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"Onda de lama" deve reduzir em até 40% número de turistas no litoral de Linhares

Afirmação é do presidente da Espírito Santo Convention & Visitors Bureau, Alfonso Silva, que acredita que a região mais afetada será Regência, em Linhares, onde fica a foz do Rio Doce

Alfonso acredita que o movimento de turistas nos principais balneários do ES, no verão, será maior do que nos anos anteriores Foto: Divulgação

Com a chegada da "onda de lama" com rejeitos de mineração ao mar da vila de Regência, em Linhares, onde fica a foz do Rio Doce, e a incerteza sobre até onde esses resíduos podem chegar ao longo do oceano, criou-se uma certa apreensão, entre turistas e profissionais diretamente envolvidos no mercado do turismo, em relação às condições das praias do Espírito Santo para o verão que está por vir. 

Preocupados com a possibilidade de a lama atingir outros pontos do litoral capixaba, donos de hotéis, restaurantes e de outros estabelecimentos localizados em balneários do Espírito Santo - principalmente os mais próximos a Regência - temem que turistas cancelem suas reservas e optem por outros locais, onde se sintam mais seguros de estarem livres da tal mancha barrenta. No balneário de Linhares, há comerciantes que afirmam que mais de 90% das reservas para as festas de Natal, Réveillon e Carnaval foram canceladas após a passagem da lama pelo Rio Doce.

No entanto, o presidente da Espírito Santo Convention & Visitors Bureau, Alfonso Silva, não acredita que esse desastre ambiental também se tornará uma tragédia para o turismo capixaba de modo geral, especialmente nos balneários mais badalados - como Guarapari, Anchieta, Piúma, entre outros. Ele admite que a região de Regência deverá ser severamente afetada por conta da queda do número de visitantes, mas afirma que outros pontos do litoral capixaba tendem a receber ainda mais turistas neste ano em relação a anos anteriores.

"Com a alta do dólar, aquela pessoa que pretendia viajar para o exterior tende a ficar por aqui e frequentar as praias do nosso litoral. Portanto acredito que esse verão será ainda melhor para os balneários mais badalados, que recebem um volume maior de turistas nessa época do ano. Uma pena que Regência provavelmente não vai poder aproveitar essa oportunidade", lamentou.

Lama chegou ao mar na região de Regência e deixou a água com aspecto barrento Foto: Fred Loureiro/Secom-ES

Alfonso acredita que a queda no número de turistas em Regência deve ficar entre 30% e 40%, mas destacou que não acredita que isso representará um impacto significativo para Linhares, em termo de arrecadação. "Regência não é um dos balneários mais procurados pelo grande público, seu sistema de turismo ainda está em construção. É uma região que atrai principalmente o público jovem, surfistas, já que é uma praia com bastante onda. Além disso, como o comércio informal ainda é muito frequente, uma grande presença de turistas não significa necessariamente uma grande arrecadação", argumenta.

Confira a entrevista:

Folha Vitória - Qual o impacto no turismo capixaba que a chegada dessa lama com rejeitos de minério ao litoral do Espírito Santo pode representar? 
Alfonso Silva - Acho que esse acidente [o rompimento das barragens da Samarco em Mariana-MG e a chegada da onda de lama à foz do Rio Doce] vai sim causar um impacto, mas será pontual, em poucos lugares no Espírito Santo. Ainda não temos comprovação se essa lama vai seguir mais para o sul ou para o norte. Acredito que a região mais prejudicada, sem dúvidas, será Regência, mas os outros balneários não deverão ser impactados. Pelo contrário. Acho que, com a alta do dólar, aquela pessoa que pretendia viajar para o exterior tende a ficar por aqui e frequentar as praias do nosso litoral. O turismo de lazer é uma cadeia. Quem deixa de ir para o exterior acaba indo para os destinos mais badalados. Portanto acredito que esse verão será ainda melhor para os balneários mais procurados do Estado, como Guarapari, Piúma e outros que recebem um volume maior de turistas nessa época do ano. Uma pena que Regência provavelmente não vai poder aproveitar essa oportunidade.

FV - O senhor disse que Regência deverá ser a região mais prejudicada no turismo com a chegada da lama. Qual deverá ser o tamanho da queda no número de turistas que frequentam aquela região neste verão?

AS - Tradicionalmente Regência não é um local com grande fluxo de turistas no verão, não é um dos balneários mais procurados pelo grande público. É uma praia que possui características diferentes, ou seja, não é muito atrativa para famílias, por exemplo. É uma região que costuma atrair principalmente surfistas, por conta das ondas, e um público mais jovem, que vai lá para passar poucos dias. Acho que a chegada dessa lama pode resultar numa queda em torno de 30% a 40%, mas não é possível afirmar nada ainda.

FV - O senhor acredita que o cancelamento de reservas em hotéis e pousadas já é um indício do impacto da lama no turismo dessa região?
AS - Acho que não. Essa questão dos cancelamentos é normal no turismo de lazer, acontece muitas vezes. A pessoa faz uma reserva e, a medida em que a data vai chegando, ela pode mudar de ideia e ir para outro lugar. Temos que levar em consideração que as condições econômicas das pessoas não estão tão boas assim hoje em dia, por conta da crise, e isso também pode resultar em cancelamentos. Portanto não acredito que a chegada da lama cause um impacto no turismo tão significativo assim quanto muitos estão falando. É comum que esse desastre provoque uma apreensão na comunidade em geral, mas acho que as pessoas não deixarão de vir ao Espírito Santo por causa disso. 

FV - Com a queda no número de turistas, quais estabelecimentos deverão ser mais prejudicado?
AS - Acho que a queda no turismo afeta, de modo geral, toda a cadeia produtiva. Não tem como dissociar um setor do outro, todos acabam sofrendo. O turista quando vai a um lugar, ele precisa hotel, lazer, alimentação. Se ocorre um problema, toda a cadeia produtiva é afetada. Mas a rede hoteleira acaba sendo a primeira prejudicada, porque é ela que recebe a demanda, que acolhe o turista. No segundo momento, quem sofre é o setor gastronômico. Mas todos são afetados de alguma forma.

FV - Que estratégias o município de Linhares pode adotar para minimizar o impacto gerado pela queda do turismo em Regência?
AS - Acho que Linhares pode focar em outros atrativos do município, talvez o agroturismo ou as lagoas da região. Mas é preciso pensar em uma outra alternativa que não seja a praia, já que a região Regência será impactada. De qualquer maneira, não acredito que essa queda do turismo em Regência resultará em perdas significativas para o município, em termos financeiros. Como o comércio informal ainda é muito frequente na região, uma grande presença de turistas não significa necessariamente uma grande arrecadação para o município. Até porque, como já disse, Regência normalmente não é dos locais mais procurados pelo turista no Espírito Santo.

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