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Sabia que trabalhar as diferenças das crianças ajuda na educação?

O olhar individualizado sobre os alunos potencializa o aprendizado e forma cidadãos mais empáticos; veja o que tem sido aplicado nas escolas e a opinião dos especialistas

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“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” – Paulo Freire.

A frase do renomado educador do  século XX, Paulo Freire, reflete bem a tendência da educação do Brasil: o olhar mais individualizado para cada aluno e o incentivo para que ele se torne protagonista do próprio aprendizado.

O primeiro passo é entender as diferenças de cada criança, a realidade diversa em que vivem e até mesmo as características únicas de personalidade.

Foto: Divulgação
Joachin é mais tímido e observador. Características que a escola leva em consideração nas atividades.

Com esse sorrisão aí da foto não dá para acreditar que  Joachin, de cinco anos, é uma criança tímida. Na escola onde ele estuda, o pequeno prefere grupos menores e é mais observador. Características que os profissionais do colégio levam em conta para que o processo de socialização e aprendizado seja leve e efetivo. A família fica tranquila.

“Sabemos que cada um tem um jeito diferente, o Joachin também. Fico feliz porque a escola Novo Mundo respeita a singularidade do aluno antes de inserir a criança nas atividades pedagógicas. Não pensamos só no aprendizado mas também na convivência com outras crianças e com as diferenças. Assim eles crescem como indivíduos também”,  explica a mãe do Joachin, Karina Rostagno.

O movimento de respeito à individualidade que tem ocorrido nas escolas acompanha as mudanças de comportamento na sociedade, de aceitação das diferenças

Cada ser humano é formado por diferentes experiências, sensações, sentimentos e gostos. Dentro do ambiente escolar, os profissionais precisam compreender isso e respeitar a vivência dos estudantes.

A diretora pedagógica da Escola Novo Mundo, em Vitória, Elaine Cristina Santana, explica que o grande desafio da equipe é identificar as habilidades e características de cada criança e, assim, respeitar o processo de construção do ensino, para que o aluno se sinta motivado e veja sentido no aprendizado:

“Há crianças que possuem mais habilidades para a música, outras para as questões matemáticas, outras são mais inibidas, outras se socializam com muita facilidade e, olhar para cada uma respeitando suas limitações e facilidades, nos desafia a pensar em uma escola plural, dinâmica e encantadora”, pontua.

Acolhimento diferenciado faz diferença

No primeiro contato com o ambiente escolar, já é possível perceber como cada criança reage de forma diferente. Tem as que demoram um pouco mais para interagir, outras podem ter comportamentos mais agressivos ou de choro excessivo. 

Foto: Divulgação
Crianças participam de atividade na escola

Já nesse momento, é hora dos profissionais da Educação Infantil aumentarem a atenção para cada um dos alunos. 

O acolhimento diferenciado entra como ferramenta fundamental para que as crianças se sintam bem no ambiente e consigam interagir, afinal, a socialização é um dos grandes objetivos da vida escolar. É um processo progressivo, respeitando as particularidades de cada aluno.

“As crianças são recebidas com afeto e brincadeiras para que possam apropriar-se dessas linguagens como meio de comunicação e reprodução do seu cotidiano, motivando-se a participar e se desenvolver”, explica a diretora pedagógica da Escola Novo Mundo. 

E, nas séries seguintes, o acolhimento individualizado precisa continuar. No Ensino Fundamental, o processo de adaptação deve respeitar as especificidades da faixa etária. O medo de ficar longe dos pais, presente na Educação Infantil, é substituído pela ansiedade em ser aceito em um novo grupo.

Olhar atento

As escolas se mostram atentas a esse respeito à individualidade, afinal não dá mais para focar no aprendizado “em série”. 

A neuropsicopedagoga Mônica Ramalho explica que o processo de aprendizagem precisa ser significativo para o aluno.

