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Criação de abelhas sem ferrão gera emprego e renda para famílias capixabas

A produtividade do mel produzido pelas abelhas sem ferrão é menor em quantidade, comparadas a maioria das espécies, mas possui 10% menos de açúcar

Foto: Divulgação

O Brasil tem mais de 200 espécies nativas de abelhas sem ferrão, também chamadas de meliponíneas. Originárias de regiões de clima tropical e subtropical, elas produzem mel com 10% menos açúcar que abelhas exóticas e com características diferentes de acordo com a espécie produtora. 

Enquanto alguns são mais viscosos e doces, outros são mais líquidos e azedos. Tanta variedade e exclusividade transformaram a criação racional de meliponíneas – ou meliponicultura – em uma boa fonte de renda familiar, além de contribuir para a recuperação ambiental.

A meliponicultura é a criação racional de abelhas sem ferrão (meliponíneos) para produção e comercialização de colmeias (ou parte delas), mel, pólen, resinas, própolis e outros substratos e à conservação da biodiversidade com a proteção das espécies contra a extinção.

A Associação dos Meliponicultores do Espírito Santo (AMES-ES) estima que, atualmente, 600 pessoas se dedicam a criação da espécie. Outras utilizam um pequeno espaço da propriedade que possuem, como explica o criador e um dos diretores da AME- ES, Adailton Gonçalves Pinheiro.

"Alguns criadores mantêm a colmeia em quintais e sítios. Em uma área de 300 metros quadrados, é possível ter até 100 colmeias. Quem começa nessa atividade se apaixona, por causa do baixo custo, pela facilidade com os cuidados e pela qualidade do mel que é produzido", afirma.

Uma das peculiaridades das abelhas sem ferrão é que, diferente das abelhas africanas, as mais utilizadas na apicultura brasileira, elas não produzem o mel em favos, mas nos chamados "potes". Além do mais, enquanto um litro de mel convencional é vendido em média por R$ 30, um litro do mel de abelha sem ferrão pode chegar a RS 150.

A produtividade do mel produzido pelas abelhas sem ferrão é menor em quantidade, comparadas a maioria das espécies, mas possui 10% menos de açúcar. Vários dos criadores mantêm a colmeia em quintais e sítios, bem próximos de pomares, inclusive na Grande Vitória, tudo para aumentar a produtividade das frutas e também o sabor.

Robson Barbosa, secretário executivo da associação, afirma que o grupo tem como objetivo levar um maior conhecimento sobre o tema para a população. “Entendemos que todos podem contribuir com a proteção das abelhas, e conseqüentemente, com a manutenção da natureza”.

Fonte de Renda

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As famílias receberam caixas para abelhas sem ferrão, confeccionadas pelo Incaper.

Famílias em situação de pobreza e extrema pobreza de Linhares, norte do Estado, estão sendo contempladas com ações direcionadas à criação de abelhas. O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) promoveu uma capacitação envolvendo nove famílias do município, e entregou caixas para que os beneficiários iniciem os trabalhos de apicultura e meliponicultura.

Os diagnósticos e os projetos produtivos feitos pela equipe do Incaper ajudaram na identificação da demanda. “Algumas famílias manifestaram interesse nas criações de abelhas africanizadas (apicultura) e sem ferrão (meliponicultura). As famílias encontravam dificuldades em acessar cursos, treinamentos, equipamentos e acessórios utilizados na criação dessas abelhas. Assim, foram programadas e executadas visitas técnicas constantes, treinamentos, oficinas e demonstrações de métodos, exposição de equipamentos e materiais da apicultura e meliponicultura”, explicou Alex Fabian Rabelo Teixeira, extensionista do Incaper em Linhares.

Para incentivar a meliponicultura, as famílias receberam caixas para abelhas sem ferrão confeccionadas pelo Incaper na Estação das Abelhas, situada na Fazenda Experimental de Linhares. Uma caixa usada para apicultura também foi disponibilizada para ser usada com modelo. Desta forma, as famílias podem, com a assistência técnica do Incaper, implantar pequenos apiários e meliponários, aumentando a segurança alimentar da família e a renda com a venda dos produtos da apicultura e meliponicultura.

