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Rodoviários contestam ordens para agir contra 'puladores de roleta' na Grande Vitória

O Sindirodoviários confirmou que estão ocorrendo reuniões entre empresas e rodoviários com o intuito de coibir pessoas que pulam as roletas dos coletivos

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Foto: Divulgação

Após confusão entre um cobrador de ônibus do sistema Transcol e um homem que, supostamente, tentou pular a roleta de um coletivo nesta quarta-feira (15), veio à tona uma verdadeira polêmica entre trabalhadores rodoviários e empresas operadoras do transporte metropolitano no Espírito Santo.

Nesta quarta-feira (16), o presidente Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Espírito Santo (Sindirodoviários), José Carlos Sales, confirmou que estão ocorrendo reuniões entre empresas e rodoviários com o intuito de coibir usuários que pulam as roletas dos coletivos.

Sales afirma que o enfrentamento a quem pratica a infração não deve ser responsabilidade de motoristas e cobradores, mas, sim, de agentes de segurança. “O que está acontecendo é um transferência de responsabilidade. Na situação de violência que vivemos hoje, não dá para saber a índole de quem pula roleta. Isso deveria ser função da Secretaria de Segurança ou da própria empresa com a contratação de um profissional de segurança”, diz.

O presidente comenta que o pedido das empresas expõe os trabalhadores rodoviários a uma situação de perigo. “Não é viável impedir esse ato de uma pessoa que não se conhece. Todos deveriam pagar suas passagens e ser cidadãos. Quem pula a roleta, já não é pessoa de bem. Os rodoviários não têm condições de enfrentar esse tipo de gente”, revela José.

José Carlos acrescentou que o Sindirodoviários vai tentar agendar uma reunião com as empresas. “Vamos esclarecer que isso não é nossa responsabilidade. Não podemos proibir que a empresa se reúna com o trabalhador, mas cobrar essa ação é inviável. Se a população já fica em risco andando de ônibus, imagina os cobradores que estão sendo obrigados a abordar os infratores”, ressalta.

O que diz o GVBus

O Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus) informou que as reuniões nas garagens estão dentro do cronograma de treinamento e reciclagem dos operadores, elaborado pelo sindicato em parceria com as empresas do Sistema Transcol. Segundo o GVBus, elas fazem parte de um projeto de combate à evasão de receitas, que nesse primeiro momento está sendo aplicado junto ao público interno. A segunda etapa do projeto será uma campanha publicitária para os passageiros, prevista para acontecer ainda no primeiro semestre.

Após um levantamento, o GVBus declara que identificou algumas práticas que oneram o sistema: pulo de roleta, fraudes às gratuidades, embarque irregular pela porta do meio e “caronas”. Tais práticas representam um prejuízo de cerca de R$ 960 mil por mês, sendo R$ 375 mil somente decorrente do pulo de roleta. Só em 2018, foram aplicadas 6.798 penalidades por uso indevido de gratuidades.

“Tais números expressivos apontaram a necessidade de reforçar junto aos funcionários de todas as operadoras a importância de seguir as regras e de orientar os passageiros sobre a obrigatoriedade de pagar a tarifa. Durante as reuniões, são abordados temas como profissionalismo, o bom atendimento e tratamento com os clientes, os impactos da evasão de receita do transporte coletivo para toda a sociedade e sobre as formas de combater essas práticas. Momento de relembrar a eles as instruções que receberam ao assinar o contrato de trabalho”, afirma o sindicato.

O GVBus ressaltou ainda que as empresas já fazem um trabalho de combate à evasão e todos os coletivos contam com o sistema de biometria facial, voltado ao controle do uso das gratuidades, e desde 2016 catracas altas estão sendo instaladas para aumentar a sensação de segurança dentro dos ônibus e inibir o pulo de roleta. Porém, o sindicato afirma que cobrar do passageiro o pagamento da passagem é uma obrigação dos motoristas e cobradores.

“O Sistema Transcol gera cerca de 10 mil empregos diretos e indiretos. Entendemos que o transporte público coletivo é a solução para a mobilidade na Região Metropolitana de Vitória e, por isso, precisa ser valorizado. Uma das formas de alcançar isso é garantir o direito de ir e vir das pessoas, e o pagamento da tarifa, que sustenta o sistema”, finaliza o GVBus. 

Agressão

Um homem foi agredido por um cobrador de um ônibus do sistema Transcol, após, supostamente, tentar pular a roleta do coletivo, no município de Vila Velha, na tarde desta terça-feira (15). De acordo com testemunhas, o homem levou um soco no nariz e acionou a Polícia Militar quando o coletivo chegou no Terminal de Vila Velha.

A Polícia Militar foi ao local e conduziu o cobrador e o homem ao Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) de Vila Velha. A Polícia Civil informou que trata-se de um crime de lesão corporal, porém o agredido não representou criminalmente contra o cobrador e ambos foram liberados.

Por meio de nota, a assessoria do GVBus informou que a empresa responsável pelo ônibus já está ciente do fato e está apurando o que aconteceu para tomar as medidas cabíveis.

Veja abaixo a manifestação do GVBus sobre o incidente:

“Ressaltamos que pular a catraca é crime com pena de detenção de 15 dias a 2 meses ou multa prevista no Código Penal (Art. 176). Além de onerar o sistema, essa pratica representa uma clara falta de respeito com os usuários que pagam a tarifa e com os profissionais que trabalham nos coletivos.

Infelizmente, algumas pessoas ignoram a lei e cometem esse tipo de infração, que é muito comum e que tem impacto direto na vida dos passageiros. Afinal, quando alguém deixa de pagar a passagem, esse valor é repassado para o usuário que paga a tarifa. Ao todo as empresas registram uma média de 100 mil pulos por mês, que causam um prejuízo mensal de R$ 375 mil.

A orientação das empresas é que motoristas e cobradores ajam de maneira a coibir esse tipo de prática, sempre com educação e firmeza. Pedindo que o infrator pague a tarifa ou se retire do coletivo. Nesses momentos, a colaboração da população é essencial”.

Roletas duplas

Segundo o GVBus, as empresas estão instalando roletas duplas nos coletivos para evitar esse tipo de situação. O sindicato afirma que os últimos testes feitos pelas empresas do Sistema Transcol comprovam a eficácia e a importância das catracas altas para aumentar a sensação de segurança dentro dos coletivos e combater a evasão de receitas.

Ao todo, 268 roletas duplas já foram instaladas. O custo por roleta gira em torno de R$ 1,2 mil, dependendo do fabricante. Atualmente o sistema conta com 1.426 ônibus circulantes. O objetivo das empresas é instalar o equipamento em toda frota aos poucos. No momento, as empresas estão aguardando um retorno da Ceturb-ES, que está avaliando os resultados apresentados até aqui, para dar continuidade ao processo de instalação.

Uma pesquisa interna feita pelo GVBus com dados de 1º de janeiro a 9 de dezembro de 2018, mostrou que foram registrados 439 assaltos aos ônibus do Sistema Transcol. Destes, 44 ocorreram em coletivos com catracas altas, e 395 nos veículos com as roletas baixas. Ou seja, a maioria dos assaltos, 89,98%, ocorreu nos ônibus com as catracas tradicionais.