“Cada pessoa é única e como tal tem suas especificidades, como por exemplo, o jeito de aprender. Quando entendemos o aluno dessa forma e traçamos estratégias para construção do conhecimento, estamos realizando o processo de aprendizagem, respeitando a individualidade e estimulando cada um.”

A especialista explica que cada um tem a sua forma de aprender e que construímos o nosso conhecimento de acordo com nosso equipamento biológico. A escola vai se adequar e atender a essa demanda com esse olhar, entendendo que cada um aprende de uma maneira. E existem vários recursos para isso.

Confira o vídeo com as explicações da neuropsicopedagoga:

Inclusão

Quando a escola tem o olhar individualizado, muitas vezes pode indicar aos pais comportamentos que talvez fujam um pouco do que é esperado. E, muitas vezes, é preciso investigar e atuar de uma forma diferenciada.

Foto: Divulgação
O Victor tem autismo e participa de todas as atividades da escola

No caso do Victor, de 4 anos, a mãe Carolina já havia percebido que ele apresentava algum tipo de atraso antes dos 2 anos de idade e passou a investigar. 

Hoje a família já sabe que ele tem autismo e consegue proporcionar terapias que ajudam no desenvolvimento. 

Uma das atividades mais importantes é frequentar uma escola que respeita a individualidade dele, mas também o insere nas atividades com as outras crianças. Ele gosta de explorar os espaços do colégio e participa de todas as vivências diárias.

“O Victor teve um grande desenvolvimento, inclusive na fala, que ele tem mais dificuldade e isso se deve ao trabalho feito na escola. As crianças não enxergam os amigos atípicos com preconceito, isso é muito valioso. Uma das amigas da sala dele contou em casa, com orgulho, como o Victor havia se comunicado e falado sobre as formas geométricas”, conta Carolina Moura Palhano, mãe do Victor. 

Segundo especialistas, o respeito e o convívio com as mais diferentes crianças faz com que os pequenos aprendam desde cedo a respeitar o próximo, do jeito que ele é.  A inclusão vai muito além do pensar numa educação diferenciada ou especial. 

O intuito é reconhecer as diferenças entre os alunos e valorizar essas características por meio de atividades que favoreçam as potencialidades de cada criança.

Protagonistas

A pedagoga Elaine Cristina Santana esclarece que a partir do momento em que a criança se vê respeitada e valorizada na sua individualidade, o passo seguinte é que ela se torne protagonista do próprio aprendizado, outro foco atual nas melhores escolas do país:

“Quando olhamos para cada criança como sujeito de sua própria história, privilegiamos a construção do caráter, compreendemos a sua formação pessoal, a capacidade de enfrentamento das mais diversas situações e, o respeito às diferenças por parte dos adultos, tornam-se práticas indispensáveis no âmbito escolar”.

Foto: Divulgação
Crianças desenvolvem autonomia na escola

O resultado disso é ver que as crianças vão construindo autonomia, uma das habilidades mais discutidas hoje em dia. Elas têm a chance de serem adolescentes, jovens e adultos com maior capacidade de resolver questões por conta própria, ter a iniciativa de buscar conhecimento e informação, etc.

Como incentivar a individualidade dos filhos:

# Evite resolver as tarefas para os filhos e sim procurem dirigir o processo

#Não queira que as crianças façam as coisas no ritmo do adulto, deixe que elas pensem e tomem decisões

#Valorize as pequenas conquistas e não apenas critique os erros. Elas precisam saber a importância do esforço.

# Incentive que a criança seja capaz de passar um tempo sozinha, de lazer e de obrigações. É uma forma importante de aprender a se reconhecer.

#Incentive a autonomia. Aos poucos, os filhos devem aprender a satisfazer as próprias necessidades. E eles passam a confiar mais que são capazes.

#Estimule momentos de criatividade e imaginação. As crianças aprendem a desenvolver os próprios interesses em contextos mais livres. Podem experimentar formas únicas de fazer as coisas

#Premie o esforço da criança. É uma motivação para que alcance suas próprias metas e fique feliz com as conquistas.