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Seis são denunciados por espancar médica que reclamou de festa na quarentena

As agressões aconteceram em maio e a médica precisou passar por uma cirurgia devido à fratura no joelho

Seis são denunciados por espancar médica que reclamou de festa na quarentena Seis são denunciados por espancar médica que reclamou de festa na quarentena Seis são denunciados por espancar médica que reclamou de festa na quarentena Seis são denunciados por espancar médica que reclamou de festa na quarentena
Foto: Reprodução

Seis pessoas foram denunciadas à Justiça nesta sexta-feira, 2, pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) por lesão corporal grave em função das agressões à médica Ticyana D’Azambuja, de 35 anos, em 30 de maio, no Grajaú (zona norte do Rio). Ela foi espancada e teve o joelho esquerdo quebrado após reclamar do barulho de uma festa na casa vizinha, ser ignorada e danificar o carro de um dos convidados. O evento infringiu as regras de distanciamento então em vigor por conta da pandemia do coronavírus.

Foram denunciados Rafael Martins Presta, dono da casa e promotor da festa, Rafael Del Giudice Ferreira, Rodrigo Lima Pereira, Luis Claudio dos Santos, Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro e Ester Mendes de Araújo. A Justiça agora vai analisar se aceita ou não a denúncia. Se aceitar, eles viram réus, e cada um poderá ser condenado a até cinco anos de prisão.

Nenhum deles teve a prisão pedida pelo MP-RJ, mas o órgão pediu que eles sofram restrições como uso de tornozeleiras eletrônicas e proibição de se ausentar da comarca sem autorização da Justiça.

Salgueiro é sargento do Batalhão de Choque e dono do carro danificado, um Mini Cooper Paceman modelo 2014 que teria sido comprado por R$ 200 mil, segundo o MP-RJ. A PM investiga se o patrimônio dele é compatível com seus vencimentos.

O Estadão tentou localizar representantes dos seis acusados, sem sucesso, até a publicação desta reportagem.

O episódio

Em 30 de maio, a médica chegou em casa, na rua Marechal Jofre, após um plantão de 24 horas em hospital onde tratava doentes de covid-19, e não conseguiu dormir durante a tarde porque, na casa ao lado, seu vizinho Rafael Martins Presta, comerciante que completava 38 anos, comemorava seu aniversário em festa com convidados e música alta.

Por conta da pandemia, aglomerações estavam proibidas no Rio de Janeiro desde março, mas essa festa fazia troça com a proibição – usava até uma referência à covid-19 como tema de copos personalizados. Ticyana diz ter tocado a campainha da casa e tentado pedir que o volume da música fosse reduzido. Mas foi ignorada, e então pegou um martelo e com ele quebrou um espelho retrovisor e o vidro traseiro do carro do policial militar Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, um dos convidados da festa.

O vizinho e alguns convidados então saíram da casa. A médica tentou fugir correndo e pediu auxílio a um motoboy que passava pela rua, mas foi alcançada por Presta e um amigo. O vizinho da médica então a imobilizou, no meio da rua, e aplicou um golpe que causou o desmaio de Ticyana. Ela foi arrastada por Salgueiro, acordou e foi ameaçada e agredida por outros convidados da festa.

As agressões foram testemunhadas por várias pessoas que não participavam do evento, inclusive bombeiros de um quartel que funciona em imóvel vizinho à casa de Presta. Um outro vizinho de Ticyana foi o único a tentar intervir, impedindo a continuidade das agressões e ameaças, e acabou agredido por Rafael Pereira, outro convidado da festa. Imagens de câmeras de segurança e mesmo gravadas por testemunhas mostram as condutas dos envolvidos.

A médica foi socorrida após ter o joelho esquerdo quebrado e as mãos pisoteadas. Em 13 de junho ela se submeteu a cirurgia que instalou dois parafusos no joelho. Ela ainda se recupera das lesões.