O processo relacionado ao assassinato do empresário Wallace Borges Lovato chega a mais uma etapa. Nesta quarta-feira (17), a audiência de instrução e julgamento chega ao segundo dia. Essa é uma fase que antecede o julgamento do Tribunal do Júri, que acontece em casos de crimes contra a vida.
A reportagem da TV Vitória conversou com os advogados de dois acusados de participação na morte de Wallace, que seriam um intermediário e o mandante. Ambos negam o crime.
O advogado Henrique Marques Cardoso representa, desde o início das investigações, Bruno da Silva Nunes, o homem que segue foragido da Justiça e é apontado pelas autoridades como a peça que conecta todos os envolvidos na morte do empresário.
A audiência de instrução acontece de forma híbrida e há uma expectativa de que, mesmo foragido, Bruno Nunes poderá participar de forma online. Por estar preso em outro Estado, Arthur Neves também pode prestar por videochamada.
“O Código de Processo Penal e a Constituição Federal preveem a ele o direito de ser interrogado. Então, o interrogatório não é só um meio de prova, como também um meio de defesa garantido para ele. Portanto, eu entendo que, se ele entender por bem, ele pode comparecer na audiência híbrida e isso não pode ser impedido. Caso a Autoridade Judicial ou o Ministério Público se oponham a esse comparecimento híbrido, já que a audiência é híbrida, isso é motivo de questionamento em um grau recursal. Essa discussão tem que ser feita porque é um direito constitucional dele”, argumentou o advogado.
A audiência está prevista para terminar nesta quinta (18), mas a ausência de uma testemunha pode alterar a data. “Se a testemunha não for encontrada, o representante do Ministério Público pode ou insistir na oitiva, ou desistir e dar continuidade. Mas a promotora ontem já falou que ela vai insistir na oitiva, que ela entende que é uma pessoa importante. Então, se essa pessoa não for ouvida, a instrução não tem como prosseguir, porque tem que finalizar as testemunhas do Ministério Público para, após, iniciar as testemunhas de defesa e, por fim, o interrogatório”, explicou Cardoso.
A defesa veio da Bahia para acompanhar a audiência e contesta a versão descrita no processo. “Essa ligação de Bruno diretamente com os fatos é um questionamento da defesa, porque não tem nenhum elemento concreto, ou seja, não existe nenhum elemento de informação ou prova produzida que faça com que Bruno tenha participação direta”, defendeu o advogado.

Réu nega participação no assassinato
O advogado afirmou que Bruno da Silva Nunes nega qualquer envolvimento com a execução do empresário, mas admite que conhece todos os presos pela polícia. “Bruno é a pessoa que conhece todos os envolvidos, mas o fato de ele conhecer essas pessoas, não significa que ele tenha arquitetado o homicídio que está sendo investigado”, alegou o Cardoso.
A defesa do réu explica os motivos pelos quais o acusado ainda não se apresentou. “Ele tem alguns receios, principalmente de permanecer preso aqui. Ele não quer ser transferido porque deseja ficar perto da família, na Bahia”, detalhou.
De acordo com a defesa, não existem provas capazes de sustentar a acusação. Ainda segundo o advogado, as transações bancárias encontradas entre Bruno Nunes e o apontado como mandante do assassinato referem-se a pagamentos por serviços realizados via aplicativo.

“Ele trabalha com transportes. Então, aqui em Vila Velha e Vitória, ele conheceu Bruno Valadares e prestava alguns serviços para ele, no sentido de levar ou trazer encomendas em algumas cidades próximas. Por isso, esses Pix não são feitos num período curto de tempo. Existem prazos longos. Um foi feito em novembro, outro em fevereiro e assim sucessivamente”, relatou o defensor.
Crime teria sido motivado por dinheiro
A morte do empresário Wallace Lovato aconteceu no dia 9 de junho deste ano e teve grande repercussão em todo o Espírito Santo. Aos 42 anos, Wallace foi executado em plena via pública, em um bairro nobre de Vila Velha.
Profissional reconhecido e respeitado, Lovato era referência nacional na área de tecnologia. As investigações da Polícia Civil mostraram que o crime foi motivado por dinheiro.
De acordo com a polícia, Bruno Valadares, então diretor financeiro, teria desviado cerca de R$ 9 milhões de empresas do grupo comandado pela vítima. Preso há seis meses, Valadares nega ser o mandante.
“Ele passa, então, a colocar o dinheiro da empresa nessa conta, que era exclusivamente ele quem movimentava. Com quantias vultuosas nessa conta, ele começa a colocar e ele começa a passar dinheiro dessa conta para contas de empresas dele”, revelou o delegado Daniel Fortes, em agosto, quando foram concluídas as investigações.
Réu admite apenas o crime financeiro
Atrás das grades, Bruno Valadares tenta provar a inocência e conseguir a liberdade. Uma tese levantada pela defesa, mas já descartada pela polícia, é a de que o crime tenha sido passional. Segundo o advogado Jonatas Pinho, Bruno Valadares confessou apenas ter cometido o crime fiscal.
“O que nós já estamos fazendo aqui é quebrar essa questão do Pix para mostrar que o meu cliente é inocente em relação ao crime de mando [da morte] do Wallace. Ele é culpado em relação ao desvio financeiro. Mas já digo de antemão, que era uma prática denominada ‘bola’ que ele, em vez de só de fazer e cumprir esses atos de pagamentos para essa abertura de portas, ele falou: ‘Vou fazer também.’ Esse foi o erro do meu cliente.”
Confira a entrevista do advogado de Bruno Valadares à TV Vitória:
Polícia detalhou função de cada suspeito no crime
Durante a apuração, a polícia mostrou que a morte de Wallace envolveu uma estrutura criminosa organizada, com divisão clara de funções. Quatro pessoas foram presas. Eferson Ferreira Alves seria um intermediador.
Já Arthur Laudevino Candeias Luppi seria, segundo as investigações, o jovem que dirigiu o carro até o local do crime. Ele teria transportado Arthur Neves de Barros, o pistoleiro que executou o empresário. Bruno Valadares, que seria o mandante, também está preso.
Entenda a fase do processo
A audiência de instrução e julgamento é uma fase que antecede o julgamento do Tribunal do Júri, usado em casos de crimes contra a vida. Nessa etapa, o juiz reúne depoimentos de testemunhas, esclarecimentos de peritos e o interrogatório do réu e encaminha o processo para decisão.
*Com informações da repórter Suellen Araújo, da TV Vitória/Record.