PROJETO TAMAR

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Quase 5 mil tartarugas verdes já foram capturadas, marcadas e devolvidas ao mar no ES

Pensando na melhor forma de proteger as tartaruguinhas, o Projeto Tamar e a ArcelorMittal Tubarão estão juntos nessa empreitada há 20 anos

Thamiris Guidoni

Redação Folha Vitória


Foto: Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus

As tartarugas ainda são um mistério para pesquisadores do mundo inteiro, mas com um jeitinho tímido e calmo, elas ganham a atenção e o carinho das pessoas. Conhecidas por uma grande capacidade migratória, elas também têm um ciclo de vida de longa duração. 

Pensando no bem-estar desses animais, o Projeto Tamar investe em recursos materiais e humanos para adquirir o maior conhecimento possível sobre a biologia das tartarugas marinhas, priorizando pesquisas aplicadas que resolvam aspectos práticos para a conservação desses seres vivos. 

De acordo com Rafael Kuster Gonçalves, oceanógrafo e pesquisador do Tamar, são anos de acompanhamento em parceria com a ArcelorMittal Tubarão. "Nestes 20 anos de monitoramento, 4.940 mil tartarugas verdes foram capturadas, marcadas e devolvidas ao mar. Embora os dados já expressem algumas informações relevantes sobre as tartarugas marinhas que usufruem da área da ArcelorMittal Tubarão, há questões, como seus padrões migratórios, que evidentemente necessitam de um maior período de acompanhamento para serem solucionadas."

Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus
Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus
Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus
Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus
Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus
Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus
Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus
Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus

Pensando na melhor forma de proteger as tartaruguinhas, o Projeto Tamar e a Arcelor estão juntos nessa empreitada há 20 anos. Localizada na Serra, a produtora de aço abriga um movimentado ponto de captura e estudo da espécie. A base de trabalhos do Projeto está instalada na área do efluente final da empresa, onde há grande aglomeração de tartarugas. Elas chegam atraídas, principalmente, pela água calma e morna que favorece a formação de um refúgio seguro e farto de alimentação.

A tartaruga verde (Chelonia mydas) habita águas costeiras com muita vegetação, ilhas ou baías onde estão protegidas, sendo raramente avistadas em alto-mar. Enquanto filhote, é uma espécie onívora com tendências carnívoras, tornando-se basicamente herbívora a partir dos 25-35 cm de comprimento de casco.

"O canal de retorno da água para o mar da ArcelorMittal Tubarão, por receber efluentes industriais tratados e a água do mar utilizada para resfriamento dos equipamentos, com temperatura média superior à água do mar adjacente, propicia um ambiente rico em algas devido ao aumento de temperatura e a disponibilidade de nutrientes, o que provavelmente leva essas tartarugas a se concentrar na área para forrageio", pontuou Kuster.

Patrulhamento noturno

Foto: Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus

Nas áreas de reprodução, as praias de desova são monitoradas todas as noites durante os meses de setembro a março, e de janeiro a junho nas ilhas oceânicas, por pescadores contratados pelo Tamar, chamados tartarugueiros, além de estagiários e executores das bases. É realizado patrulhamento noturno para flagrar fêmeas em ato de postura, observar o comportamento do animal durante a desova, registrar dados morfométricos e coletar material biológico para posterior análise genética.

Os pesquisadores monitoram os ninhos nos próprios locais de postura ou transferem alguns, encontrados em áreas de risco, para locais mais seguros na mesma praia ou para cercados de incubação, expostos ao sol e chuva plenos, em praias próximas às bases de pesquisa. São feitas marcação e biometria das fêmeas, contagem de ninhos e ovos.

Nas áreas de alimentação, o monitoramento é quase todo realizado no mar, muitas vezes junto às atividades pesqueiras, com os técnicos embarcados. Os pescadores são orientados a salvar as tartarugas que ficam presas nas redes de espera, cercos, currais e outras modalidades de pesca. Essas áreas registram alto índice de captura incidental por pescarias costeiras. Nas ilhas oceânicas, como em Fernando de Noronha e Atol das Rocas, é realizado o programa de captura, marcação e recaptura, através de mergulho livre ou autônomo.

