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Procedimento reduz risco de perda de tecidos implantados

Procedimento reduz risco de perda de tecidos implantados Procedimento reduz risco de perda de tecidos implantados Procedimento reduz risco de perda de tecidos implantados Procedimento reduz risco de perda de tecidos implantados

Rio – O Instituto Nacional de Câncer (Inca) fez pela primeira vez cirurgia de reconstrução facial com ajuda de equipamento que diminuiu os riscos de perda dos tecidos implantados (pele, gordura e músculo). O fluxo sanguíneo da veia reconectada foi monitorado por um aparelho de doppler durante a operação e nos sete dias seguintes.

Se tivesse ocorrido obstrução – o que leva à necrose dos tecidos -, o equipamento teria dado o alerta. Foi a primeira vez que o aparelho foi usado em um hospital brasileiro.

Josué Peixoto Teles da Costa, de 20 anos, foi o primeiro paciente monitorado, em cirurgia ocorrida em 28 de agosto. Ele tinha um osteossarcoma de maxilar, que fez com que perdesse metade do rosto e parte do couro cabeludo. A saída foi transplantar pele, gordura e músculo da barriga para a face do rapaz. Artéria e veia do pescoço foram preparadas para reconectar os tecidos transplantados ao rosto.

“Antigamente, não tínhamos como monitorar esse tecido. Se a artéria ou a veia obstruíssem, nós só percebíamos dias depois, quando a pele começava a mudar de cor. E aí se perdia o tecido transplantado, que necrosava. Em grandes intervenções na face, é preciso fechar não por questões estéticas, mas porque as lesões são incompatíveis com a vida. Não se pode correr o risco de perder esse tecido transplantado”, afirmou o cirurgião plástico Marcelo Moreira Cardoso, coordenador da microcirurgia do Inca.

Em 5% dos casos de revascularização ocorre uma reação inflamatória na veia ou artéria religada e o fluxo do sangue é interrompido. Se durante o período de monitoramento o doppler passar mais de dois minutos abaixo de quatro (numa escala de fluxo sanguíneo que vai até 10), é porque houve a obstrução e o paciente precisa ser operado para desentupir a veia ou a artéria – um procedimento simples, se descoberto a tempo.

“Pesquisas internacionais mostram que esse monitoramento reduz em 70% a necessidade de novos transplantes”, explica Cardoso.

Como no caso de Josué a revascularização foi completa, a equipe médica o liberou para fazer quimioterapia. Mais tarde, passará por outras cirurgias plásticas. Outra paciente, uma mulher de cerca de 40 anos, com câncer nas glândulas salivares, também foi operada com o monitoramento pelo doppler no Inca. Nesse caso, foi preciso retirar a mandíbula e ela recebeu enxerto ósseo vascularizado (com artéria e veia), retirado da fíbula (osso da perna).

Além das cirurgias de cabeça e pescoço, o aparelho pode ser usado em transplantes de fígado e rim e no reimplante de membros (mão, braço, dedos). “O equipamento torna mais simples o pós-operatório. São cirurgias complexas, caras, em que nada pode dar errado. Imagina o quão grave é perder um reimplante de uma mão ou voltar para a fila do transplante de fígado ou rim”, afirma o médico.

Cada aparelho doppler custa cerca de R$ 45 mil e está em processo da aquisição pelo Inca. “O Inca é um formulador de políticas públicas. Depois de testado pelo instituto, o equipamento pode ser adotado pelo SUS”, diz Cardoso.