Geral

Um prédio secular que ficou sem futuro

Um prédio secular que ficou sem futuro Um prédio secular que ficou sem futuro Um prédio secular que ficou sem futuro Um prédio secular que ficou sem futuro

São Paulo – Um antigo moinho do século 19, tombado pelo órgão estadual de proteção ao patrimônio, o Condephaat, está sem uso e descuidado em Ribeirão Pires, na região metropolitana de São Paulo. O imponente imóvel, próximo da linha férrea que já foi a São Paulo Railway – hoje é Companhia Paulista de Trens Metropolitanas (CPTM) -, se transformou em reduto de pichadores e usuários de drogas.

Construída em 1898, a edificação já abrigou moinho, foi utilizada como depósito de pólvora durante a Revolução de 1932, tornou-se fábrica de adubos, depois de salitre, em seguida local de criação de bicho da seda e, por último, uma refinaria de sal. Nos anos 1990, a última empresa a ocupar o imóvel pediu concordata.

A prefeitura de Ribeirão Pires tornou-se proprietária do centenário imóvel em 2001, após processo de desapropriação judicial. A ideia era transformar o local em centro cultural. “Inicialmente, a Prefeitura pretendia demolir todo o conjunto, após trabalhos com historiadores e memorialistas revelarem que o local tinha potencial para ser um sítio histórico. O projeto foi alterado, optando-se pelo restauro”, conta Marcílio Duarte, coordenador de Patrimônio Cultural do município.

Obras foram feitas em 2003 e 2004. Em 2009, após o surgimento de sal nas paredes, o imóvel foi interditado. Em 2013, um novo projeto municipal pretendia transformar o prédio em um teatro com capacidade para 1,2 mil lugares. Não vingou.

Em 2016, a prefeitura de Ribeirão Pires encaminhou à Câmara um projeto que pretendia vender a área à iniciativa privada. Foi uma polêmica. O objetivo, segundo Duarte, era “a completa demolição do edifício histórico”. Havia interesse de empreiteiras em construir um shopping no endereço.

Houve uma mobilização local e um trâmite no Condephaat. No papel, o imóvel é tombado, ou seja, protegido, desde dezembro. A reportagem do Estado visitou o imóvel e conferiu a degradação. “O abandono está destruindo este patrimônio”, diz o estudante Keanu Oliveira, de 17 anos, morador das redondezas. “Quem entra vê pichações e resíduos deixados por usuários de drogas.”

Questionada pela reportagem sobre o abandono e a degradação, a prefeitura de Ribeirão Pires informou, em nota, que a “Secretaria de Segurança Pública do município iniciou processo para a instalação de Inspetoria da Guarda Civil Municipal em imóvel que fica ao lado da Fábrica de Sal”. A administração municipal também afirmou “que estuda projetos para o local, seguindo parâmetros legais e de segurança, dentro da proposta de preservação do espaço”.

Histórico

Nascida como Molino di Semole Fratelli Maciotta (em português, Moinho de Trigo Irmãos Maciotta), “a edificação foi construída em 1898, durante o período da industrialização paulista, em conjunto com a Estação Ribeirão Pires da São Paulo Railway, também tombada”, conforme esclarece, em nota, a Secretaria de Estado da Cultura, pasta responsável pelo Condephaat. “Sua localização estratégica, junto da ferrovia, e a proximidade do Porto de Santos, na Baixada Santista, facilitavam o transporte dos grãos importados e do produto acabado.”

Nas décadas seguintes, o imóvel teve vários usos – possibilitados, como ressalta a secretaria, pelas próprias características da construção, “que possui planta ampla e livre”. “O uso mais prolongado e que caracteriza o edifício, a Fábrica de Sal, teve início por volta de 1950, com a instalação da Indústria e Comércio Carmine Cotellessa S. A., ativa até 1994”, informa a pasta.

Quando o imóvel foi tombado, Deborah Neves, historiadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria de Estado da Cultura, afirmou que “o edifício é um importante exemplar da arquitetura industrial voltada à produção de alimentos”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.