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Frente fria pode retardar chegada da mancha de óleo ao Espírito Santo

Comitê de Preparação de Crise planeja agendar visita a áreas atingidas para tomar decisões aqui no estado

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Foto: Divulgação / Pexel

A frente fria que passa por todo o Espírito Santo traz uma esperança para o litoral capixaba, quando o assunto é meio ambiente – e consequentemente economia, área social e turismo. De acordo com o biólogo e mestre em sustentabilidade Felipe Mello,  o vento sul tende a mudar a direção da maré, pelo menos a superficial, o que retarda a chegada da mancha de óleo ao litoral capixaba. 

“Ganhamos tempo, para que as autoridades competentes tomem atitude. Mas aí é que está a pergunta: o que está sendo feito antes que a mancha se aproxime?”, questiona o biólogo. Para ele, não se pode apenas monitorar e esperar o poluente chegar, a exemplo do Nordeste. “Depois é só enxugar gelo. As barreiras tinham que ser colocadas a 100 km da costa, junto com boias, para monitorar o mar em tempo real e dissipar a mancha o máximo possível. 20% de óleo estancado já é melhor que nada”, aponta Mello. 

Outra vantagem do litoral capixaba em relação às praias nordestinas é a barreira natural no caminho da mancha. É o que explica o professor de oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo, Agnaldo Martins. Segundo ele, todas as regiões ao sul de Salvador têm recifes perto da costa. “É claro que o impacto nesses recifes, com seus corais e algas – a base da cadeia alimentar nos oceanos – é inestimável. Talvez nunca se recuperem, já que o poluente sufoca essas regiões, que têm alta biodiversidade. Mas para impedir o deslocamento do óleo, servem de armadilhas naturais”, comenta Martins. 

Comitê de Preparação da Crise

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) informou que não é possível precisar a chegada do óleo ao Espírito Santo, porém o monitoramento é contínuo. A Seama está em contato permanente com os gestores costeiros baianos, e recebe a todo momento informações atualizadas dos órgãos federais de meio ambiente.

Na última segunda-feira (21), foi criado um Comitê de Preparação da Crise, formado por representantes da Seama, Iema, Agerh, Defesa Civil, Ibama, ICMBio e Capitania dos Portos. A ideia do comitê é conduzir um Plano de Emergência, para construir ações preventivas sobre o óleo que avança na costa do nordeste brasileiro. A Seama informou que está articulando uma reunião com gestores municipais de Conceição da Barra, São Mateus e Linhares para unificar informações e ações preventivas. Uma visita à Bahia está sendo agendada, com representantes da Seama e do Iema, para verificar in loco as atividades práticas de recuperação e limpeza das praias e o manuseio da fauna suja de óleo. 

Impactos 

Entre os impactos da mancha de óleo, estão o ambiental direto, nos seres vivos como tartarugas e aves marinhas, e o ambiental indireto, por atingir áreas de reprodução.  Existe também os impactos sociais. “Se há contaminação dos peixes, os pescadores são prejudicados e os consumidores também. Sem falar no turismo. O verão está aí e banhistas de todo o Brasil, principalmente de Minas Gerais, começam a repensar a vinda para o litoral capixaba. Imagine a preocupação de donos de pousadas, por exemplo”, analisa o biólogo Felipe Mello. 

De acordo com o oceanógrafo Agnaldo Martins, as aves e as tartarugas são realmente as mais prejudicadas. O contato do óleo com a pele das aves, além de manchar as penas, acaba prejudicando a camada protetora dos animais. “Elas podem morrer de frio, por causa da perda de calor”, explica. Para as tartarugas, o efeito é no estômago. “Elas acabam ingerindo o óleo, e não conseguem absorver alimento. Morrem de fome”, conta Martins.  Além disso, estamos no período de desova, portanto, além de atingir as tartarugas adultas, ainda há ameaça aos filhotes. 

Relembre 

O problema começou no início de setembro, mas as manchas já foram notadas no final de agosto. A primeira localidade onde a contaminação apareceu foi Praia Bela, em Pitimbu, Paraíba. A partir daí, a substância escura e pegajosa se espalhou por todo o litoral nordestino. O vazamento de petróleo cru se espalha por nove Estados, em uma faixa de mais de 2 mil quilômetros da costa e atinge 200 pontos do litoral nordestino em 78 municípios. Ainda não se sabe exatamente qual a origem do petróleo, mas as análises já apontaram que o produto, de origem desconhecida, é de tipo não produzido no Brasil.

O combate é muito difícil, já que a mancha não é avistada por satélites por não ser percebida na superfície. Não é possível prever a chegada ao Espírito Santo, já que não se sabe de onde nem quanta substância vazou.