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Professores pagam passagem da equipe de limpeza do Museu Nacional

Professores pagam passagem da equipe de limpeza do Museu Nacional Professores pagam passagem da equipe de limpeza do Museu Nacional Professores pagam passagem da equipe de limpeza do Museu Nacional Professores pagam passagem da equipe de limpeza do Museu Nacional

Rio de Janeiro – A penúria do Museu Nacional, da UFRJ, é tamanha, que professores dos cursos de pós-graduação, que trabalham no mesmo espaço, se cotizaram para pagar a passagem de ônibus da equipe de limpeza. Eles temiam que a sujeira afetasse o acervo, composto de muito material orgânico, sensível a micro-organismos. O museu fechou na segunda-feira por falta de dinheiro para pagar os faxineiros, que estão com salários atrasados já há três meses. O serviço de portaria é outro problema: teve o contrato cancelado.

O Ministério da Educação fez um repasse de R$ 4 milhões na própria segunda-feira. O reitor da UFRJ, Carlos Levi, determinou nesta terça-feira que o museu, o principal de história natural na América Latina, seja reaberto ainda essa semana. “Queremos reverter a situação de maneira ágil. Por conta do contingenciamento dos recursos, tivemos muitas dificuldades, que estamos tentando administrar”, disse Levi ontem à tarde. A diretora do museu, Cláudia Rodrigues Carvalho, não definiu a data certa da reabertura. O espaço museológico e os cursos de mestrado e doutorado da UFRJ nas áreas de antropologia social, arqueologia, botânica e zoologia dividem o espaço do Palácio de São Cristóvão, que abrigou a família real portuguesa desde a chegada de d. João VI ao Brasil, em 1808.

No último fim de semana, quando o museu recebeu cerca de dez mil visitantes, os funcionários da limpeza só puderam se deslocar para o trabalho por causa da vaquinha dos professores, contou o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte, um dos diretores do museu e responsável pelo planejamento das comemorações por seus 200 anos, em 2018. “A crise é estrutural. A UFRJ não tem recursos suficientes. Se o dinheiro não chegar até amanhã , vamos pagar para que seja feita uma faxina final, porque o museu não pode fechar sujo. As coleções são muito vulneráveis”, considera Duarte, ressalvando que os cursos estão a salvo porque dependem de bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Ele explicou também que o prédio, construído no início do século 19, tem manutenção falha: o telhado tem buracos (quando chove muito forte, há goteiras) e os sistemas anti-incêndio e de ar condicionado não são supervisionados. Reparos têm sido feitos a partir de recursos obtidos através da Lei Rouanet – à UFRJ cabe o custeio básico. A última reforma, na fachada, foi em 2009.

Instalado na Quinta da Boa Vista, parque do bairro de São Cristóvão, na zona norte do Rio, o museu tem boa visitação por estar inserido numa área de lazer de grande apelo popular. Os cursos de pós-graduação, por sua vez, estão entre os mais destacados do País.

O antropólogo e escritor Roberto da Matta, que estudou lá e integrou por 30 anos o corpo docente (foi um dos criadores do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social), lamentou o cenário atual. “É uma instituição educacional importantíssima e um museu estratégico. Vejo essas notícias com sentimento de desânimo.”