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Dia dos Pais: policial civil concilia trabalho com tarefas domésticas e filhos

Pai de quatro filhos e com duas netas, o chefe de investigação da DCCV de Cachoeiro conta que foi educado para comemorar o dia dos pais e das mães todos os dias, e não em uma data específica. Segundo ele, cuidar dos filhos diminui a pressão do trabalho

A rotina de conciliar o trabalho com as tarefas domésticas e ter que cuidar dos filhos após uma separação, faz parte da vida de muitas mulheres nos dias atuais. Mas, com o chefe de investigação da Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV), de Cachoeiro, Maurílio Carvalho, ocorreu justamente o contrário. Ele assumiu os filhos e divide seu tempo entre as tarefas domésticas e o trabalho na Polícia Civil.

Às vésperas do Dia dos Pais, Carvalho conta que se sente um pai diferenciado e que passa aos filhos a educação que teve ao longo de sua vida: 'não existe um dia específico para o pai e para mãe. O dia dos pais e das mães é todo dia. Meu pai sempre falou isso e passo aos meus filhos", comenta. 

Divorciado há quase dois anos, ele assumiu os filhos Ruan, de 10 anos, e Yan, de três anos, e cuida de tudo sozinho. "Quando me separei da mãe dos meus dois filhos, conversamos e fizemos um acordo para manter nossa família estruturada. Entendemos que continuar comigo seria a melhor opção para as crianças, e a participação dela na vida dos meninos seria fundamental. O Ruan tinha oito anos na época e o Yan tinha apenas um ano e meio", explica.

"Quando me separei da mãe dos meus dois filhos, conversamos e fizemos um acordo para manter nossa família estruturada". 
Os dois não levaram a situação para a Justiça quando assinaram os papéis do divórcio e, apesar de serem criados pelo pai, as crianças estão em contato direto com a mãe, que os visita durante a semana. "Ela tem toda a liberdade para visitá-los quando quiser. Além disso, os levo até a casa dela, que hoje mora em Marataízes. Ela sempre me ajudou muito com os meninos", conta o policial. 

Além de Ruan e Yan, Maurílio é pai de Douglas, de 30 anos, e Gláucio, de 27, e também assumiu os filhos quando se separou de sua primeira companheira. "Em 1998, quando morava no Rio de Janeiro, passei o concurso da Polícia Civil e me mudei para o Espírito Santo. Como era um estado mais tranquilo, conversei com a mãe dos meus filhos e os trouxe para morar comigo. Hoje, os dois já são casados e têm suas próprias famílias. O mais velho já me deu duas netas", afirma.


Rotina

Apesar de conseguir dar conta do recado, o investigador afirma que a rotina é puxada. "Acordo bem cedo. Às 6h30 minha secretária chega e vou à academia. Quando volto, tomo café com os meninos e vou para o trabalho. Às 11h, saio da delegacia e vou em casa dar o almoço. Geralmente, já tomaram banho. O mais velho me ajuda com essas funções e dá banho no mais novo. Depois levo um para a creche e o outro para escola. Às 16h30 saio do trabalho para buscar os dois e levá-los para casa. Fazemos algo juntos, depois sirvo o jantar e os coloco para dormir. É uma rotina puxada e tive que me adaptar bastante", garante.

O policial ressalta  que abdicou da liberdade pelos filhos. "Não existe a palavra noite no meu dicionário. Resumo minha vida ao meu trabalho e os cuidados com os meus meninos. Isso me faz aliviar um pouco da pressão do trabalho. Como tenho uma responsabilidade muito grande na delegacia, cuidar da casa e das crianças suaviza o dia", continua.

"Por estar na parte de inteligência, tem muitas coisas que posso fazer em casa à noite, depois que eles dormem. Concilio assim. Tenho um horário flexível com o delegado. Alguns amigos me chamaram de maluco quando falei que estava me separando e iria ficar com as crianças. A verdade é que eu e minha ex-esposa só pensamos nos nossos filhos, quando tomamos essa decisão", conta.


Decisão

O policial disse que as experiências no trabalho ajudaram a tomar a decisão de ficar os filhos. "Estou cansado de chegar na casa de muitas famílias durante o meu trabalho e assistir que o filho adolescente está envolvido com drogas por falta da presença paterna. Minha relação com minha ex-esposa até hoje é de grande amizade, justamente por ela ter entendido esse lado, e também pelas condições. Não tinha secretária no início e minha ex-esposa me ajudou muito. Ela ia até minha casa tomar conta das crianças todos os dias, até que eu conseguisse alguém de confiança para ajudar", garante.

Quanto ao Dia dos Pais, Maurílio afirma que é um dia como qualquer outro. "Meu pai disse a mim e ao meu irmão que o maior presente que poderíamos lhe dar era ser honestos, trabalhadores e homens de bem. Ele sempre ensinou que a data é comercial. E tento passar isso para os meus filhos", explica.

"O casamento acaba, mas os filhos não, e o mundo do crime adota os filhos abandonados".
Responsável durante anos pelo projeto: 'Adolescente inteligente não usa drogas', Carvalho, que está há 19 anos na Polícia Civil, percorreu as escolas de Cachoeiro distribuindo mais de 35 mil cartilhas para as crianças e jovens sobre os riscos das drogas. Ele garante que usa muito fundamentos do projeto na criação dos filhos.

Segundo ele, existem pais diferenciados e ele sente orgulhoso por ser um. "Brinco com meus filhos e tento ensinar os valores da vida. Sou um pai meio moderno e meio moda antiga. Eles são preparados para conhecer a realidade. Hoje, vivo para os meus filhos e sei que sou recompensado por isso. Meu recado para os pais é que não desistam de seus filhos e que sejam mais presentes possível. O casamento acaba, mas os filhos não, e o mundo do crime adota os filhos abandonados", completa o investigador.

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