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Pesquisa diz que grávidas acham exames do SUS insuficientes para microcefalia

Na rede particular, o percentual de grávidas que gostariam de ter realizado mais exames de ultrassom para diagnóstico da microcefalia também é alto (43%)

Pesquisa diz que grávidas acham exames do SUS insuficientes para microcefalia Pesquisa diz que grávidas acham exames do SUS insuficientes para microcefalia Pesquisa diz que grávidas acham exames do SUS insuficientes para microcefalia Pesquisa diz que grávidas acham exames do SUS insuficientes para microcefalia
Para 70% das grávidas entrevistadas, os exames de ultrassom grávidas, gestantes, gestação, gravidez  Foto: Agência Brasil/ Ana Nascimento/MDS/Portal Brasil

Pesquisa sobre a relação entre o vírus Zika e os direitos das mulheres revela que 70% das grávidas acompanhadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) gostariam de ter feito mais exames de ultrassom para detecção de microcefalia em seus bebês. O assunto foi debatido hoje (9) na capital paulista, durante evento promovido pelo Instituto Patrícia Galvão.

O levantamento ouviu 3.758 mulheres, sendo 3.155 grávidas, 466 mulheres tentando engravidar e 137 que pretendem engravidar em breve. Os questionários foram distribuídos entre junho e julho deste ano.

Maíra Saruê Machado, pesquisadora do Instituto Locomotiva, explicou que os questionários respondidos online levaram a uma amostra com escolaridade acima da média da população, ouvindo, portanto, mulheres com maior acesso à informação.

Pesquisadora

Na rede particular, o percentual de grávidas que gostariam de ter realizado mais exames de ultrassom para diagnóstico da microcefalia também é alto (43%).

“É um momento de bastante tensão. Elas querem ver o tamanho da cabeça do bebê. Como não há disponibilidade no SUS, acabam pagando para fazer na rede privada. Vemos que, na epidemia de Zika, não é secundário facilitar o acesso aos exames”, afirmou a pesquisadora.

Além disso, 60% das grávidas admitiram ter medo de fazer o exame de ultrassom e descobrir que o bebê tem microcefalia. “Por isso, o momento do ultrassom é tão importante. É quando elas verão o tamanho da cabeça do bebê. Tem bastante angústia e ansiedade. Os médicos deixam a desejar no atendimento”, disse Maíra. A pesquisa indicou ainda que 90% das grávidas gostariam de fazer um teste capaz de detectar se ela teve ou tem o vírus Zika no período de gestação.

Saneamento básico

Segundo a pesquisadora, o problema do saneamento básico no Brasil gera muito impacto na reprodução do mosquito vetor do vírus Zika. Entre as entrevistadas, 56% disseram que moram próximo a um terreno baldio e 26% têm um córrego sujo nas proximidades de suas casas.

A pesquisa revelou também que as mulheres discordam da maneira como o governo trata o assunto, já que 64% entendem que o correto seria usar o recurso gasto com propagandas sobre a doença para, efetivamente, resolver o problema de saneamento. Das mulheres ouvidas, 76% acham que o governo culpa a população pela epidemia, mesmo quando não há coleta de lixo e água encanada em certas localidades.

“Como cobrar da mulher cuidados com vasos com água parada, se as autoridades não cuidam de prover nos bairros onde elas vivem o saneamento e a coleta de lixo? Temos a missão de advogar para que as mulheres tenham voz. Essa pesquisa mostra isso. A mídia tem de falar dos seus direitos reprodutivos, da autonomia econômica. Isso tem a ver com o Zika. Não podemos desvincular a epidemia das questões sociais”, acrescentou Linda Goulart, da ONU Mulheres.