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"Vai ficar pra sempre na minha memória", diz criança pela primeira vez no cinema

Durante todo o mês de maio, iniciativa de cinema itinerante em bairros da Serra levou mais de 4.200 espectadores às salas de cinema

Foto: Everton Nunes/Secom-PMS

Olhos reluzentes e atenciosos não escondem a ansiedade de crianças de uma escola municipal da Serra, ao apagar das luzes… Toda essa emoção marcou mais uma sessão de cinema itinerante, realizado na tarde desta terça-feira (28), no bairro Planalto Serrano. A cada lance de cena do projeto ‘Cinema é pra você, sim!’, os pequenos espectadores se encantaram com os diferentes ingredientes que compõem essa receita capaz de atrair a atenção dos pequenos  e também dos adultos.

Para muitos, essa foi a primeira oportunidade de ir ao cinema. É o caso do Pedro Henrique, de 11 anos, morador do bairro. Pela primeira vez, ele conheceu a magia do cinema e se divertiu ao assistir a uma sessão. “É muito interessante, sempre tive vontade de ir. Não imaginava ser tão grande e diferente. Ganhamos pipoca e refrigerante… vai ficar pra sempre na minha memória”, disse Pedro.

O pequeno Pablo Michel, de 7 anos, mesmo com a pouca idade, não hesitou em se sentar próximo à tela. A cada mudança de cena, o encantamento com detalhes existentes no espaço tomava conta do garoto. “É minha primeira vez. As poltronas são gostosas e o filme foi muito legal. Vou contar para a minha mãe tudo o que vi”. 

Durante todo o mês de maio, o cinema móvel do projeto, promovido pela ArcelorMittal Tubarão, em parceria com o governo do Estado e a prefeitura da Serra, fez um tour pela cidade, apresentando filmes para toda a família. Ao todo, foram realizadas mais de 55 sessões e mais de 4.200 espectadores participaram do projeto. Foram contemplados pela iniciativa os bairros Novo Horizonte, Cidade Continental, Jardim Carapina e Planalto Serrano.

A vice-governadora,  Jacqueline Moraes, acompanhou o início de uma das sessões desta terça-feira. “Quando olhamos nos olhos de cada criança, de cada familiar, percebemos que estão sendo atendidas pessoas que nunca tiveram a oportunidade de ter esse contato com o cinema. Os olhos delas estavam brilhando, então, promover esse acesso à cultura é primordial”, disse.

A gerente de Comunicação e Relações Institucionais da ArcelorMittal Tubarão, Herta Torres, fez um balanço do projeto. “Estamos felizes porque todas as sessões, em todos os bairros, tiveram lotação completa. Essa é uma iniciativa que deve continuar, vamos trabalhar muito para que isso aconteça nos próximos anos, expandido para outros bairros. O impacto que sentimos ao fim de cada sessão é único, seja no olhar das crianças, nos sorrisos, na alegria de quem teve o primeiro contato com o cinema”, disse. 

O prefeito da Serra, Audifax Barcelos, também acompanhou o início de uma das sessões e disse que foram dias históricos para as comunidades que receberam o projeto de cinema itinerante. “É a primeira vez que essas crianças estão em contato com o cinema. Para eles, tenho certeza de que é impactante, marcante. Sem dúvidas, estão sendo dias históricos. Estou feliz e impressionado com a felicidade dessas crianças”, ressaltou. 

Os filmes exibidos foram escolhidos para agradar a toda a família. São títulos internacionais de grande sucesso nos gêneros de animação, comédia, ação e aventura, como “Vingadores: Guerra Infinita”, “Mulher Maravilha”, “Jurassic World: Reino Ameaçado”, “Extraordinário”, “Moana” e “Touro Ferdinando”.

Com capacidade para 78 espectadores, o cinema móvel conta com isolamento térmico e acústico. Possui ar condicionado, bomboniére, som estéreo, projeção convencional e 3D, gerador próprio e elevador para acesso de pessoas com necessidades especiais.

Acesso ao cinema ainda é restrito no ES

Foto: Divulgação/Pexel

Assistir a um filme é considerado um dos programas mais corriqueiros dentre as possibilidades de lazer do capixaba, atualmente. Apesar da aparente normalidade desta atividade, assistir a um filme em um cinema ainda não pode ser considerado um programa de baixo custo, o que tende a dificultar o acesso das classes populares.

A distribuição de salas de cinemas no Espírito Santo – e no Brasil – e o acesso da população a esses locais podem apresentar um reflexo da concentração socioeconômica e da desigualdade regional do país, conforme dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine).

De cada dez salas de cinema no Brasil, sete estão em cinco estados do Sudeste e do Sul (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná). Mais da metade está nos estados do Rio e de São Paulo. No Espírito Santo, apenas 12 dos 78 municípios possuem salas de cinema.

Atualmente, o Brasil conta com pouco mais de duas mil salas de cinema, a maioria concentrada nos grandes centros e dentro de complexos de compra. Comparando com os Estados Unidos, que possui mais de 39 mil salas, o País, hoje a sexta economia do mundo, ainda não tem uma estrutura cinematográfica capaz de fomentar a formação de público.

Os resultados, entre outros aspectos, são os entraves que dificultam a democratização do cinema por conta dos valores dos ingressos – consequência do domínio da indústria cultural sobre as salas de exibição.

“O ingresso custa caro na grande maioria das salas de cinema espalhadas pelo país, e isso não é diferente no Espírito Santo. Um pai de família, por exemplo, com uma renda mensal de um ou dois salários mínimos, para levar um ou dois filhos, tem gasto com transporte, ingressos, alimentação. Isso pesa no orçamento. Esse acesso, às vezes, é difícil de acontecer. Acaba que essas grandes produções não chegam a essas pessoas mais carentes”, analisa a professora do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Gabriela Santos Alves.

Apesar de o setor audiovisual ter registrado um crescimento nos últimos anos no país, parcela significativa da população brasileira (46%, ou 93,2 milhões de pessoas) ainda não possui acesso ao cinema no município onde mora, segundo o estudo Impacto Econômico do Setor Audiovisual Brasileiro.

A professora ressalta a importância de ações que promovam o acesso ao cinema nas classes mais populares. “As grandes produções não chegam a essas pessoas, localizadas em regiões de vulnerabilidade social. Por isso, é importante que projetos sociais, seja privado ou gerido pelo poder público, como o cinema itinerante, ofereçam para essas pessoas o acesso à cultura, ao entretenimento. É preciso levar até essas comunidades a discussão que o cinema pode promover. Eu acredito que o cinema potencializa alguns discursos, gera debates e temáticas que levem para as pessoas uma nova forma de pensar”.