Tanto nas áreas de desova como de alimentação, é feita marcação de animais encontrados vivos: todos recebem um anel de metal nas nadadeiras dianteiras, para identificação e estudo de seu deslocamento e de hábitos comportamentais, além de dados sobre crescimento e taxa de sobrevivência.

O trabalho de captura intencional de tartarugas marinhas realizado na área da ArcelorMittal Tubarão, mesmo a completar 20 anos de duração neste ano vigente, representa, segundo Kuster, um curto período de coleta de dados em relação à dinâmica populacional das tartarugas verdes, mas pode-se inferir algumas conclusões ao longo desses anos de estudo.

"Por ser um ambiente com temperatura elevada e rico em matéria orgânica, este torna-se propício para o desenvolvimento de algas marinhas, principalmente Enteromorpha sp., que apresenta ser uma alga palatável para as tartarugas verdes. Além disso, é observado um maior grau de concentração e, consequentemente, de captura de tartarugas marinhas durante o inverno e a primavera quando comparado às demais estações do ano."

Além disso, todas as tartarugas capturadas enquadram-se no estágio de vida juvenil, com uma média de 41 cm de comprimento de carapaça. "A maioria das tartarugas capturadas estão em bom estado nutricional, incluindo as com tumores de fibropapilomatose. A fibropapilomatose é uma doença de distribuição mundial, cuja prevalência pode variar de 0 a 92% dependendo da região analisada."

De acordo com o oceanógrafo e pesquisador, a prevalência de tumores de fibropapilomatose ao longo dos 19 primeiros anos de estudo no local foi de 24,24%. "A presença de tumores ao redor dos olhos, nadadeiras ou pescoço pode provocar a perda ou redução da visão e/ou natação e, como consequência, dificultar na alimentação, reduzindo a taxa de crescimento e ganho de peso. A evolução da doença pode levar ao óbito, por se tratar de uma doença debilitante."

A saúde das tartarugas

Foto: Projeto Tamar Fundação/ Zaira Matheus

Em agosto de 2000, o convênio de cooperação técnica firmado entre a ArcelorMittal Tubarão e a Fundação Projeto Tamar teve como principal objetivo iniciar pesquisas sobre a biologia da tartaruga verde que frequenta o canal de retorno da água para o mar na indústria. "Os trabalhos de campo iniciaram-se em 11 de agosto de 2000, tendo como principal intuito realizar, através de capturas, marcações e recapturas, estudos de crescimento, padrões migratórios e condição de saúde das tartarugas verde que utilizam a referida área da ArcelorMittal."

Atualmente, as tartarugas marinhas estão ameaçadas em todos os estágios de vida. Quer seja em áreas de desova ou de alimentação, estes animais encontram-se nessa situação, principalmente, devido aos impactos humanos. Além da pesca, uma das principais ameaças antropogênicas é a poluição marinha, incluindo detritos, metais pesados, derramamento de óleo e bioacumulação química. Tendo em vista que a área de estudo, privilegiada pela alta concentração desta espécie de tartaruga marinha localiza-se em um local antropizado, é importante a continuidade do monitoramento a longo prazo.

"Atualmente, em termos mundiais, conhece-se relativamente menos sobre a biologia das tartarugas marinhas em áreas de alimentação do que se conhece sobre as áreas de reprodução. Assim, o trabalho desenvolvido nesta área contribui para um melhor conhecimento das tartarugas verdes em áreas de alimentação, a nível nacional e internacional, servindo como referência e gerando dados para o planejamento de atividades de conservação desta espécie".

O quarto vídeo do projeto fala da captura intencional de tartarugas marinhas. Esse trabalho é uma parceria com a ArcelorMittal Tubarão. As tartarugas são capturadas lá na área da empresa, marcadas, examinadas e depois soltas novamente:

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