
Em toda empresa, existe uma pergunta implícita que ecoa nos corredores: quem são os profissionais que ainda sustentam a produtividade, mesmo quando tudo ao redor desestimula a excelência? Essa indagação lembra a célebre provocação de Ayn Rand em A Revolta de Atlas: “Quem é John Galt?” Na obra, a autora usa a expressão para simbolizar o questionamento sobre o desaparecimento dos indivíduos produtivos e visionários em uma sociedade que despreza o mérito e glorifica a mediocridade. Na narrativa, Rand descreve um colapso civilizacional provocado pela fuga dos criadores, engenheiros, empreendedores e pensadores, que se recusam a continuar sustentando um sistema que pune a competência e recompensa a dependência. No mundo corporativo contemporâneo, esse movimento silencioso também se repete: quando as empresas negligenciam o reconhecimento do mérito e diluem a responsabilidade individual em estruturas burocráticas, promovem sua própria “greve moral”, perdendo justamente aqueles que garantem sua produtividade e inovação.
O turnover moderno não é apenas uma estatística de recursos humanos. É um sintoma de esvaziamento de propósito. Segundo a Gallup (2024), 59% dos trabalhadores globais declaram estar “quiet quitting”, isto é, cumprindo apenas o mínimo. No Brasil, a taxa de engajamento, indicador que mede o grau de envolvimento emocional e intelectual do colaborador com a empresa e seus objetivos, caiu para 20%, apesar de recordes de vagas abertas em setores estratégicos. Nesse contexto, a Organização Internacional do Trabalho alerta que empresas negligenciam seus profissionais mais produtivos podem perder até 27% de competitividade em cinco anos.
Rand descreveu com clareza essa lógica: quando os criadores percebem que sua energia está sendo expropriada sem reconhecimento, retiram-se. Não fazem greve ruidosa, apenas silenciam sua contribuição. A empresa continua funcionando por algum tempo, mas aos poucos o motor que sustentava a engrenagem para. O que Rand projetou como alegoria política hoje pode ser lido como diagnóstico empresarial.
A Harvard Business Review publicou em 2025 que profissionais de alta performance que não encontram reconhecimento têm três vezes mais chances de deixar a empresa nos 18 meses seguintes. E, quando saem, levam consigo não apenas sua capacidade, mas também a motivação dos que ficam. É esse o “efeito Galt”: quando o pilar silencioso se retira, toda a estrutura balança.
Premiando a Excelência
O desafio é evidente: organizações precisam premiar a excelência de forma consistente. Isso significa políticas salariais conectadas a resultados, critérios transparentes de promoção e uma cultura que valorize conquistas reais em vez de narrativas convenientes. Não basta oferecer benefícios superficiais; é necessário promover propósito, autonomia e reconhecimento tangível. Isso significa estruturar ambientes em que o colaborador compreenda o impacto de seu desempenho nos resultados da empresa, tenha liberdade para decidir sobre como atingir metas e receba recompensas proporcionais à sua entrega. Companhias como a XP Inc. e a Ambev exemplificam essa lógica: ambas associam autonomia à responsabilidade individual, estimulando times a empreender dentro da própria estrutura corporativa e a serem recompensados conforme o mérito. Em comum, demonstram que engajamento não se compra com benefícios simbólicos, mas se conquista quando há clareza de propósito, meritocracia e liberdade para performar.
O Efeito Galt nas Organizações
Nas empresas, o maior risco não é apenas a alta rotatividade, mas o desligamento silencioso daqueles que de fato sustentam os resultados. Quando esses profissionais percebem que sua competência é nivelada pela mediocridade, retiram sua energia criativa e estratégica, seja pedindo formalmente a saída, seja permanecendo apenas no cumprimento do mínimo. Esse é o verdadeiro “efeito Galt” nas organizações: a perda gradual do motor que impulsiona inovação e assegura competitividade. Não se trata de rotatividade comum, mas de um colapso anunciado. Empresas que punem a excelência e celebram a mediania descobrem, tarde demais, que abriram mão do próprio futuro.