O impacto da governança corporativa na eficácia das técnicas de vendas

Com a crescente adoção de práticas de governança corporativa robustas, especialmente dentro da estrutura de ESG (Environmental, Social, and Governance), as técnicas de vendas tradicionais enfrentam o risco de obsolescência. A personalização do processo de vendas, outrora uma estratégia eficaz, começa a perder terreno à medida que as decisões de compra nas organizações, em vendas B2B, se tornam cada vez mais institucionalizadas e menos dependentes de relações interpessoais. Diante desse cenário, as técnicas de vendas devem ser reavaliadas e adaptadas para atender a uma nova realidade, em que o processo de compra é regido por comitês, políticas e critérios rigorosos de conformidade e sustentabilidade.

Historicamente, as técnicas de vendas foram desenvolvidas com base na construção de relacionamentos e na persuasão individual. Abordagens como o SPIN Selling, por exemplo, enfatizam a necessidade de entender as dores e necessidades específicas do comprador para oferecer uma solução personalizada. No entanto, à medida que as empresas implementam estruturas de governança cada vez mais sofisticadas, as decisões de compra são transferidas de indivíduos para comitês, onde as escolhas são pautadas por critérios objetivos e alinhados aos valores corporativos. Essa mudança reduz o poder de influência do vendedor individual, já que o processo se torna mais transparente, padronizado e menos suscetível a pressões externas ou a carisma pessoal.

Além disso, as práticas de governança de compra impõem um foco maior em conformidade, sustentabilidade e impacto social, elementos que muitas vezes não são considerados nas técnicas de vendas tradicionais. Os vendedores, que antes podiam confiar em sua habilidade de construir relações pessoais fortes com os decisores, agora se deparam com a necessidade de compreender e navegar por políticas internas complexas, que muitas vezes incluem critérios rigorosos de seleção e avaliação de fornecedores. Desta forma, a qualidade da proposta, a conformidade com os padrões ESG e a capacidade de agregar valor à organização como um todo tornam-se fatores decisivos, deixando em segundo plano as interações pessoais e os esforços de persuasão.

A Adaptação Necessária das Técnicas de Vendas

Essa evolução sugere que as técnicas de vendas tradicionais precisam ser reestruturadas para se manterem relevantes. Os vendedores devem adotar uma abordagem mais estratégica, focando em compreender as políticas de governança de seus clientes e alinhando suas propostas às metas e, ao menos para manter o paralelismo, valores corporativos desses compradores. Em vez de tentar influenciar indivíduos, o foco deve estar em como a oferta atende aos requisitos institucionais e contribui para os objetivos de longo prazo da organização, como sustentabilidade e responsabilidade social. Essa adaptação exigirá dos profissionais de vendas uma mudança de mentalidade, de uma abordagem centrada na pessoa para uma estratégia orientada por processos e alinhada a critérios corporativos.

Portanto, à medida que as empresas continuam a fortalecer suas estruturas de governança corporativa, as técnicas de vendas tradicionais correm o risco de se tornarem obsoletas se não forem adaptadas. A personalização e a persuasão individual, que outrora eram pilares do sucesso em vendas, precisam dar lugar a uma compreensão mais profunda dos processos internos e das políticas de compra das organizações. A eficácia das vendas no futuro dependerá não da capacidade de convencer um único decisor, mas da habilidade de alinhar propostas de valor aos rigorosos critérios de governança que guiam as compras corporativas. Dessa forma, a sobrevivência e o sucesso dos profissionais de vendas estarão diretamente ligados à sua capacidade de evoluir e se adaptar a essa nova realidade.

Milena Moscon Speroto Siqueira

Colunista

Supervisora de Projetos na Vix Logística, Associada do Instituto Líderes do Amanhã.

Supervisora de Projetos na Vix Logística, Associada do Instituto Líderes do Amanhã.