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Novo 11 de setembro: ataques em Paris dão início a outra fase do terrorismo, diz especialista

Para o cientista político Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e marketing), o EI (Estado Islâmico) virou o centro da pauta mundial

 A França está em estado de alerta  Foto: R7

Ruas vazias, pontos turísticos apagados, população trancada em casa, fronteiras fechadas e segurança reforçada. A França está em estado de alerta severo e as autoridades temem novos ataques terroristas nas próximas horas ou dias.

Se isso realmente acontecer, o cenário de violência no Oriente Médio e na Europa deve ficar ainda mais sangrento. Na avaliação de especialistas ouvidos pelo R7, a série de atentados que deixou ao menos 129 mortos em Paris na sexta-feira (13) pode ser comparada ao ataque às torres gêmeas em 11 de setembro.

Para o cientista político Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e marketing), o EI (Estado Islâmico) virou o centro da pauta mundial.

— É o novo 11 de setembro. O Estado Islâmico acabou de ocupar o lugar que a Al-Qaeda criou com os atentados terroristas de 11 de setembro.

Embora o número de mortos com a série de ataques em Nova York em 2001 tenha sido quase 30 vezes maior do que o atual, o objetivo de ambos é chamar a atenção do mundo e demonstrar sua força, destaca Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

— Esse é o padrão de ataque terrorista. Para eles, não importa o número de mortos, mas a dimensão mundial. Não à toa, o Estado Islâmico escolhe locais com muita visibilidade e com grande concentração de pessoas.

Para exemplificar, Nasser diz que “a repercussão mundial de matar dois cidadãos em pontos importantes da França é muito maior do que 100 ou 200 na Nigéria”. O especialista da ESPM acrescenta ainda que "a lógica do terrorismo é exatamente criar um ambiente de medo e caos".

— Dessa forma, faria total sentido o grupo islâmico organizar novos ataques, mas com a Europa em alerta seria bem mais difícil executar. É claro que não podemos descartar a possibilidade, mas seria uma surpresa para nós e uma grande ousadia deles.

Já na opinião de Nasser, que está aguardando em Lisboa, Portugal, amenizar a situação para seguir viagem a França, o EI vai tentar atacar novos alvos, “não só na França como também em outras grandes potências” que condenam o terrorismo.  

— A França é um dos países europeus que mais advogam a intervenção militar no Oriente Médio e também tem uma das legislações mais duras contra o terrorismo. Nem assim impõe medo. O grupo islâmico quer exatamente demonstrar que o forte é fraco e vice-versa.

Neste sábado (14), o presidente francês, François Hollande, disse que o EI cometeu "um ato de guerra” e prometeu tomar medidas adequadas. Já o Estado Islâmico, que reivindicou o ataque, afirmou que a França não vai viver em paz enquanto participar dos bombardeios às posições do grupo terrorista na Síria e no Iraque.

Em vídeo, um militante deixou o seguinte recado ao país: "Enquanto você continuar bombardeando, você não vai viver em paz. Você vai ter medo até de ir ao mercado".

Em entrevista a Record News neste sábado (14), o cientista político Pedro Costa Júnior, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, disse acreditar que Hollande vai intensificar essa guerra.

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— A situação é dramática e temo muito pelo futuro da Europa nos próximos dias e meses, por causa dessa comoção que tem se instalado da Europa ao Oriente Médio.

Guerra ao terrorismo

Os atentados ao estádio nacional Stade de France, à casa de shows Bataclan e a bares e restaurantes na sexta-feira ocorreram apenas dez meses após o ataque à sede do jornal Charlie Hebdo. Dessa vez, Nasser acredita que os locais escolhidos têm pontos em comum, como ambientes de diversão de jovens da classe média-alta.

— É próprio de o terrorismo matar inocentes e usar as vítimas mais frágeis para dar seu recado ao governo. É isso que eles querem. O ato foi uma forma que o EI encontrou para dizer a França que ela não tem capacidade de proteger seus cidadãos.

Uma das explosões aconteceu exatamente no estádio de futebol onde Hollande assistia à partida entre França e Alemanha, válida pelas eliminatórias da Eurocopa. No entanto, o mais grave deles foi à casa noturna Bataclan, onde cerca de 1.500 pessoas assistiam a um show de rock.

Na manhã deste sábado (14), o papa Francisco fez seu pronunciamento e ressaltou que os atentados terroristas de Paris "não têm justificação religiosa ou humana". Para ele, os ataques são uma amostra da "guerra mundial aos pedaços".

Porém, os especialistas descartam a possibilidade de uma 3ª Guerra Mundial, já que para isso é preciso o envolvimento de vários países, “um contra o outro”, explica Nasser.

— Todas as grandes potências estão contra o EI. Além disso, o Estado Islâmico é uma organização que domina um território no Oriente Médio e não é um Estado. Declarar guerra é um equívoco.

Fora isso, a China e a Índia — os dois países mais populosos do mundo — não estão participando desse cenário, lembra Cukier.

— Mas é claro que esse assunto vai ser o centro da agenda mundial e, de uma forma ou de outra, vai ter um impacto global.

Para o professor da PUC, é exatamente esse status que o EI quer, por isso "é importante a união de toda a Europa contra o terrorismo e não ações isoladas", sugere.

— A França não pode responder com mais ataques à região do Oriente Médio. Seria um equívoco. Essa luta contra o terrorismo não é só da Europa, mas de todos os países alvos.

Nasser alerta que “as maiores vítimas do terrorismo no mundo são os islâmicos – de 18 mil mortes, esse povo representa 85% das vítimas”. 

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