
Durante décadas, pesquisas sobre o autismo concentraram-se majoritariamente no cérebro, com foco na identificação de genes, regiões cerebrais e circuitos associados ao transtorno. Um artigo recente publicado na revista Mitochondrion apresenta uma abordagem diferente, ao sugerir que processos celulares básicos podem ter papel relevante no desenvolvimento do autismo.
Segundo o estudo, todas as células do organismo possuem mecanismos de defesa que são ativados diante de ameaças ao equilíbrio interno, como infecções, inflamações, poluição ou estresse. Essa resposta é considerada parte do funcionamento normal do organismo. O problema ocorre quando esse estado de alerta permanece ativo por períodos prolongados.
Os autores propõem que o autismo pode estar associado à manutenção dessa resposta celular durante fases sensíveis do desenvolvimento, como a gestação e os primeiros anos de vida. Nesse cenário, a energia celular seria direcionada à defesa, em detrimento de processos ligados ao crescimento e à organização do sistema nervoso.
Fatores que Influenciam o Desenvolvimento do Autismo
O modelo apresentado no artigo considera três fatores combinados: uma predisposição biológica, geralmente de origem genética; a ocorrência de um gatilho ambiental precoce, como inflamações na gravidez, infecções ou exposição a poluentes; e a persistência da ativação celular em um período crítico para a formação das conexões cerebrais. A interação desses elementos poderia resultar em trajetórias de desenvolvimento distintas.
O estudo também relaciona esse modelo à frequência de condições associadas ao autismo, como alterações gastrointestinais, distúrbios do sono, epilepsia, alergias e dificuldades metabólicas. De acordo com os autores, a ativação prolongada dos mecanismos de defesa poderia afetar diferentes sistemas do organismo de forma simultânea.
A Relação entre Genética e Ambiente
Ao discutir a relação entre genética e ambiente, o artigo destaca que alterações genéticas não resultam necessariamente em autismo de forma isolada. Fatores ambientais, metabólicos e inflamatórios, além do momento em que ocorrem, influenciam o desenvolvimento. A proposta reforça a ideia de que o funcionamento do cérebro está integrado aos demais sistemas do corpo.