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Polícia busca suspeitos de linchar estudante que acampou em praia do Guarujá

Polícia busca suspeitos de linchar estudante que acampou em praia do Guarujá Polícia busca suspeitos de linchar estudante que acampou em praia do Guarujá Polícia busca suspeitos de linchar estudante que acampou em praia do Guarujá Polícia busca suspeitos de linchar estudante que acampou em praia do Guarujá

A Polícia Civil do Guarujá, no litoral de São Paulo, realizava buscas na tarde desta segunda-feira, 17, na tentativa de localizar suspeitos de agredir até a morte o estudante Kauan da Silva Soares, de 17 anos, após desentendimento pela montagem de uma barraca na Praia Branca, uma das mais belas da região. De acordo com familiares da vítima, o rapaz foi linchado no sábado, 15, por seis homens, entre eles pescadores, por ter demorado a desmontar a barraca na praia. Segundo a família, ele teve costelas quebradas e o pulmão perfurado devido às agressões.

A esposa de Kauan conta que ela, o marido e uma amiga comum decidiram passar o fim de semana no Guarujá e acampar na prainha. “A gente chegou sexta à noite, por volta das 11 horas. Dormimos na barraca e no dia seguinte levantamos bem cedo. Não tinha muita gente na praia e um senhor chegou até a gente e pediu para desmontar a barraca porque estava chegando a fiscalização. Ele falou que a gente podia montar de novo à noite”, lembra.

Conforme relatou à reportagem, logo depois o homem voltou a interpelar o grupo. “A gente estava tomando café dentro da barraca e falou que já ia desmontar. Aí nós três fomos molhar o pé na água, mas o mesmo cara passou pela terceira vez e tinha mais cinco homens com ele. De novo mandou desmontar a barraca e meu marido, que tinha acabado de beber e estava um pouco alterado, xingou um deles. Ele achou que eles não iam ouvir, mas eles ouviram e voltaram.”

Segundo a jovem, o que se seguiu foi um massacre. “Meu marido tinha 17 anos e os caras eram todos homens. Um já foi batendo no meu marido, outro pegou ele por trás e começaram a linchar ele no meio da praia. Deram chutes na costela, na cabeça, na cara”, lamenta.

A jovem conta que correu até a barraca onde havia um canivete que eles levavam para se defender, caso houvesse alguma tentativa de assalto, pois estavam com dinheiro.

Ela usou o objeto para tentar deter um agressor. “Peguei o canivete, corri até o cara que estava chutando a cabeça dele e enfiei nas costas dele. Aí falaram que a gente estava com faca. Pararam de bater no meu marido e vieram atrás de nós. Um deles deu dois socos na cabeça da minha amiga. Depois um deles pegou um bambu e deu na minha cabeça, pegou o canivete e todos saíram andando.” A jovem ressalta que depois Kauan começou a passar mal, reclamou que estava cansado, com sono e precisava dormir. O rapaz reclamava de dor no corpo, dizia que os agressores tinham ‘zoado’ a costela dele.

Embora não estivesse bem, segundo a esposa, Kauan foi com a amiga procurar uma pousada para alugar. “Não passou dez minutos, minha amiga veio chorando, falando que ele não estava bem, com dificuldade para respirar e precisava de mim. Larguei tudo e corri, mas quando cheguei meu marido já estava no chão, sem vida, sem nenhum batimento, sem respirar, sem nada.” Elas gritaram por ajuda e o Corpo de Bombeiros foi chamado.

Os bombeiros acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e Kauan foi levado ao pronto-socorro mais próximo, no Hospital Municipal de Bertioga, mas já chegou sem vida. Segundo o hospital, a equipe do Samu fez manobras de ressuscitação, sem sucesso. O corpo passou por perícia no Instituto Médico Legal (IML) e foi levado para o velório em Mogi das Cruzes. O sepultamento aconteceu na manhã desta segunda-feira, 17, no Cemitério da Saudade, em Mogi.

De acordo com o sogro da vítima, as agressões fraturaram costelas e causaram perfurações no pulmão. “Ele foi linchado pelos seis caras. Agora só esperamos justiça”, afirmou. O atestado de óbito apontou como causa da morte “insuficiência respiratória, edema agudo de pulmão e cardiomiopatia delatada”.

A Praia Branca é um lugar muito procurado por ecoturistas e campistas por ser isolada, acessível apenas por trilhas. A prainha foi descoberta recentemente pelos veranistas, e o fluxo de visitantes não é bem visto por moradores da vila próxima. Em redes sociais, internautas relatam casos de abordagens hostis e até agressões, mas há relatos também de assaltos. Em 2014, um casal teve os corpos pichados por moradores, após escrever “ABC” em uma pedra da orla. A jovem recebeu ameaças, após divulgar o caso em redes sociais.

A Secretaria da Segurança Pública do Estado informou que a morte de Kauan está em investigação pela delegacia do Guarujá. “Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos e prender os autores do crime”, informou.

A prefeitura do Guarujá informou que é proibido instalar acampamentos, tendas e barracas nas praias da cidade, exceto com autorização municipal. Em razão da pandemia, está proibida a permanência na faixa de areia de todas as praias da cidade, sendo permitidas apenas caminhadas e atividades esportivas sem aglomeração. Ainda segundo a prefeitura, o Grupamento de Defesa Ambiental faz vistorias periódicas na Prainha Branca, que tem baixo histórico de ocorrências policiais.