Geral

TJ suspende distribuição de suposto remédio contra câncer

TJ suspende distribuição de suposto remédio contra câncer TJ suspende distribuição de suposto remédio contra câncer TJ suspende distribuição de suposto remédio contra câncer TJ suspende distribuição de suposto remédio contra câncer

Sorocaba – O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) suspendeu as liminares que obrigavam a Universidade de São Paulo (USP) a fornecer a fosfoetanolamina sintética a 368 pacientes com câncer. Na decisão, divulgada nesta terça-feira, 29, o presidente do TJ, José Renato Nalini, alega não haver comprovação de que a substância produza algum efeito no combate à doença.

A suspensão pegou de surpresa pessoas que se dirigiram ao câmpus da USP em São Carlos, interior de São Paulo, para retirar o remédio. Advogados preparam medidas na tentativa de reverter a proibição.

A suposta eficácia da fosfoetanolamina contra o câncer vem sendo discutida há vinte anos, desde que uma formulação foi desenvolvida e testada pela equipe do pesquisador Gilberto Orivaldo Chierice, ex-professor da universidade, no início dos anos 90.

Durante mais de uma década, a fosfoamina sintética, como também é conhecida, foi distribuída gratuitamente. Em 2014, uma portaria do Instituto de Química da USP São Carlos suspendeu a entrega de substâncias experimentais sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Pacientes foram à Justiça e conseguiram liminares para manter o tratamento.

Com a divulgação de casos de cura e dos benefícios do tratamento em sites, como Amigos da Cura e Petição24, a busca pelas cápsulas cresceu. Em junho deste ano, Carlos Kennedy Witthoeft foi preso em Pomerode (SC), acusado de “falsificação de medicamento”. Ele produzia e distribuía a fosfoamina com base na fórmula desenvolvida em São Carlos.

Witthoef contou que usou a substância em sua mãe, de 82 anos, que estava com câncer. Em 18 dias, ela teve grande melhora e foi dada como curada. Com a ajuda da esposa, ele passou a produzir e distribuir as cápsulas de graça. Witthoef passou 17 dias preso e ainda responde ao processo.

No site Amigos da Cura, 2.419 pessoas pediram informações ou se manifestaram sobre a fosfoamina, entre elas o médico Renato Meneguello, que lembrou que a substância nunca foi vendida. Advogados se dispuseram a entrar com ações gratuitas para defender o tratamento.

Uma petição para que a produção e distribuição do produto sejam liberados tinha, nesta terça-feira, 16.706 assinaturas. Também há indicações de como conseguir a substância através da justiça.

Juízes de primeira instância acataram a argumentação dos advogados de que o direito à vida prevalece sobre os registros oficiais. Sem condições de produzir a substância em larga escala, a USP passou a acionar o TJ. Na segunda-feira, ao suspender todas as liminares, Nalini alegou que a suspensão “é medida de prudência”.

Segundo ele, mesmo sob o argumento de que a proteção à saúde prepondera sobre o registro formal do medicamento, “não há nenhuma prova de que, em humanos, a substância reclamada, que não é um remédio, produza algum efeito no combate a doenças”. Chierice não foi localizado. Em artigos publicados em revistas de medicina ele defende a fosfoamina como tratamento alternativo para o câncer.

A Anvisa informou em nota ser necessária a avaliação de ensaios clínicos antes de qualquer medicamento ser disponibilizado para uso no Brasil. A análise tem por finalidade atestar a eficácia e a segurança do produto, segundo o órgão. “Em alguns casos, a agência pode autorizar o acesso a medicamentos que ainda não tiveram ensaios clínicos ou obtiveram o registro na Anvisa, como no caso de uso compassivo, acesso expandido ou por meio do programa de fornecimento de medicamento pós-estudo. A venda ou distribuição de qualquer medicamento sem registro, fora do contexto de uma pesquisa clínica aprovada ou fora de qualquer outro programa de acesso a medicamentos experimentais, é uma prática irregular”, alertou.

Ainda segundo a Anvisa, no caso da fosfoetanolamina, a agência não recebeu qualquer pedido de avaliação para registro dessa substância, nem mesmo pedido de pesquisa clínica, que é a avaliação com pacientes humanos. “Isto significa que não há nenhuma avaliação de segurança e eficácia do produto realizada com o rigor necessário para a sua validação como medicamento”, concluiu.