
“Cerca de uma semana depois, quando tiramos os remédios, ela abriu os olhos, mas ‘não estava lá’. Ele recebeu todos os estímulos, dentro da conduta médica, mas não respondeu a nada. Estava apática, no chamado ‘estado de torpor’”, explica.
Segundo a enfermeira, como o quadro poderia se arrastar de “um mês a um ano”, foi decidido que ela seria encaminhada para outro hospital e, de lá, seguiria para cuidados domiciliares.
Mas uma reunião naquela tarde mudaria tudo. Apoiada em um programa colaborativo chamado Proadi-SUS, que tem o objetivo de humanizar e diminuir o risco de infeções em UTIs da rede pública, a equipe multidisciplinar conversou sobre recursos que poderiam ser utilizados para a melhora de cada paciente, inclusive Amanda.
“Foi quando tive a ideia de colocar o bebê em contato com a pele dela. Apesar de a UTI não ser um ambiente propício a um bebê, o infectologista analisou e confirmou que não haveria risco”, conta Fabíola.
Durante coma, Amanda diz que falou com mãe falecida
Durante os 23 dias em que esteve em coma, Amanda afirma que viu a mãe falecida. “Ela falava que a primeira coisa que eu tinha que fazer, quando voltasse, era pedir perdão para minhas irmãs. Não éramos muito unidas. Quando acordei, foi a primeira coisa que fiz”.
Ela conta que tinha a sensação de estar dentro de um caixão. “Via uma cor alaranjada”.
Além da mãe, ela também relata a imagem de um primo. “Tinha a visão de meu primo Alecsander, de quem sou mais chegada. Ele vinha até o caixão onde eu estava. Ele estava muito triste. Pegava na minha mão e dizia: você vai voltar’”, afirma.