O julgamento que condenou Cleilton Santana dos Santos a 37 anos de prisão pelo assassinato da enfermeira Íris Rocha, grávida de oito meses, não encerra a atuação da acusação. Para o advogado da família, Fábio Marçal, a pena deveria ter sido maior e não reflete a gravidade do caso. Ele confirmou que vai recorrer da decisão para que a condenação seja ampliada.
Cleilton foi condenado pelos crimes de homicídio qualificado, feminicídio, aborto sem consentimento da gestante, ocultação de cadáver e concurso material. Mesmo assim, segundo o advogado, o resultado ficou aquém do que a acusação considerava adequado diante das qualificadoras reconhecidas no processo.

A pena de 37 anos ficou bem abaixo do que era esperado. Tivemos várias qualificadoras que, para a acusação, deveriam ter majorado a pena. A gente entende que deveria ter sido imposta uma pena, no mínimo, de 50 anos, que seria pelo menos um alento para a família.
Fábio Marçal, advogado da família de Íris Rocha
Marçal também destacou que, com a legislação atual e o sistema de progressão de regime, o condenado não deverá cumprir integralmente os 37 anos estabelecidos pelo júri.
Nós entendemos que, no Brasil, da forma como é imposta a progressão de regime, ele não vai ficar tanto tempo assim preso. A pena precisa ter um caráter duplo: reprovação pelo ato praticado e caráter pedagógico.
Fábio Marçal, advogado da família de Íris Rocha
O Ministério Público Estadual também apresentou apelação, pedindo aumento da condenação. Já o advogado de Cleilton afirmou que o resultado foi “justo” dentro do que a defesa esperava, mesmo sem a acolhida das teses apresentadas no plenário.
O que diz a família?
A mãe de Íris, Márcia Aparecida Rocha, acompanhou todo o júri ao lado de familiares e amigos. Em entrevista à TV Vitória, ela disse que o resultado não elimina o sofrimento, mas traz uma sensação de alívio depois de quase dois anos de espera.

O sofrimento de mãe, essa dor que dilacera o coração, fica um pouco mais em paz. Fica um pouco mais em paz porque vemos que a justiça dos homens, dentro do possível, foi feita. Hoje, esse ciclo de tanta brutalidade se encerra.
Márcia Aparecida Rocha, mãe de Íris
A família e a acusação esperavam uma pena maior, próxima dos 50 anos de prisão. O Ministério Público Estadual (MPES) já anunciou que vai recorrer na tentativa de aumentar o tempo de condenação.
A gente sabe que esses 37 anos não serão totalmente cumpridos em regime fechado, e a nossa justiça… temos que seguir a lei, e essa lei é humana. Mas a justiça de Deus, se Deus quiser, nunca falha. É nela que eu acredito, é nela que eu tenho fé.
Márcia Aparecida Rocha, mãe de Íris
Relembre o caso
Íris Rocha, de 30 anos, foi assassinada em janeiro de 2024. Grávida de oito meses da menina que já se chamaria Rebeca, ela foi morta a tiros em uma área de mata em Alfredo Chaves. O corpo foi encontrado coberto de cal sete dias depois.
Durante as investigações, a Polícia Civil apontou que Cleilton era possessivo e já havia agredido Íris em outras ocasiões. Ele desconfiava que a bebê não era sua filha, mas um exame de DNA feito após o crime comprovou a paternidade. A gestação teria sido o estopim para o assassinato.
Cleilton foi preso uma semana depois, passando com seu advogado pela BR-262, em Viana. Apesar das provas, negou o crime ao longo de todo o processo, mas confessou durante o julgamento. Íris deixou um filho, hoje com 10 anos, que é cuidado pela avó.