Veículos elétricos crescem 50% e projetam recorde para 2022
Especialista do mercado avalia esta e outras tendências para o setor automotivo no próximo ano
Ao que tudo indica, 2022 será mais um ano de resultados positivos para os carros elétricos: com a chegada prevista de novos modelos no mercado, aumentando a oferta e a concorrência, e o crescente interesse do público por uma mobilidade mais limpa e sustentável, esse nicho da indústria automotiva deve atrair cada vez mais consumidores e seguir acelerando em vendas.
Os números de 2021 oferecem bons motivos para o setor se animar: a previsão de vendas de veículos eletrificados (híbridos e elétricos) aumentou de 28 mil para 30 mil unidades em 2021, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Se confirmada, a alta será de 52% em relação às vendas de 2020 – um recorde para o setor. Os dados parciais, do período de janeiro a outubro, apontam um crescimento estrondoso de 74% no comparativo com o mesmo período do ano passado.
Para Gustavo Braga, especialista no mercado automotivo e diretor da Carupi, uma autotech de compra e venda de carros pela internet, os números confirmam uma tendência global que já se desenha há algum tempo. “As legislações em todo o mundo têm estabelecido prazos para o fim da produção de veículos a combustão, obrigando as montadoras a desenvolverem modelos que atendam a essas demandas e abrindo frente para investimentos em carros eletrificados", lembra.
O executivo ressalta que, embora o Brasil ainda não possua um direcionamento governamental tão claro no sentido da eletrificação de sua frota, o próprio mercado tende a se mover cada vez mais nessa direção. Para ele, é um processo ainda tímido no país, mas muito consistente, e que deve levar a novos recordes de vendas em 2022.
Gustavo também aponta outras tendências para o mercado automotivo no próximo ano, e uma delas vem na esteira da crescente preocupação dos consumidores com a questão ambiental: é o tão anunciado fim do carro popular. Ele explica que, além da mudança no perfil do cliente, as montadoras também precisam cumprir com adequações setoriais de segurança e sustentabilidade que tornam cada vez mais inviável a produção de carros com valores mais acessíveis.
Os números do setor parecem comprovar essa tendência: de acordo com levantamento da consultoria Jato Dynamics, dos carros atualmente vendidos no país, 68% custam mais de R$ 70 mil, e apenas 32% estão abaixo desse valor. É um cenário inverso ao de três anos atrás, quando os veículos com preço acima de R$ 70 mil representavam 40% do mercado.
"Com o peso da carga tributária e o endurecimento das exigências do governo para que as fábricas adequem os modelos a padrões ambientais e de segurança, fica cada vez mais difícil a existência de um carro popular no país", diz. O especialista cita os exemplos de Gol e Uno, que, após décadas no mercado, estão saindo de linha.
Mas também há previsões otimistas para 2022. Uma delas é a recuperação, mesmo que lenta, da cadeia produtiva da indústria automobilística, que, em 2021, ainda sentiu o impacto da pandemia de Covid-19 e da consequente crise na produção de semicondutores, travando a produção de carros zero quilômetro e trazendo recordes negativos para o setor: foi o pior outubro em cinco anos segundo a Fenabrave, com 162,4 mil unidades licenciadas no país e queda de 24,5% em comparação com o mesmo período de 2020.
“A crise na cadeia de produção continuará em 2022, mas deve se amenizar a partir do segundo semestre, e a produção de veículos voltará a crescer”, afirma Braga. Para ele, o surgimento de variantes do coronavírus e a ameaça de novas ondas de infecção não devem ser menosprezadas, mas com boa parte da população mundial vacinada e a economia retomando a atividade, muita gente está saindo do “modo pandemia” e começando a fazer planos novamente – entre eles, a troca do carro. "Com isso, as vendas tendem a aumentar”, diz.
Seminovos devem seguir valorizados
Todos esses entraves nas montadoras para a fabricação de veículos novos acabaram provocando longas filas de espera nas concessionárias. Com isso, os usados e seminovos foram as estrelas de 2021, tanto em termos de valorização como em número de vendas que, no acumulado do ano em relação aos dez primeiros meses de 2020, aumentaram 28,9%.
Mesmo crendo em uma retomada gradual dos carros zero quilômetro em 2022, Braga aposta que o mercado de usados e seminovos deve se manter aquecido. “Os proprietários de carros usados e seminovos hoje tem uma ótima moeda de troca em suas mãos”, lembra o especialista. “Saber aproveitar o momento para vender com inteligência pode resultar em um excelente negócio”.
Mercado de veículos cada vez mais digital em 2022
O avanço da tecnologia sobre o setor automotivo é outra tendência apontada pelo profissional: segundo Braga, esse movimento deve se manter em forte aceleração no ano que vem, abrangendo não apenas novidades nos veículos propriamente ditos – espera-se avanços no desenvolvimento de veículos autônomos e carros inteligentes – mas também na própria forma de comprar e vender automóveis.
As startups do setor devem seguir crescendo e ampliando a oferta de serviços digitais ao público, que já incluem avaliações online, tours virtuais por dentro dos carros à venda e plataformas de negócio totalmente remotas. Tudo realizado a distância, via computador ou smartphone.
Braga explica que hoje em dia, alguns serviços já permitem que os clientes fechem negócio sem precisar sair de casa. “A tecnologia entrou de vez na rotina das pessoas, e é um processo que vem se consolidando e moldando nosso estilo de vida. O mercado está apenas se adaptando a esse cenário”, conclui o executivo.