
O dilema entre ser amado ou temido, formulado por Nicolau Maquiavel em “O Príncipe, atravessou séculos e ainda reverbera no ambiente corporativo. Nas empresas de hoje, a questão reaparece de forma silenciosa em cada pesquisa de clima, em cada índice de engajamento e em cada decisão de sucessão. Maquiavel escreveu em um tempo de instabilidade política e ausência de limites institucionais, quando o temor era visto como ferramenta de preservação do poder. No entanto, em organizações modernas, submetidas à lógica da transparência e da reputação, esse dilema exige uma releitura.
Nesse sentido, o respeito tornou-se a verdadeira moeda de legitimidade. Michael Sandel, em “Justiça: o que é fazer a coisa certa, argumenta que nenhuma autoridade se sustenta apenas pela força; é preciso base moral e previsibilidade para que as decisões sejam aceitas. Jordan Peterson, em “12 Regras para a Vida, reforça que responsabilidade e consistência são elementos centrais para que um líder inspire confiança. Em outras palavras, o temor pode impor obediência imediata, mas apenas o respeito gera continuidade.
A Dinâmica do Respeito vs. Temor na Liderança Moderna
Dados recentes confirmam essa mudança. Segundo pesquisa global da Gallup (2024), líderes percebidos como autoritários têm taxas de rotatividade até 30% maiores em suas equipes. Por outro lado, o estudo da Harvard Business Review (2025) demonstra que líderes que equilibram firmeza e clareza com empatia aumentam em até 23% o engajamento organizacional. O medo, no mundo corporativo, pode até entregar eficiência de curto prazo, mas destrói o ativo mais valioso: a confiança que sustenta a organização.
Se Maquiavel escrevesse hoje, talvez reformulasse sua máxima. Em contextos de Estado de Direito e economia de mercado, nos quais a liberdade é o eixo das relações, o líder não pode basear sua autoridade no temor, mas na previsibilidade de suas ações. O poder de coerção dá lugar ao poder da consistência. O medo, nesse cenário, não é o da punição arbitrária, mas o da justiça, do acerto de contas. A certeza de que falhas não passam impunes e de que o mérito será reconhecido.
No Espírito Santo e no Brasil, onde muitas empresas ainda convivem com estruturas hierárquicas rígidas e baixa confiança institucional, esse debate é urgente. A dependência de líderes centralizadores cria fragilidade organizacional, pois quando esses se afastam, não há sucessão preparada. É por isso que programas de desenvolvimento de liderança precisam ensinar mais do que técnicas de comando: devem formar líderes capazes de equilibrar firmeza com legitimidade.
Assim, o líder contemporâneo não precisa escolher entre ser amado ou temido. Precisa ser previsível, justo e responsável. A verdadeira força surge quando liberdade e responsabilidade se encontram, quando o mérito é reconhecido e quando a liderança é exercida não para punir, mas para proteger o propósito coletivo. Esse é o ponto em que o dilema de Nicolau Maquiavel se resolve: o respeito, e não o medo, é o que sustenta lideranças no tempo.