“Foi bastante interessante, tendo em vista que a partir da oficina, com a exposição dos equipamentos, foi possível observar o entusiasmo e admiração das famílias, em particular das mulheres e dos adolescentes, que ficaram encantados com a biologia das abelhas, a organização e a importância desses insetos na produção de um alimento nutritivo, como é o mel, e o papel ecológico ao realizar a polinização, garantindo a produção de frutos e sementes”, acrescentou o extensionista do Incaper.

Expansão no litoral norte

A criação das abelhas sem ferrão tem se destacado nas aldeias indígenas de Aracruz, no norte do Estado. Esse ano foram produzidos 460 quilos de mel. É a maior produção em comunidades indígenas da América do Sul.

Cinquenta e quatro famílias de doze aldeias já são adeptas da meliponicultura. Cada família produz, em média, dois quilos de mel por ano. Uma delas é a da dona Regina Célia. Ela mora na aldeia indígena Córrego do Ouro. Quando recebeu o convite para criar abelhas sem ferrão no quintal de casa, ela aceitou na mesma hora.

"Meu avô criava abelhas lá no Ceará e lembrei da minha infância. Eu recebi o curso, comecei com 5 caixas de abelhas e agora tenho 37. Estou gostando muito porque aumentou a renda da minha família", conta Regina Célia Maciel da Costa.

Debate

Divulgação/Festival Montanhas Capixabas
Divulgação/Festival Montanhas Capixabas
Divulgação/Festival Montanhas Capixabas

Promover ações que busquem a devida valorização do papel da meliponicultura e dos próprios meliponicultores na conservação desses importantes agentes polinizadores. Esse foi um dos objetivos do workshop realizado na Reserva Ambiental Águia Branca, em Vargem Alta, região serrana do Estado. A iniciativa foi uma das diversas programações previstas no Festival Ambiental e Cultural das Montanhas Capixabas.

Durante o workshop na reserva ambiental, foi realizado um minicurso de iniciação em Meliponicultura, com representantes da Associação dos Meliponicultores do Espírito Santo, além da apresentação do projeto de reintrodução na natureza da Melipona Uruçu Capixaba. Por fim, houve uma oficina prática para os participantes, com manejo das meliponas. 

"O Festival deixou como legado três caixas de abelhas Meliponas na Reserva Águia Branca. O apoio da AMES-ES na realização do workshop foi fundamental, pois abordamos, entre outras atividades, o manuseio com ninhos, em especial a Uruçu Capixaba, endêmica da região e em sério risco de extinção por conta dos agrotóxicos", explica Sandro Firmino, do Instituto O Canal, realizador do evento.

Além de seu perfil conservacionista, a meliponicultura se destaca por utilizar recursos da nossa rica biodiversidade de forma verdadeiramente sustentável, uma vez que as abelhas sem ferrão são criadas, cuidadas e manejadas pelos meliponicultores de forma a permitir sua vida “livre”, diferentemente de outros animais silvestres que são criados comercialmente em cativeiro, para que posteriormente sejam abatidos para a geração de renda. 

Curiosidades

> Existe uma abelha sem ferrão que só é encontrada no Espírito Santo. A espécie melipona capixaba é conhecida como “uruçu negra”, “uruçu preta” ou “uruçu-capixaba”. Ela é uma excelente polinizadora, encontrada na região de Domingos Martins e corre o risco de extinção.

> Não pense que por não ter ferrão, as abelhas nativas não sabem se defender. Estudos mostram que elas tem um mecanismo de defesa suicida. É que se elas identificarem algum animal intruso nos ninhos-colônia, algumas espécies "mordem". E elas ficam tanto tempo presas ao alvo que acabam morrendo.

> Ficou curioso para experimentar o mel gourmet? Aqui no Estado, a maioria dos criadores vende o mel em feiras orgânicas. Já os meliponicultores de Aracruz conseguem vender para casas de produtos naturais e restaurantes sofisticados de São Paulo, que usam na produção de alguns pratos.

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