O último Censo, que divulgou no mês passado dados sobre pessoas com deficiência, aponta 2,4 milhões de pessoas com TEA, aproximadamente 1,2% da população brasileira.
No recorte por idade, já era esperada uma prevalência de diagnósticos entre crianças e adolescentes. Entre jovens e adultos (15 anos ou mais), os dados apontam 1,3 milhões de pessoas no espectro.
Autismo na vida adulta
Para falar um pouco sobre o autismo na vida adulta, Voz da Inclusão entrevista a psicóloga Renata Teixeira (@renatautista.psi no Instagram). Ela recebeu o diagnóstico aos 27, já depois de se formar.
Ela escreveu também o guia “Sou autista, e agora?”, que interessados podem comprar aqui. Hoje, Renata fala sobre como lidar com o diagnóstico na vida adulta, e como isso alterou sua trajetória profissional. Amanhã tem a segunda parte!
1 – O diagnóstico de autismo depois de adulto costuma trazer angústia e alívio. Como lidar com isso?
Sim, é uma montanha-russa emocional. No meu caso, foi um alívio imenso poder dar nome a coisas que eu sentia desde sempre. Mas também houve momentos de luto por tudo que poderia ter sido diferente se eu soubesse antes. É importante dar espaço para esses sentimentos coexistirem, sem pressa para “resolver”. Buscar apoio psicológico e conversar com outras pessoas que passaram por isso ajuda muito. Esse foi o principal motivo de eu começar a falar sobre a minha vivência, com o diagnóstico tardio de autismo, no Instagram (@renatautista.psi). A sensação de “não estou sozinha nisso” tem um poder gigante.
2 – Você recebeu o diagnóstico de autismo nível 1 de suporte já adulta, e depois de já formada psicóloga. Isso, de alguma forma, alterou sua trajetória profissional ?
Totalmente. Eu já trabalhava com pessoas autistas, mas o diagnóstico me deu uma nova “lente”, tanto para compreender a minha própria trajetória quanto para acolher outras pessoas neurodivergentes. Isso me motivou a produzir conteúdo na internet, dar palestras e contribuir com a inclusão nas empresas de forma mais intencional. Passei a unir minha vivência pessoal com o conhecimento técnico, e isso tem sido transformador, não só para mim, mas para quem me acompanha no Instagram também (@renatautista.psi). Além disso, lancei um livro digital chamado “Sou Autista. E agora?”, que tem mais de 130 páginas com informações sobre o autismo e próximos passos após o diagnóstico. São informações que eu gostaria de ter tido acesso depois que recebi o meu próprio diagnóstico, aos 27 anos (hoje tenho 31). Também estou me especializando em neuropsicologia e pretendo, em breve, começar a realizar avaliações neuropsicológicas e terapias em grupo para apoiar pessoas neurodivergentes adultas que passaram a vida inteira se sentindo culpadas por ser quem são e pensando que não pertenciam a esse mundo.
Infelizmente, ainda temos muitos relatos de pessoas autistas que vivem experiências traumáticas com profissionais de saúde que não estão atualizados sobre o TEA. Precisamos de mais profissionais realmente capacitados para apoiar as pessoas autistas e suas famílias, e eu tenho orgulho de fazer parte da mudança nesse cenário!