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"O papel da sociedade nas cidades inteligentes é de interação de maneira estruturada", declara arquiteto e urbanista

Caio Vassão

Caio Vassão Foto: Breno Ribeiro

Todas as cidades do mundo caminham para se tornarem inteligentes no futuro. De acordo com especialistas, é considerada uma cidade inteligente aquela que conecta todas as tecnologias presentes no município em uma única plataforma, de maneira que a gestão da cidade seja feita com inteligência, eficiência e economizando recursos.

Mas como será as relações, a sociedade e os negócios inseridos nessas smart cities? Para entender melhor do assunto, o Folha Vitória conversa com o arquiteto e urbanista que estuda relação entre cidade, tecnologia e comunidade, Caio Vassão. Veja a entrevista abaixo:

Folha Vitória: Qual é o papel da população nessa cidade inteligente do futuro?
Caio Vassão: A sociedade deve interagir de maneira qualificada. A gente fala muito de urbanismo colaborativo, que traz a ideia de que a população possa colaborar com o poder público, com a iniciativa privada, universidade e com qualquer outro organismo social para construir o futuro das cidades. Mas para isso acontecer, as pessoas precisam interagir de maneira bem estruturada. A gente trabalha com técnicas de interação coletiva para gerar conversações significativas, que gerem consequências para o planejamento urbano, a gente gera demandas qualificadas a partir da demanda popular.

F.V: E as empresas? Os funcionários que batem ponto, o patrão que 'pega no pé' por conta do horário... Como esses personagens se inserem em uma cidade inteligente?
C.V.: A organização do trabalho sofre grande pressão por parte da tecnologia digital. No cenário de cidades inteligentes, é muito abordada a questão de “teletrabalho” ou organização livre do tempo do trabalhador para que ele consiga cumprir as tarefas passadas. Isso quer dizer que não faz mais sentido que um trabalhador chegue no local de trabalho às 8h e saia às 17h, a não ser que ele tenha que operar uma máquina. Atualmente um designer, por exemplo, cumprir esse mesmo horário é um pouco estranho. Até porque, o trabalho que ele empenha, poderia ser feito em outros horários. Inclusive, o tempo de trabalho dele pode ser mais curto ou mais longo, dependendo de como ele pensa. Fala-se muito  de organização do processo de trabalho a partir de projetos. O trabalho e a produção coletiva podem ser coordenados de sistemas digitais.

F.V: Em uma cidade inteligente, as relações horizontais serão determinantes?
C.V.: Sim. O que acontece na cidade inteligente é que ela tem uma característica mais profunda das cidades inteligentes que ainda não é muito reconhecida. Trata-se das cidades distribuídas, que é baseada em sistemas distribuídos, que não tem um único centro, a exemplo da internet. Quando você passa a organizar a sociedade por meio da internet, que é o que está acontecendo, a gente pode também transformar a cidade em um sistema distribuído. Processos chamados botton up em que a sociedade se organiza e gera pauta para o governo, é uma coisa perfeitamente viável. Situações top down, quando um gestor tenta determinar o futuro daquele coletivo, as pessoas aparecem para dizer que também têm voz ativa. Nesse contexto, percebemos uma situação de horizontalização das organizações, que convida um processo colaborativo.

F.V: O que a gente tem de exemplo de inteligência dentro de uma cidade real e não nas cidades pensadas?
C.V.: Por princípio, toda cidade é considerada inteligente, pelo fato de inteligência não ser uma coisa estritamente individual. Quando um grupo social se forma, surge uma espécie de mente coletiva pelas interações entre as pessoas, somando inteligência individual à inteligência das outras pessoas. É por isso que as cidades funcionam. Toda vez que a gente pensa em incrementar a inteligência de uma cidade, estamos falando basicamente disso: como incrementar uma inteligência que já existe. Um exemplo de inteligência coletiva nessa hora é a própria possibilidade de eu organizar o processo de trabalho via e-mail, WhatsApp e etc.

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